Quem me conta esta história jura que é verdadeira. Aconteceu numa cidade fluminense e criamos logo um nome para não ferir suscetibilidades — Ibiraba.
Uma noite lá esteve uma companhia teatral dirigida pelo Mário Brazini. Representou determinada peça e, ao final do último ato, o pano fechou e estava o Brazini em seu camarim, tirando a maquilagem, quando entrou o Louzadinha, também ator da companhia.
— Brazini, o público não foi embora — informou ele.
— Como não foi? — estranhou o Brazini.
— Eles devem estar pensando que a peça não acabou — disse Louzadinha.
— Então vai lá e diz que acabou, ué. Louzadinha foi, botou a cabeça para fora do pano e sua cabeça foi recebida com palmas. A cabeça agradeceu e Louzadinha entrou no palco de corpo inteiro para explicar que já tinha acabado. Dito isto, um cara levantou o braço, que nem menino de colégio, quando quer fazer pergunta ao professor. E era uma pergunta mesmo. Queria saber se determinado personagem tinha casado com a mocinha. Louzadinha explicou que não, por isso assim-assim. E outras perguntas vieram. Louzadinha teve que explicar tudo. Quando não havia mais perguntas, o público de Ibiraba bateu palmas e foi embora.
Para que não ocorresse de novo tal vexame, Mário Brazini usou de um expediente que considerou genial: contava o ocorrido antes do espetáculo. Por exemplo: chegava em Vitória da Conquista e dizia:
— Povo de Vitória da Conquista, aqui não vai acontecer isto, pois o distinto público é muito inteligente. Mas imaginem vocês que em Ibiraba aconteceu... e contava o episódio.
O público caía na gargalhada e o espetáculo começava, chegando ao final sem maiores problemas. Foi aí que a Cia. chegou numa cidade que chamaremos de Jurupoca, por causa das tais suscetibilidades. Na noite de estréia, Brazini foi pro palco e lascou:
— Povo juropoquense, um povo inteligente. Graças a Deus, porque senão poderia acontecer aqui o que nos aconteceu em Ibiraba. Imaginem vocês que em Ibiraba, quando nós apresentamos esta peça... E contou a história.
Ninguém riu. Ficou tudo parado, olhando pro Brazini. Foi aí que o ator Milton Carneiro, que estava nos bastidores, sussurrou pro Brazini:
— Chi, Brazini. Deste uma mancada. Isto aconteceu aqui, na semana passada, com a Cia. do Procópio!
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Uma noite lá esteve uma companhia teatral dirigida pelo Mário Brazini. Representou determinada peça e, ao final do último ato, o pano fechou e estava o Brazini em seu camarim, tirando a maquilagem, quando entrou o Louzadinha, também ator da companhia.
— Brazini, o público não foi embora — informou ele.
— Como não foi? — estranhou o Brazini.
— Eles devem estar pensando que a peça não acabou — disse Louzadinha.
— Então vai lá e diz que acabou, ué. Louzadinha foi, botou a cabeça para fora do pano e sua cabeça foi recebida com palmas. A cabeça agradeceu e Louzadinha entrou no palco de corpo inteiro para explicar que já tinha acabado. Dito isto, um cara levantou o braço, que nem menino de colégio, quando quer fazer pergunta ao professor. E era uma pergunta mesmo. Queria saber se determinado personagem tinha casado com a mocinha. Louzadinha explicou que não, por isso assim-assim. E outras perguntas vieram. Louzadinha teve que explicar tudo. Quando não havia mais perguntas, o público de Ibiraba bateu palmas e foi embora.
Para que não ocorresse de novo tal vexame, Mário Brazini usou de um expediente que considerou genial: contava o ocorrido antes do espetáculo. Por exemplo: chegava em Vitória da Conquista e dizia:
— Povo de Vitória da Conquista, aqui não vai acontecer isto, pois o distinto público é muito inteligente. Mas imaginem vocês que em Ibiraba aconteceu... e contava o episódio.
O público caía na gargalhada e o espetáculo começava, chegando ao final sem maiores problemas. Foi aí que a Cia. chegou numa cidade que chamaremos de Jurupoca, por causa das tais suscetibilidades. Na noite de estréia, Brazini foi pro palco e lascou:
— Povo juropoquense, um povo inteligente. Graças a Deus, porque senão poderia acontecer aqui o que nos aconteceu em Ibiraba. Imaginem vocês que em Ibiraba, quando nós apresentamos esta peça... E contou a história.
Ninguém riu. Ficou tudo parado, olhando pro Brazini. Foi aí que o ator Milton Carneiro, que estava nos bastidores, sussurrou pro Brazini:
— Chi, Brazini. Deste uma mancada. Isto aconteceu aqui, na semana passada, com a Cia. do Procópio!
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora