quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Do Maracanã para o mundo

Flamengo, campeão mundial de 1981
Flamengo (1978 - 1983)

Em cada posição, um craque. Esta foi a receita que levou o Flamengo a se tornar o maior time que o Brasil viu jogar na virada dos anos 70. O Brasil e o mundo.

Foram quatro Campeonatos Cariocas (1978, 1979, o Especial de 1979 e 1981), três Brasileiros (1980, 82 e 83), uma Libertadores da América (1981) e um Mundial Interclubes (1981). A construção do time começou pelas mãos do técnico Cláudio Coutinho.

O Mengo contava com Zico, o maior craque hrasileiro de então, o goleiraço Raul e o zagueiro Rondinelli. Nos anos seguintes surgiram Júnior, Leandro, Mozer, Adílio, das divisões inferiores. Mas o clube não descuidou das contratações. A mais frutífera foi a do centroavante Nunes. o artilheiro das decisões.

Das inúmeras batalhas vencidas pelos rubro-negros, duas marcaram: sobre o violento Cobreloa, do Chile, na decisão da Libertadores (2 a O), e sobre o Liverpool (Inglaterra), 3 a O na decisão do Mundial Interclubes.

Raul Plasmann, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade, Tita, Adílio, Nunes, Zico e Lico.

Tri da alegria

O esquadrão que deu o primeiro tricampeonato ao Flamengo (1942-1944) reunia o que de melhor o futebol brasileiro havia produzido até então. Na zaga, a técnica de Domingos Da Guia; no meio-campo imperava o jogador mais completo antes do surgimento de Pelé, Zizinho; e no ataque havia Leônidas da Silva. Durante os três anos de campanha, Leônidas e Domingos dariam lugar a Silvio Pirillo e Quirino. Mas nada que pudesse atrapalhar o tricampeonato. Confira o timaço: Jurandir; Domingos Da Guia (Quirino) e Nilton; Biguá, Bria e Jaime; Valido. Zizinho, Leônidas (Pirillo), Perácio e Vevé.

Fonte: Revista Placar.
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O homem que virou ele


Temos um amigo cigarra... Até aí tudo normal, como dizem os anormais. Mas é que esse amigo cigarra, no seu próprio entender, prevaricou. E prevaricou no violento. Imaginem vocês que, bastou que a "outra" (vejam vocês que monstro de cigarra, chama a esposa de "a outra")... bastou que "a outra" subisse para Petrópolis para ele alugar quarto num hotel muito bonzinho que tem portaria compreensiva.

Vocês estão seguindo o nosso raciocínio? Pois vamos em frente: de posse da chave do novo lar sumiu da residência oficial e foi à vida, se organizando em outras corriolas, muito sobre o animado, esquecido que mulher esposa é mulher bem informada, não somente pelo muito que investiga (com honrosas exceções), como também pelo muito de informativas que são as pessoas amigas, cujas gostam é de ver fogo na giranda do doutor.

Ainda estão nos acompanhando? Muito bem. Sigamos: a mulher soube, talvez antes que ele, do caso com a mariposa do luxo e do prazer — como diria o poeta... Sabem como é, marido é como boi solto, que se lambe todo.

Com quarto em hotel condescendente, com a mulher em Petrópolis, choveu moçoila. . .

Uma noite no "Hi-Fi", outra no "Drink", uma ida à Barra da Tijuca no carro de outro cigarra, para a clássica intoxicação com camarão, e lá se foi ele a simpatizar mais com esta do que com aquela até que... pimba — ficou de cacho.

Como, minha senhora? O que vem a ser "ficar de cacho"? É ficar sob o signo da amigação. A senhora desculpe, mas a forma grosseira de expressão foi para esclarecer melhor.

Um homem de cacho com mulher em Petrópolis não vai em casa nem para trocar de roupa. Dá uma única passada no lar, apanha um bolo de camisas, outro tanto de meias, pega o terno claro para quando não chover e o azul-marinho para quando chover e esquece de mudar a água do canário.

Tudo num táxi, parte feroz para o hotel mais camarada pouquinha coisa. Vanja vai, vanja vem, esquece até de subir para Petrópolis no fim-de-semana. Isto é imperdoável mesmo no pior dos cigarras e, no entanto, aconteceu com esse nosso amigo.

Resultado: passou o carnaval, veio a época do colégio das crianças e "a outra" se despencou serra abaixo, sabendo de tudo, inclusive com uma capa da revista Mundo Ilustrado, onde ele aparece de braços abertos para a objetiva, fantasiado de baiana rica.

Agora ele se despediu da mariposa do luxo e do prazer (jurou-nos que era um encanto de moça e não aceitou nem as duas notas de mil que ofereceu para calçar a saudade), pagou o hotel de porteirinho cego e retornou ao lar.

— Você não imagina o vexame. Lá ninguém fala comigo. O canário morreu de sede, ou de fome... sei lá. O cachorro, aquele desgraçado, que eu curei de bronquite, está me esnobando. Quando eu passo ele não levanta nem o focinho. Limita-se a abrir um olho... um olho de reprovação que me dá calafrios. Minha filha está muda.

— E sua mulher? — indagamos.

— Essa me chama de ele.

— Chama de quê?

— De ele. Se o almoço está na mesa, ela diz pra empregada: "avise a ele". Se o telefone toca, é a própria empregada que atende e diz pra minha mulher: "é para ele". Virei "ele" em minha própria casa.

Coitado do nosso amigo. Badalou muito. Agora agüente. Nisto de conseqüências, estamos com Tia Zulmira, quando disse: "Passarinho que come pedra, sabe o que advém".
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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História do passarinho


O que vocês passarão a ler é um lindo conto escrito por Tia Zulmira, nossa veneranda parenta e conselheira. Trata-se de obra para a literatura infantil, à qual a sábia e experiente senhora vem se dedicando agora, após o convite para participar de um concurso de histórias infantis promovido por um programa de televisão.

Cremos que não é necessário acrescentar que a boa senhora tirou o primeiro lugar. Mas, passemos ao conto:

"Era uma vez uma mocinha muito bonita, que morava num lugar chamado Copacabana. Era uma mocinha muito prendada e com muito jeito para as coisas. Estudiosa e obediente, freqüentava sempre o programa de César de Alencar, ia ao Bobs e adorava cuba-libre. Lia muito e gostava, principalmente, da Revista do Rádio e da Luta Democrática.

Todos elogiavam a beleza da mocinha. Ela tinha cara bonita, olhos bonitos, pele bonita, corpo bonito, pernas bonitas, figura bonita. Era toda bonita. Apesar disso, não era feliz, a mocinha. Ela sonhava com uma coisa, desde pequena — queria entrar para o teatro. Sua mãe sempre dizia que não valia a pena, que ela podia ser feliz de outra maneira, mas não adiantava. O sonho da mocinha bonita era entrar para o teatro. Só pensava nisso e colecionava fotografias de Virgínia Lane, Sofia Loren, Nelia Paula e Marilyn Monroe.

Um dia, a mocinha estava muito triste, porque não conseguia ver realizado o seu ideal, quando um passarinho chegou perto dela e perguntou:

— Por que é que você está triste, mocinha? Você é tão bonita. Não devia ser triste.

— Eu estou triste porque quero entrar para o teatro e não consigo — respondeu a mocinha.

O passarinho riu muito e disse que, se fosse só por isso, não precisava ficar triste. Ele havia de dar um jeito. E de fato, no dia seguinte, passou voando pela janela do quarto da mocinha e deixou cair um bilhetinho que trazia no bico. Era um bilhetinho que dizia: Fila 4, Poltrona 16.

A mocinha foi e num instante conheceu o empresário do teatro que, ao vê-la, se entusiasmou com sua beleza. Foi logo contratada, e já nos primeiros ensaios, todos elogiavam seu desembaraço. Ela ensaiou muito, mas não contou nada pra mãe dela.

Somente na noite de estréia é que, antes de sair, chegou perto da mãe e contou tudo. A mãe ficou triste ao ver a filha partir para o estrelato, mas ela estava tão feliz que não a quis contrariar.

E foi bom porque a sua filha fez sucesso. Foi muito ovacionada; todo mundo aplaudiu. Ela voltou para casa contentíssima e, quando ia metendo a chave no portão, ouviu uma voz dizer:

— Meus parabéns. Você é um sucesso.

Aí ela olhou pro lado, espantada e viu o passarinho que a ajudara, pousado numa grade. Ela notou que o passarinho dissera aquilo em tom amargo e quis saber:
   
— Passarinho, você agora é que está triste. Por quê?

Foi aí que o passarinho explicou que não era passarinho não. Era um príncipe encantado, que uma fada má transformara em passarinho.

— Oh, coitadinho! — exclamou a mocinha que acabara de estrear com tanto sucesso. — O que é que eu posso fazer por você?

O passarinho então contou o resto do encantamento. A fada má fizera aquilo com ele só de maldade. Para ele voltar a ser príncipe outra vez, era preciso que uma mocinha bonita e feliz o levasse para sua casa e o colocasse debaixo do travesseiro. No dia seguinte o encanto findava.

— Mas eu sou uma mocinha feliz. E foi você mesmo, passarinho, que disse que eu era bonita. Você e todo mundo.

E dizendo isso, apanhou o passarinho e entrou em casa com ele. Ajeitou-o bem, debaixo do travesseiro e, cansada que estava das emoções do dia, adormeceu.

No outro dia de manhã aconteceu tal e qual o passarinho dissera. Quando a mocinha acordou havia um lindo rapaz deitado a seu lado. Era o príncipe.

Esta, pelo menos, foi a história que a mocinha contou pra mãe dela, quando a velha a encontrou de manhã, dormindo com um fuzileiro naval.

Que, aliás, só não casou com a mocinha, porque já tinha um compromisso em Botafogo.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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