quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Science fiction

Conde, um município distante de Salvador (BA), foi abalado em seu sossego quando — de repente, não mais que de repente — como diz aquele soneto de Vinícius de Morais, surgiu boiando em seu céu um estranho objeto.

Nos últimos anos, irmãos, objeto no céu não identificado é disco-voador. Aliás, minto... primeiro é satélite, depois é satélite tripulado por gente que está dentro dele e em terceiro então é que vem disco-voador, passando a coisa a se complicar daí por diante.

As primeiras notícias chegadas a Salvador diziam que, em Conde, caíra um satélite, o que alvoroçou muito baiano e — acredito — quem não tinha o que fazer deu um pulinho a Conde, distante quatro horas de automóvel da capital. Os que não foram na primeira leva devem ter ficado arrependidos, porque pouco depois vinham notícias frescas — no bom sentido, evidentemente — contando que era um satélite tripulado.

Quer dizer: satélite com gente dentro. Daí por diante — se não tivesse ocorrido um pequeno detalhe que deixo para relatar no fim, para não estragar a jocosidade que possa ter este escrito, — daí por diante, repito, os telegramas só tendiam a piorar.

Povo adora novidade e quem conta um conto aumenta um ponto (esta frase não é de Tia Zulmira mas também é boazinha). Primeira notícia: um satélite. Segunda notícia: um satélite tripulado. Ora, dariam fatalmente a terceira notícia, já de Salvador, para o Rio, explicando que era disco-voador de procedência ignorada, que despencara do Céu, fazendo vítimas. Principalmente este pedacinho final, para dar dramaticidade: fazendo vítimas.

O telegrama seguinte já seria do Brasil para o mundo: num pacato lugar do Estado da Bahia (Brasil) um ser estranhíssimo saltara de uma aeronave espacial de estranho formato e tentara entrar em contato com o povo da localidade, desistindo logo de seu intento e voltando para a nave, que subiu e desapareceu no espaço.

Não duvidem, por favor, da possibilidade de, após a expedição desse dramático telegrama, as agências telegráficas do Brasil começarem a receber mensagens do exterior, perguntando se a imensa frota de discos--voadores que descera "em um ponto qualquer do Brasil" tinha causado algum dano. E, de telegrama em telegrama, eu não dava 24 horas para jornais dos mais distantes lugares publicarem em manchete: "Marcianos invadem a Terra".

E depois o noticiário: "Desembarcaram em Bahia, Argentina, milhares de marcianos, causando mortes, incêndios, desmoronamentos, arrasando enfim com o lugar, desaparecendo em seguida, provavelmente para novos ataques".

Felizmente, nada disso aconteceu. Havia um sujeito ponderado em Conde, Salvador (BA), que olhou para o objeto e explicou: — isto aí é um balão de sondagem atmosférica do Serviço de Meteorologia, extraviado pelo vento.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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O discurso

Na esquina que tem a igreja, o homem parou, fumando um baita charutão. Eu casualmente olhava para ele, talvez mais atento ao charuto do que ao fumante, pois ele, realmente, largava uma fumaça danada. Foi quando o homem tirou o charutão da boca e berrou:

— Meus amigos: o povo é burro. Burro e ignorante. Todo aquele que for povo é um coitado. Eu sou um coitado... você é um coitado — apontou para um velhote gordinho que passava e o velhote ficou meio chateado de ser coitado, fez uma ameaça de responder, mas depois continuou seu caminho, balançando a cabeça e rindo.

O cara prosseguiu: — E o povo, acima de tudo, serve de teta para eles mamarem.

Isto ele disse para uma senhora rotunda que passava muito digna, a carregar as suas banhas. Fiquei com medo de que ele apontasse para a gorda e dissesse: — A senhora é teta... — mas não, seguiu a senhora o seu caminho e ele o seu inflamado discurso.

— Quem fala em nome do povo é safado. Todo cretino que levanta a voz, seja onde for, dizendo-se representante do povo, emissário do povo, ou povo propriamente dito, é um cretino... Ninguém quer ser Povo, meus amigos. A pessoa pode sair do povo, mas voltar ao povo não quer. E quem diz que quer é cretino.

Puxou uma "big" fumaçada do charutão. Expeliu a fumaça com violência e seguiu em frente:

— Qual é o sujeito que, tendo saído do povo e se tornado mais do que um simples elemento do povo, quer voltar a se integrar ao povo? Ninguém... porque ninguém é besta de andar pra trás. Por isso, é uma mentira, quando certos exploradores do povo vêm com essa conversa de que falam pelo povo. Falam nada... eles estão querendo é se arrumar mais ainda, para ficar mais distantes ainda do povo.

Nesta altura já tinha juntado gente. Todos os semblantes tinham pendurado nas bocas — à guisa de decoração — um sorriso de gozação. Ele deu uma mirada em volta e largou mais brasa:

— São todos eles umas bestas. É humano, normal, ainda que lamentável, que aquele que saiu fora do povo não queira voltar a ele. E isto eu garanto que ninguém quer. Representante do povo não existe, meus amigos... Quem se diz representante do povo não é povo...

— Então o que é? — perguntou um rapazote, em meio a um grupo que ouvia.

— Eu sei lá o que é... mas povo toma! que ele é (e largou o maior gesto obsceno, hoje muito difundido pelo cinema neo-realista italiano)...

A turma foi se mandando. Um disse que o orador era doido. Alguém discordou e começou uma discussão. Mas isto não importa. Fosse doido ou não o orador, o que eu sei é que o seu discurso foi o mais sensato discurso político que eu já ouvi até hoje.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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domingo, 29 de janeiro de 2012

Pequeno Dicionário dos Esportes - Parte II

Alpinismo - Brincar de bondinho do Pão de Açúcar sem bondinho.

Beisebol - Esporte onde muitos americanos são yankees e muitos brasileiros são japoneses.

Basquete - Cinco homens à procura de um cesto.

Boxe - Onde fica provado que dar é melhor do que receber.

Caça - Só deve ser praticada no dia do caçador.

Corrida de Cavalo - Esporte onde os cavalos ganham e os burros perdem.

Esqui - Utiliza-se neve, dois bastões, dois pedaços de madeira, uma boa colina e algumas fraturas.

Futebol - Jogo composto de 22 jogadores, dois técnicos, uma bola, um campo, dois bandeirinhas, um árbrito e duas torcidas, que geralmente não simpatizam com a progenitora do árbitro.

Pesca - Um homem de um lado e um peixe do outro. Geralmente os peixes têm o dom de crescer seis ou sete vezes de tamanho, do momento em que são pescados até a hora em que são descritos aos amigos.

Remo - Esporte em que o seu braço é a gasolina do barco.

Tiro ao Alvo - Forma dificílima de detetização. Com uma bala, você tem que acertar na mosca.

Xadrez - O jogo predileto dos banqueiros. Sem o cheque não há o mate.

Fonte: Orkut.
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