sábado, 11 de dezembro de 2010

La bela polenta

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"Quando se planta la bela polenta, la bela polenta / Se planta cosi. Se planta cosi / Oh!, oh!, oh!, bela polenta cossi / Tcha - tcha - pum. / Tcha - tcha - pum / Tcha - tcha - pum -tcha- tcha- pum / Quando se cresce la bela polenta, la bela polenta, / Se cresce cosi, se planta cosi, se cresce cosi." Itá-SC, 29/09/2010.
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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Futebol com maconha

Tem cara que é tricolor, tem cara que é vascaíno; uns torcem pelo Flamengo, outros pelo Botafogo. Mas, Primo Altamirando tinha que ser diferente: o miserável me confessou noutro dia que é torcedor do "Puxa Firme F.C.", Sociedade Recreativa do Morro do Queimado. Aliás, essa história foi ele que me contou.

Diz que 22 jogadores, mais técnico, massagista, enfermeiro do "Puxa Firme", não tem um que não seja apreciador da erva maldita. O preparo físico do time se resume numa rápida concentração, para puxar maconha. Em véspera de jogo a janela da sede, que fica no sobrado de um botequim, parece até incêndio: como sai fumaça!

No sábado passado, o técnico do time — um tremendo crioulo que atende pelo vulgo de Macarrão, deu o grito: "Olha cambada, amanhã nós tem que jogar comportado. Nós vai enfrentar o time do Padre Evaldo e é em benefício da Igreja."

Como Macarrão é muito respeitado ninguém chiou e no dia seguinte, no telheiro do campo, que a turma apelidou de vestuário, o time uniformizado contava com: Dentinho; Macaxeira, Bom Cabelo, Pau Preto e Lamparina; Melodia e Fubecada; Chaminé, Praga de Mãe, Porém e Parecido (tudo apelido, inclusive Parecido, porque fazia um sorriso igual ao do Sr. Juraci Magalhães sempre que acertava um).

Macarrão deu as instruções e perguntou: "Argum poblema?" Lamparina levantou o dedo e perguntou:

— "Que tipo de marcação que a gente vai usar?"

Macarrão pegou um papel de embrulho e deu uma de técnico formado. Traçou uns riscos e disse: "Marquemo por zona. É mais melhor".

O time saiu pro campo e com cinco minutos a turma do padre já tava dando de goleada. Macarrão berrava as instruções cheio de ódio. "Não intrapaia os beque, crioulo nojento". "Óia a marcação, desinfeliz". "Pára de fumar, Dentinho". E o time do Padre fazendo gol.

Quando já tava uns cinco a zero, Porém fingiu que mancava, chegou perto do telheiro e quis saber de Macarrão se podia apelar.

— "Apela pra sua mãe, semvergonho. Tá levando come aí prá todo lado. Arrespeita o time do Padre, que é tudo gente dereita".

Diz Primo Altamirando que o "Puxa Firme F.C." quando joga respeitando o adversário perde metade de sua estrutura técnica. O jogo acabou 8 x 0 e o piedoso sacerdote estava todo satisfeito, tendo mesmo se dado ao trabalho de ir cumprimentar o crioulo Macarrão, pela lisura com que seus atletas se comportaram durante a refrega.

— "Parabéns, senhor Macarrão" — disse o Padre — "Certas derrotas têm o gosto da vitória. Seu time jogou com muita esportividade. Só não entendi porque jogaram com dez".

— "Com dez???" - estranhou Macarrão - "Como é que eu não arreparei?"

Foi aí que Melodia, que era o capitão do time, esclareceu: "Pois é, o Lamparina não jogou. O senhor foi falar aí em marcação por zona. Sabe como é o Lampa. Não pode ouvir falar em zona que ele vai prá lá".

Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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domingo, 5 de dezembro de 2010

Divisão

Você poderá ficar com a poltrona, se quiser. Mande forrar de novo, ajeitar as molas. É claro que sentirei falta. Não dela, mas das tardes em que aqui fiquei sentado, olhando as arvores. Estas sim, eu levaria de bom grado : as árvores, a vista do morro, até a algazarra das crianças lá embaixo, na praça. 0 resto dos moveis — são tão poucos! — podemos dividir de acordo com nossas futuras necessidades.

A vitrola esta, tão velha que o melhor é deixá-la ai mesmo, entregue aos cuidados ou ao desespero do futuro inquilino. Tanto você quanto eu haveremos de ter, mais cedo ou mais tarde, as nossas respectivas vitrolas, mais modernas, dotadas de todos os requisitos técnicos e mais aquilo que faltou ao nosso amor: alta-fidelidade.

Quanto aos discos, obedecerão às nossas preferências. Você fica com as valsas, as canções francesas, um ou outro "chopinzinho", o Mozart e Bing Crosby. Deixe para mim o canto pungente do negro Armstrong, os sambas antigos e estes chorinhos. Aqueles que compartilhavam do nosso gosto comum serão quebrados e jogados no lixo. É justo e honesto.

Os livros são todos seus, salvo um ou outro com dedicatória. Não, não estou querendo ser magnânimo. Pelo contrario: Ainda desta vez penso em mim. Será um prazer voltar a juntá-los, um por um, em tardes de folga, visitando livrarias. Aos poucos irei refazendo toda esta biblioteca, então com um caráter mais pessoal. Fique com os livros todos, portanto. E conseqüentemente com a estante também.

Os quadros também são seus, e mais esses vasinhos de plantas. Levarei comigo o cinzeirinho verde. Ele já era meu muito antes de nos conhecermos. Também os dois chinesinhos de marfim e esta espátula. Veja só o que está escrito nela: 12-1-48. Fique com toda essa quinquilharia acidentalmente juntada. Sempre detestei bibelôs e, mais do que eles, a chamada arte popular, principalmente quando ela se resume nesses bonequinhos de barro. Com exceção,o de pote de melado e moringa de água, nada que foi feito com barro presta. Nem o homem.

Rasgaremos todas as fotografias, todas as cartas, todas as lembranças passíveis de serem destruídas. Programas de teatros, álbuns de viagens, souvenirs. Que não reste nada daquilo que nos é absolutamente pessoal e que não possa ser entre nos dividido.

Fique com a poltrona, seus discos, todos os livros, os quadros, esta jarra. Eu ficarei com estes objetos, um ou outro móvel. Tudo está razoavelmente dividido. Leve a sua tristeza, eu guardarei a minha.

Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) — A casa demolida — Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1968, pág. 201.
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