Conde, um município distante de Salvador (BA), foi abalado em seu sossego quando — de repente, não mais que de repente — como diz aquele soneto de Vinícius de Morais, surgiu boiando em seu céu um estranho objeto.
Nos últimos anos, irmãos, objeto no céu não identificado é disco-voador. Aliás, minto... primeiro é satélite, depois é satélite tripulado por gente que está dentro dele e em terceiro então é que vem disco-voador, passando a coisa a se complicar daí por diante.
As primeiras notícias chegadas a Salvador diziam que, em Conde, caíra um satélite, o que alvoroçou muito baiano e — acredito — quem não tinha o que fazer deu um pulinho a Conde, distante quatro horas de automóvel da capital. Os que não foram na primeira leva devem ter ficado arrependidos, porque pouco depois vinham notícias frescas — no bom sentido, evidentemente — contando que era um satélite tripulado.
Quer dizer: satélite com gente dentro. Daí por diante — se não tivesse ocorrido um pequeno detalhe que deixo para relatar no fim, para não estragar a jocosidade que possa ter este escrito, — daí por diante, repito, os telegramas só tendiam a piorar.
Povo adora novidade e quem conta um conto aumenta um ponto (esta frase não é de Tia Zulmira mas também é boazinha). Primeira notícia: um satélite. Segunda notícia: um satélite tripulado. Ora, dariam fatalmente a terceira notícia, já de Salvador, para o Rio, explicando que era disco-voador de procedência ignorada, que despencara do Céu, fazendo vítimas. Principalmente este pedacinho final, para dar dramaticidade: fazendo vítimas.
O telegrama seguinte já seria do Brasil para o mundo: num pacato lugar do Estado da Bahia (Brasil) um ser estranhíssimo saltara de uma aeronave espacial de estranho formato e tentara entrar em contato com o povo da localidade, desistindo logo de seu intento e voltando para a nave, que subiu e desapareceu no espaço.
Não duvidem, por favor, da possibilidade de, após a expedição desse dramático telegrama, as agências telegráficas do Brasil começarem a receber mensagens do exterior, perguntando se a imensa frota de discos--voadores que descera "em um ponto qualquer do Brasil" tinha causado algum dano. E, de telegrama em telegrama, eu não dava 24 horas para jornais dos mais distantes lugares publicarem em manchete: "Marcianos invadem a Terra".
E depois o noticiário: "Desembarcaram em Bahia, Argentina, milhares de marcianos, causando mortes, incêndios, desmoronamentos, arrasando enfim com o lugar, desaparecendo em seguida, provavelmente para novos ataques".
Felizmente, nada disso aconteceu. Havia um sujeito ponderado em Conde, Salvador (BA), que olhou para o objeto e explicou: — isto aí é um balão de sondagem atmosférica do Serviço de Meteorologia, extraviado pelo vento.
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Nos últimos anos, irmãos, objeto no céu não identificado é disco-voador. Aliás, minto... primeiro é satélite, depois é satélite tripulado por gente que está dentro dele e em terceiro então é que vem disco-voador, passando a coisa a se complicar daí por diante.
As primeiras notícias chegadas a Salvador diziam que, em Conde, caíra um satélite, o que alvoroçou muito baiano e — acredito — quem não tinha o que fazer deu um pulinho a Conde, distante quatro horas de automóvel da capital. Os que não foram na primeira leva devem ter ficado arrependidos, porque pouco depois vinham notícias frescas — no bom sentido, evidentemente — contando que era um satélite tripulado.
Quer dizer: satélite com gente dentro. Daí por diante — se não tivesse ocorrido um pequeno detalhe que deixo para relatar no fim, para não estragar a jocosidade que possa ter este escrito, — daí por diante, repito, os telegramas só tendiam a piorar.
Povo adora novidade e quem conta um conto aumenta um ponto (esta frase não é de Tia Zulmira mas também é boazinha). Primeira notícia: um satélite. Segunda notícia: um satélite tripulado. Ora, dariam fatalmente a terceira notícia, já de Salvador, para o Rio, explicando que era disco-voador de procedência ignorada, que despencara do Céu, fazendo vítimas. Principalmente este pedacinho final, para dar dramaticidade: fazendo vítimas.
O telegrama seguinte já seria do Brasil para o mundo: num pacato lugar do Estado da Bahia (Brasil) um ser estranhíssimo saltara de uma aeronave espacial de estranho formato e tentara entrar em contato com o povo da localidade, desistindo logo de seu intento e voltando para a nave, que subiu e desapareceu no espaço.
Não duvidem, por favor, da possibilidade de, após a expedição desse dramático telegrama, as agências telegráficas do Brasil começarem a receber mensagens do exterior, perguntando se a imensa frota de discos--voadores que descera "em um ponto qualquer do Brasil" tinha causado algum dano. E, de telegrama em telegrama, eu não dava 24 horas para jornais dos mais distantes lugares publicarem em manchete: "Marcianos invadem a Terra".
E depois o noticiário: "Desembarcaram em Bahia, Argentina, milhares de marcianos, causando mortes, incêndios, desmoronamentos, arrasando enfim com o lugar, desaparecendo em seguida, provavelmente para novos ataques".
Felizmente, nada disso aconteceu. Havia um sujeito ponderado em Conde, Salvador (BA), que olhou para o objeto e explicou: — isto aí é um balão de sondagem atmosférica do Serviço de Meteorologia, extraviado pelo vento.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975