domingo, 12 de junho de 2011

Não sou uma qualquer!

Ela notou que ele estava meio bronqueado por causa das respostas monossilábicas que dava às suas per­guntas. Conhecia-o muito bem. Quando ele ficava emburrado para falar é porque estava com minhoca na cuca.

— Que é que há, meu bem? Você está meio chateado! Ele não respondeu logo. Meteu um suspensezinho legal, puxando uma tragada forte do cigarro. Depois ca­minhou até o armário da sala, tirou uma garrafa de uísque e deu aquele gole prolongado no mais belo e ultrapassa­do estilo Humphrey Bogart. Depois sentou-se na poltro­na, cruzou as pernas e disse:

— ... É andaram me buzinando aí umas coisas.

— A meu respeito? — e ela espalmou a mão sobre o cobiçado busto.

Novo silêncio, e a distinta, muito preocupada, levan­tou-se de onde estava e foi se aninhar no colo dele. Fez vozinha de criança:

— Meu queridinho, conta pra ela, vá! Deve ser mais uma fofoca dessa gente, mas é melhor você contar logo pra ela, sabe? Assim a gente tira logo as dúvidas. Não gosto de ver o meu querido zangado não - e começou a enfi­ar os dedos esguios e bem tratados pelos cabelos dele.

O cara suspirou, todo despenteado, e foi soltando o que tinham contado pra ele. Tinha sido na noite de apre­sentação do Charles Aznavour, no Copacabana Palace, a mais recente badalação de grã-fino com renda para ex­cepcionais. Agora a moda é esta: tudo o que é festa de grã-fino é para dar renda para excepcionais, pois ninguém é mais excepcional do que um grã-fino.

Ela tinha ido à tal apresentação do cantor francês e fizera muito sucesso. A Léa Maria deu até uma nota no Caderno B, dizendo que ela estava um show. De fato (enquanto ele falava ela ia se recordando), o seu vestido opart, com mini-saia, foi um sucesso. Era daquela saia que, quando a mulher senta, a saia some e aparece o que a saia tinha obrigação de fazer sumir. Um fenômeno da eleva­ção dos costumes — como diz a veneranda Tia Zulmira.

— Me disseram que você flertou a noite toda — o cara falou.

Ela esticou-se, ainda sentada em suas pernas. Outra vez a mão espalmada sobre o cobiçado busto:

- Eu ???

Ele ratificou. Ela mesma. Tinham contado pra ele que ela dançara de rosto colado com um tal de Collatini.

— Cola aonde? — perguntou ela.

— Collatini.

Ela ficou indignada. De fato, os Collatini, de São Pau­lo, estavam na mesa dela, mas isto era uma infâmia. Imagi­nem, logo quem? O Collatini, aquele velhote. De maneira nenhuma. De mais a mais, a Bequinha, mulher do Collati­ni, era sua amiga de infância. Essa gente é assim mesmo. Quando não tem nada para comentar sobre uma mulher... inventa. Dela eles não podiam dizer nada, tá bem? Absolutamente nada.

Nunca deu margem para falatório nenhum. Pelo contrário: procurava se portar em público — aliás, procurava se portar em qualquer lugar, ora esta! - com a máxima dignidade, justamente por isso. Porque sabia que essa gente de sociedade é fogo; não pode ver uma mulher bonita fora da panelinha desses cretinos, que começa logo a tentar descobrir coisas, para fazer dos outros gente igual a eles. É isto mesmo: falam só para justificar a vida que levam, esses amorais. Mas com ela não.

— Comigo não — repetia indignada: — Eu não sou uma qualquer!

Ele, impressionado com a reação dela, puxou-a para o seu regaço. Deu-lhe mais um beijo e falou baixinho que sabia disso, sabia que ela não era uma qualquer.

Pouco depois ela se levantava do colo dele, ia até o banheiro: ajeitou-se, pintou-se e de lá mesmo perguntou:

— Meu be-em! Que horas são?

— Quase seis! — respondeu o cara.

Ela veio espavorida lá de dentro, deu-lhe um beiji­nho rápido, apanhou uns embrulhinhos de compras que deixara sobre a mesa, quando chegara, e despediu-se:

— Tchau, querido! Deixa eu correr se não meu mari­do me mata!

E foi embora.

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Por:  Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Interpraias

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Praia do Estaleiro - Bal. Camboriú SC - 05/06/2011

Inaugurada oficialmente em julho de 2001, a Linha de Acesso às Praias – Interpraias – é mais um dos grandes atrativos turísticos de Balneário Camboriú.

A rodovia interliga o Bairro da Barra, passando as praias de Laranjeiras, Taquarinhas, Taquaras, Pinho, Estaleiro e Estaleirinho num total de 16,5 quilômetros de paisagem agreste onde o azul cristalino do mar contrasta com o verde de suas montanhas, cobertas por uma densa mata atlântica.

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Essa estrada foi asfaltada há menos de 3 anos e só recentemente está sendo descoberta pelos turistas. Um lugar que seguramente será reservado à construção de condomínios residenciais de alto padrão e empreendimentos turísticos para os amantes da natureza. Várias famílias, muitas de outros países, têm escolhido esse lugar para construir suas residências e ali morar.

Indo de Itapema no sentido Balneário Camboriú a primeira praia chama-se Estaleirinho. É uma praia de areias grossas, ondas não muito fortes, mas que afunda rapidamente. Possui uma população residente e bons restaurantes e pousadas.

Na praia do Estaleiro (fotos abaixo) predominam casas e bons condomínios residenciais. É a praia preferida por famílias européias que têm construído casas nas encostas do morro (até onde a legislação permite), desfrutando de uma vista paradisíaca.

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A Praia do Pinho foi a primeira praia de naturismo do Brasil, sendo conhecida internacionalmente. É cercada por costões que impedem de ser visualizada, e por ser uma praia de nudismo seu acesso é bastante controlado. Possui pousada e camping, além de bar e restaurante.

A seguir a Praia de Taquarinhas, uma praia praticamente virgem onde deve ser construído um empreendimento turístico de alto padrão. Possui uma extensão de 600 metros, com areias grossas e águas cristalinas.

Taquaras é a praia mais extensa, com 1150 metros de extensão. Possui uma população nativa de pescadores, que aos poucos vai cedendo lugar a casas de luxo, pousadas, bares e restaurantes.

Laranjeiras, a praia mais próxima de Balneário Camboriú (fotos abaixo), possui uma estação de bondinhos aéreos que conduz a um passeio com vista deslumbrante de toda região.É freqüentada por banhistas e tem vários bares e restaurantes. Possui um trapiche onde atracam barcos e é bastante usada para a prática de esportes náuticos.

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segunda-feira, 6 de junho de 2011

A charneca

Então, na esperança vã de me livrar do tormento de amar-te, adormeci um pouco. E se digo vã, amor, é porque logo fiquei a sonhar contigo, a te dizer quanto vai em mim de amor, doce, terno, perdido amor às vezes; candente, nervoso, incontido amor, tantas vezes.

Oh os sonhos de amor, querida! Nele eras tão outra, tão Julieta, tão Isolda, tão Marília. E eu tão o Romeu do segundo ato, tão o Tristão da primeira ária, tão o Dirceu de antes do desterro!

Vinhas lentamente para os meus braços ansiosos, terna e eterna, simples e definitiva, como o barco que parte para o naufrágio. Tu, mulher que já caminhavas para mim, antes mesmo do dia em que te conheci. Para mim, que vivia na certeza de que de algum lugar virias, imponderável, como soem ser os destinos do amor.

No sonho, sorríamos, no sonho éramos nós dois para sempre e um dia. Tu, esquecida de tantas ingratidões, eras o mais puro dos pecados. Eu, vivendo o momento em que o homem prova a si mesmo ter um pouco de eternidade, olvidava antigos dissabores, as noites sofridas, as lágrimas caídas, a dor.

E tão glorioso fiquei, que em mim couberam todas as glórias, abateram-se sobre minha cabeça todos os hinos, e se Beethoven eu fosse, passaria, num átimo, da "Patética" à "Heróica". Que incontida alegria! Desprendí-me de ti e saí a correr pela charneca.

Na verdade eu nem sei o que é charneca, mas isto fica bacana pra burro, em romance inglês.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).


Fonte: Texto extraído do livro "Primo Altamirando e Elas", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1962, pág. 200.
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