quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Careca, o craque mundial

Careca fez parte daquela linhagem de centroavantes técnicos que conjugavam o excelente domínio de bola com um estupendo faro de gol. Por isso, era considerado um dos mais habilidosos artilheiros do futebol brasileiro em todos os tempos. Sua sina de marcar gols se fez presente logo na estréia profissional, em 1978, quando, com apenas 17 anos, conquistou o Campeonato Brasileiro pelo Guarani, inclusive marcando o gol da vitória na decisão contra o Palmeiras. Passou pelo São Paulo, conquistando mais títulos, sendo artilheiro do Brasileiro de 1986, com 23 gols. Deixou o país e formou a dupla infernal com Maradona no Napoli da Itália. Jogou as Copas de 1986 (eleito o melhor centro-avante) e 1990.

Antonio de Oliveira Filho, mais conhecido como Careca, nasceu em Araraquara, SP, em 5 de outubro de 1960 e atualmente é comentarista esportivo da RedeTV. A razão do seu apelido é que ele era fã do palhaço Carequinha.

Começou sua história em sua cidade natal, no interior de São Paulo. Da geração de Lavinho, Carlos Henrique, Peligão, e tantos outros nomes de respeito no futebol amador de Araraquara, foi ganhando respeito por sua qualidade acima da média em fazer gols.

Logo chamou atenção dos grandes de São Paulo, e foi aí que iniciou sua carreira. O Guarani, de Campinas, em 1978, abriu as portas para o atacante. Foi campeão brasileiro no mesmo ano, tendo marcado o gol do título. Com sua velocidade e sua habilidade de finalização, rapidamente firmou-se como um dos melhores jovens artilheiros do país. Foi contratado pelo São Paulo em 1983 para substituir Serginho Chulapa, após ter se recuperado de uma contusão que o fez perder a Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

Foi durante a Copa do Mundo de 1986, no México, que Careca realmente se estabeleceu no futebol mundial. Ele terminou o torneio, durante o qual o Brasil foi eliminado pela França nas quartas-de-final, com cinco gols, colocando-o em segundo no ranking da Chuteira de Ouro, atrás de Gary Lineker, da Inglaterra, com seis. Também durante 1986, Careca liderou o São Paulo na conquista do Brasileiro, batendo seu antigo clube, o Guarani, na final — e marcando o gol que levou a decisão para a disputa de penalidades. Com vinte e cinco gols, foi artilheiro e eleito o melhor jogador do campeonato.

Em 1987, depois de cento e noventa e um jogos e cento e quinze gols pelo São Paulo, foi contratado pelo então campeão italiano Napoli, onde foi companheiro de Maradona. O time já o cobiçava desde 1979, quando seu então treinador, o brasileiro Luís Vinícius de Menezes, disse estar entusiasmado pelo atacante, que ainda defendia o Guarani. Na primeira temporada no Napoli não teve sucesso, apesar de seus treze gols: o time foi batido na primeira fase da Copa dos Campeões pelo Real Madrid e perdeu o título italiano nos últimos jogos da temporada. Contudo, o ano seguinte foi muito melhor. O time ganhou a Copa da UEFA, com Careca fazendo um gol na final, e terminou em segundo na Série A do italiano.

Em 1990, finalmente Careca ganhou o scudetto com o Napoli, no que acabou por ser efetivamente a última temporada de Maradona com o clube (ele foi suspenso por quinze meses por ter sido pego em um exame antidoping). Careca ficaria ainda mais três anos com o Napoli, estabelecendo parceria com Gianfranco Zola, mas o Napoli não conseguiria ganhar mais nenhum troféu.

Em 1993 Careca deixou a Itália para jogar pelo Kashiwa Reysol, novo time japonês da J. League. Ficou quatro anos com o time e ajudou-o a subir à primeira divisão do campeonato em 1994. Depois se transferiu para o Santos, seu clube do coração, onde defendeu o clube em apenas nove jogos (com dois gols), no Campeonato Paulista de 1997.

Em 1999, o jogador transferiu-se para o São José de Porto Alegre, onde disputou algumas partidas no Campeonato Gaúcho

Em agosto de 2010 firmou contrato com a emissora brasileira de televisão RedeTV, para comentar partidas de futebol. Ao lado de Silvio Luiz, forma a dupla titular da emissora.

Títulos

Guarani - Campeonato Brasileiro: 1978; Campeonato Brasileiro Série B: 1981.

São Paulo - Campeonato Paulista: 1985, 1987; Campeonato Brasileiro: 1986

Napoli - Copa da UEFA: 1989; Campeonato Italiano: 1990; Supercopa Italiana: 1990

Artilharia

São Paulo Campeonato Paulista: 1985 - 23 gols (São Paulo); Campeonato Brasileiro: 1986 - 25 gols (São Paulo).

Fontes:Revista Placar; Wikipédia.
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O homem que se viciou em galo

Tinha resolvido que este ano a família iria veranear! Alugou uma casa em Petrópolis e levou todo mundo, inclusive os brinquedos das crianças, a geladeira — porque a desgraçada da senhoria escondera a dela num galpão do fundo do quintal, que ficou trancado a sete chaves — cobertores, a rede (para armar na varanda), enfim, fez uma mudança legal.

Instalou a família e desceu novamente para o Rio. Ele, coitado, não podia gozar as delícias do clima da serra. Escravo do padrão ouro, teria que ficar cá em baixo, trabalhando, mas subiria às sextas-feiras, para descansar um bocado.

E precisava mesmo: sabem como é; com a família fora, enveredou para o perigoso caminho da galhofa e toda noite caía na maior baderna.

Às vezes, quando chegava com o dia clareando, ao se lembrar que dali a horas teria de estar na cidade, enfrentando o trabalho, sorria só de pensar na casa que alugara no fresquinho. Era uma casa acolhedora, simpática mesmo, e tão calma! Ainda mais porque a casa ao lado — informaram-no ao alugar — estava praticamente abandonada, uma vez que seus proprietários raramente subiam para ocupá-la. E ele então suspirava, pensando no regalo que ia ter.

Na primeira sexta-feira, lá se foi serra acima, com o carro cheio de frutas, biscoitos, essas bossas. Chegou de noitinha, beijou as crianças, a esposa e até a sogra (que subiu para dar uma mãozinha) e depois de jantar regaladamente, meteu-se debaixo das cobertas, dos tépidos lençóis cheirando a coisa lavadinha. Num minuto roncava toda a sua canseira de trabalhos e prevaricações cariocas.

Foi quando o galo cantou. Bateu asas e meteu um pungente co-co-ró-có que veio ferir seus ouvidos e acordá-lo de estalo. "Oh diabo... pensou, ferrei no sono mesmo. Os galos já estão cantando... deve ser de madrugada". Virou para o lado e já estava quase dormindo, quando o galo meteu outro canto. Remexeu-se na cama e achou que aquele galo era um chato. Podia perfeitamente parar de cantar. Mas qual, o galo cantou a segunda, a terceira, a quarta vez... não parou mais de cantar.

Levantou-se estremunhado, pensando em fazer um café.

Acordar cedinho era bom para a saúde — lembrou-se ele, só para se consolar. Mas quando passou pela sala rumo à cozinha e viu no relógio que eram 11 e meia, correu sobressaltado ao relógio de pulso em cima da mesinha de cabeceira, em busca de confirmação. Tava lá: 11 e meia. Galo desgraçado.

Desistiu do café e voltou para a cama. Só que praticamente não dormiu mais. Quando já estava quase, naquele período entre semiconsciente e o semidormido, o galo lascava o canto outra vez.

De manhã, de cara murcha, disse para a mulher:

— Mata o galo para o almoço.

— Que galo? — estranhou a distinta dama.

— Esse galo que cantou a noite inteira e não me deixou dormir.

Aí a senhora explicou que também sofria insônias por causa do galo, mas acontece que o galo era do vizinho: pertencia ao caseiro da casa ao lado, a tal que vivia fechada porque os proprietários não subiam nunca. Ele coçou a cabeça e coçando a cabeça ficou durante toda a noite de sábado, pois o galo era um chato e cantava sem parar até mesmo de dia, como ficara provado durante as 12 horas que precederam a sua segunda noite em claro.

De manhã estava doido para comer um "coc au vin". Mais por vingança do que por apetite. Saiu de sua casa e foi bater na do vizinho. Veio o caseiro e propôs a compra do galo. O caseiro estranhou; pois se havia uma quitanda na esquina, com um monte de galos para vender, por que o cavalheiro queria comprar o seu?

Como? Para comer? Ora essa... e o caseiro sentiu-se ofendido. Aquele galo era de estimação, criara o bichinho desde que era pinto.

— Mas ele canta sem parar, pombas! Sim, de fato cantava, concordou o caseiro, com um certo orgulho, e — por isso mesmo — não vendia de jeito nenhum. Ele apreciava um canto de galo assim, na calada da noite. O homem ofereceu três contos, subiu para cinco e chegou a querer pagar dez, mas o caseiro deu uma bela prova de bom caráter, ao dizer que o galo valia muito menos, mas para matar não vendia.

Na semana seguinte subiu de novo e tornou a viver o drama do galo. O pior de tudo continuava a ser aquela insônia por motivos galináceos. Já nem estava fazendo as farras que programara no Rio, por causa daquele maldito galo. Gastara um dinheirão para alugar a casa e poder ficar solto no Rio e via tudo ir por água abaixo por causa de um simples co-co-ró-có.

Naquele domingo fez uma inspeção por cima do muro e reparou que o caseiro do lado não tinha nem criação de galinhas. Era só aquele maldito galo.

Voltou a bater no portão do vizinho. O caseiro veio e ele o recebeu com um sorriso:

— Se é pra vender o galo não adianta, doutor. Eu jurei que não vendo e sou muito religioso. Não. Não queria mais comprar o galo... mas estivera pensando. Quem sabe o galo não cantava assim por falta de galinha? Estivera inspecionando também e notara que o caro amigo só tinha de si, no quintal, aquele galo. Se o amigo não levasse a mal, traria umas galinhas de presente para ele.

— Ou melhor — emendou — para o seu galo.

O caseiro concordou. Não estava em situação de recusar presentes e, já na outra semana, quando ele subiu de novo, trazia quatro belas galinhas de presente para o vizinho. A mulher até bronqueou, pois ele prometera trazer um pernil e o dinheiro não chegara: em vez de trazer o pernil pra família, trazia aquelas galinhas para o galo do vizinho. Ridículo.

Encurtando conversa: as galinhas foram soltas no quintal, segundo relato fiel do caseiro, mas de noite foi a mesma coisa. O galo nem se importou com as galinhas. Cantou desbragadamente, de cinco em cinco minutos. Não queria nada com as galinhas, ele queria era cantar. Foi aí, aliás, que passou a chamar o galo de Cauby — numa homenagem.

E assim foi até o período do carnaval. Quando subiu na última sexta-feira em que tinha direito à casa, para passar os dias de carnaval (logo depois teria que entregar as chaves porque o aluguel acabava ali), chegou a Petrópolis mais triste que um tango de arrabalde.

No entanto, o caseiro não foi mais incomodado com reclamações. O caseiro até estranhou, quando, na quarta-feira de cinzas, com a família e todos os trens aboletados no carro, ele lhe deu um cumprimento efusivo. O caseiro respondeu, deu de ombros e esqueceu o temporário vizinho.

Mas estranhar mesmo o caseiro estranhou quando — passada uma semana — ouviu baterem palmas no portão. Foi ver quem era e era o cara que quis comprar o seu galo. Deu bom dia e teve o desprazer de ouvir nova proposta:

— Meu amigo, eu subi a Petrópolis especialmente para comprar seu galo.

— Mas doutor... eu já não disse que não vendo? Sim, dissera, mas isso foi quando ele confessou que queria matar o galo. Agora era diferente: vinha comprar o galo para levar pro Rio, onde — jurava — seria bem tratadíssimo.

O caseiro arregalou os olhos, incrédulo. Palavra de honra, não tinha a menor intenção de matar o galo. Pelo contrário.

— Se o senhor não quer matar o galo, por que faz tanta questão de comprar?

— Porque nenhum canta tanto quanto ele — informou o comprador em potencial.

— Eu sei disso — tornou o porteiro, novamente orgulhoso.

— Por isso eu quero comprá-lo — e, visivelmente encabulado, esclareceu: — Fiquei viciado. Não consigo mais dormir sem galo cantando.

E agora Cauby (o galo) canta a noite inteira na área de um edifício de Copacabana, chateando 48 condôminos que, por sua vez, de cinco em cinco minutos, telefonam para o síndico perguntando quem é o dono do bicho, e quanto quer para silenciá-lo. Mas a ave é de estimação, para matá-la o dono não vende.

Dizem até que — para o Cauby cantar mais — ele está misturando bolinha no milho do galo.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O hábito faz o amante

Ele trabalhava num horário meio esquisito. Entrava na redação do jornal às 6 da tarde e largava aí por volta das 10 da noite. Mas, por causa da outra, dizia à esposa que ficava lá embaixo, nas oficinas, fazendo revisão da matéria até às 4 da madrugada.

Assim, quando eram mais ou menos 11 horas, estava chegando à casa da outra, onde fazia uma refeição ligeira e ficava até umas 4 ou 4 e meia da manhã.

O perigo era dormir demais. Esta possibilidade o trazia sempre apavorado. Sente o drama, vá! Se dormisse direto acordaria já de dia e não teria explicação nenhuma para dar à esposa, cuja já implicava às pampas com seu horário de trabalho. Depois, sabem como é, caranguejo velho não sai da toca com maré baixa. Se desse margem para a esposa ficar mais descontente ainda, acabava tendo que largar a boca rica.

E era aquele drama de sempre. Chegava na casa da outra, aquele papinho e coisa e tal, um drinquezinho de vez em quando e o resto da noite era de sobressaltos, com o medo de dormir e perder a hora.

Até que, naquela noite, não foi. Deu-se que a outra ia ser operada. Coisa sem importância. Um quistozinho, mas que precisava ser extirpado. A outra dormiria de véspera no hospital, acompanhada de uma irmã. E ele, quando acabou o serviço na redação, resolveu ir para casa direto. Diria à esposa que sentira uma tonteira e pedira para sair mais cedo.

Foi o que fez. Chegou, beijou, desculpou-se e foi dormir. Até houve o detalhe: antes de adormecer pensou que, afinal, ia poder dormir bastante. Mas o homem põe e Deus dispõe. Dormiu direto, mas, aí pelas 8 da manhã, o sol começou a bater no seu rosto. Foi esquentando, esquentando e... de repente, ele acordou estremunhado, olhou para a janela, viu aquela bruta luz e levantou-se de um salto. Na sua mente só passava a idéia de que perdera a hora de voltar para casa. Estava enfiando as calças, quando a esposa acordou tam¬bém e perguntou:

— Mas o que é isso???

Só então, caiu em si. Mas já era tarde. Não havia explicação cabível. Disse apenas que precisava fazer um negócio qualquer na cidade e foi se sentar num banco da praça, para fazer hora.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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