quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Paraíba

Azevedo e Peçanha vestiram o paletó e desceram para a rua, na disposição de fazer uma farrinha.

Ainda no elevador, Azevedo fez ver a Peçanha que o laço de sua gravata estava um pouco frouxo. Peçanha agradeceu e ajeitou o laço. Afinal, iam em demanda de uma possível aventura amorosa e a elegância era detalhe importante.

Caminharam pela Avenida N. S. de Copacabana e foram subindo em direção ao Lido, conversando animadamente e só interrompendo a conversa quando passava uma moça.

Sozinha ou acompanhada, todas as moças que passavam por Azevedo e Peçanha ganhavam olhares pidões, tão comuns aos conquistadores baratos, de beira de calçada.

Era sábado, dia em que se definem os que andam pela aí, caçando o amor. Azevedo parou na esquina do Lido e perguntou para Peçanha:

— Que tal se fôssemos até o "Alfredão"?

Peçanha achou que lá havia sempre muita concorrência. As mulheres supostamente fáceis,- quando há muita gente em volta, dando em cima, tornam-se superiores e esquivas, fazendo-se mais preciosas pela disputa de seus carinhos. Mas como Azevedo ponderasse que muitos dos homens que vão ao "Alfredão" não chegam a ser propriamente homens, Peçanha concordou.

Entraram no bar, Azevedo acendeu um charuto, ofereceu outro a Peçanha, que recusou com um gesto másculo. Preferia cachimbo, que tirou do bolso e começou a encher de fumo, enquanto pediam algo para beber.

O garçom acabou partindo para ir buscar uísque puro, só com gelo e olhe lá.

Uma garota de olheiras profundas passou pela mesa e Peçanha mexeu com ela. A garota sorriu. Então Azevedo convidou-a para tomar alguma coisa. E como as demais pequenas que estavam no bar pareciam todas acompanhadas, ficou só aquela para ser dividida entre Azevedo e Peçanha.

No fim de algum tempo, tanto Peçanha como Azevedo estavam caindo de tanta bebida. Pagaram a conta. Azevedo apagou o resto do charuto no cinzeiro e quis partir só, rebocando a pequena.

Peçanha estranhou a atitude de Azevedo, acabaram discutindo e começou o clássico festival de bolacha. Entrou a turma do deixa-disso, veio o guarda e o resultado da farra ali estava: além da garota disputada a tapa, também foram parar no xadrez as duas brigonas.

Sim, porque o nome todo de Azevedo é Maria Tereza Azevedo. Quanto a Peçanha: Walquíria. Walquíria Peçanha.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A anciã que entrou numa fria

Gosto de ler jornal impresso com plasma sangüíneo. Não sou um leitor-vampiro. O que me diverte não é a notícia, porque não tenho carteirinha de necrófilo; o que me diverte é a redação da notícia, a maneira pela qual ela é abordada nesses jornais que, se a gente apertar, dá hemorragia.

Agora mesmo estava aqui a folhear um deles. Na página 4, lá em cima, à esquerda de quem lê, há uma coluna de ocorrências. E logo a primeira notícia vem sob a manchete: "Quis ver anciã nua e apanhou".

Ora, por mais ocupado que eu esteja, uma nota com este título eu não deixo pra lá de jeito nenhum.

E li. A coisa passou-se num desses conjuntos residenciais — autênticas cabeças-de-porco, construídas pelos institutos de previdência para enganar contribuinte — onde o pau come de cinco em cinco minutos, entre vizinhos de parede e meia. Sai tanta briga nesse tipo de residência para coitado que, não faz muito tempo, eu participava de um show no qual o conjunto regional brigava tanto que eu o apelidei de Conjunto Residencial do IAPI. Mas isto deixa pra lá.

Voltemos à anciã nua que abalou Ramos. Sim, porque foi em Ramos, aprazível subúrbio leopoldinense, onde cabrito pasta deitado para não pegar rebarba de tiroteio. O bandido da história chama-se Matias Afonso — solteiro, 28 anos, morador na Rua A, n.° 5.

Quando o cara mora em rua que não tem nome, é porque o apartamento dele é desses em que o morador abre a porta e entra com cuidado para não cair pela janela da frente.

Pois muito bem: Matias Afonso foi parar no Hospital Getúlio Vargas, vítima de um panelicídio. Palavra de honra! Não estou inventando nada. Está aqui no jornal: "No hospital, onde os médicos constataram uma lesão que pode levá-lo à cegueira, Afonso contou que Joana de Jesus, viúva com 71 anos, residente na Rua A, n.° 4 — vizinha, pois, do dito Matias —, agredira-o com uma panela, furiosamente".

Mas é aqui que the pig twists if's tail — como diz Lyndon Johnson, quando tenta explicar a batalha campal do Vietname.

Por que teria uma velha de 71 anos agredido um rapaz de 28? Alguma coisa ele fez de muito grave, porque, nessa idade, a pessoa geralmente já não agüenta levantar uma panela, quanto mais fazer dela um porrete de gladiador.

E o rapaz fez mesmo; cometeu uma temeridade que eu vou te contar. Outra vez transcrevo do órgão da imprensa sanguinária: "Porque olhava para o quarto onde a anciã trocava de roupa, Matias Afonso foi agredido, na madrugada de ontem, a golpes de panela, sofrendo contusões e escoriações na cabeça, estando ameaçado de perder a visão".

Convenhamos que perder a visão porque espiava uma velha de 71 anos inteiramente pelada é duro, é um bocado duro. Mas — pelo jeito — a vítima do panelicídio gostava. Senão vejamos: "Matias confessou que via Joana de Jesus despir-se, diariamente, por uma fresta da janela. Ontem, não se contendo, pulou a janela e foi repelido com uma panela".

Esta é a história que o jornal — como tudo que é noticiário policial — termina enfaticamente com o tradicional: "o comissário do dia tomou conhecimento do fato".

O comissário pode ter tomado conhecimento, mas nós queremos mais, é ou não é? Em não sendo policial, a gente tem uma curiosidade maior pelas ocorrências deste tipo. Basta reler o que foi contado para se ver que um dos dois personagens está mentindo, ou melhor, pode não estar mentindo, mas está omitindo. Se um rapaz de 28 anos apanhou de uma velha de 71, levando tanta panelada na cabeça, é porque — enquanto ela batia — ele tentava segurar outra coisa que não era a panela, do contrário teria se defendido melhor. O que estaria Afonso tentando segurar enquanto a septuagenária baixava-lhe paneladas na cuca?

Tirem vocês a conclusão.

Para Primo Altamirando a solução do mistério é outra. O jornal não conta que o cara via a velha pelada todo dia? — pergunta Mirinho. E ele mesmo responde:

— Diz sim. E se era todo dia, dificilmente a velha ignorava o fato. Portanto, para mim, esse tal de Afonso apanhou porque, ao pular dentro do quarto, a velha não quis deixar ele sair.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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Anthony Perkins

Anthony Perkins, ator, nasceu em Nova Iorque, EUA, em 4/4/1932, e faleceu em Los Angeles, EUA, em 12/9/1992. Era filho de um famoso ator da Broadway Osgood Perkins, que atuou em Scarface, clássico de 1932 - ano em que Anthony nasceu - e que morreu quando ele tinha apenas cinco anos. Foi criado pela mãe, que ele mesmo definiu uma vez como "muito possessiva e bastante problemática".

Subiu ao palco pela primeira vez aos 14 anos e estreou no cinema em 1953 no filme Papai Não Quer, dirigido por George Cukor.

Em 1956 foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel em Sublime Tentação de William Wyler.

Entrou para a galeria dos grandes nomes de Hollywood ao interpretar Norman Bates  - um assassino em série da obra Psycho (Psicose), de Alfred Hitchcock -, em 1960. Muitos críticos acharam na época que ele merecia ter ganho o Oscar por sua magnífica interpretação, mas não chegou nem a ser indicado ao famoso prêmio. O filme teve duas continuações, uma em 1983 e outra em 1986.

Entre 1962 e 1971, Perkins desenvolveu uma bela carreira na Europa, tendo oportunidade de atuar sob a direção de cineastas do porte de Claude Chabrol, André Cayate, René Clement, Anatole Litvak, Jules Dassin, Orson Welles, Edouard Molinaro, entre outros.

De volta aos Estados Unidos, continuou sua brilhante carreira. Dando continuidade ao famoso Psicose, de Hitchcock, Perkins estrelou em 1983, Psicose II, de Richard Franklin; em 1986, Psicose III, por ele próprio dirigido, e em 1990, para a televisão, Psicose IV - O Começo, de Mick Garris.

Em 1973, co-escreveu o roteiro de O Fim de Sheila, juntamente com Stephen Sondheim, tendo sido agraciado com o Prêmio Edgar Allan Poe. Em 1974, apareceu na Broadway ao lado de Mia Farrow, na peça Romantic Comedy, de Bernard Slade.

Perkins era bissexual, tendo tido casos com o ator Tab Hunter, com o bailarino Rudolf Nureyev e com o dançarino-coreógrafo Grover Dale, com quem teve um relacionamento de seis anos, antes de se casar com Berry Berenson. De sua união com Berry, teve dois filhos: Osgood, que seguiu a carreira de ator, e Elvis Perkins, que se tornou músico. Ele afirmou, certa vez, ter sido exclusivamente homossexual até próximo de seus 40 anos, quando conheceu a atriz Victoria Principal.

Diagnosticado com AIDS em 1989, manteve sua doença em segredo e continuou a trabalhar até o fim. No ano de sua morte, inclusive, participou de dois filmes, sendo um para a TV.

Fontes: 70 Anos de Cinema; Wikipedia.
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