quinta-feira, 14 de julho de 2011

A moça e a calça

Foi no Cinema Pax, em Ipanema. O filme em exibição é ruim: “O menino mágico.” Se mágico geralmente é chato, imaginem menino. Mas isto não vem ao caso. O que vem ao caso é a mocinha muito da redondinha, condição que seu traje apertadinho deixava sobejamente clara. A mocinha chegou, comprou a entrada, apanhou, foi até a porta, mas aí o porteiro olhou pra ela e disse que ela não podia entrar:

- Não posso por quê?

- A senhora está de “Saint-Tropez”.

- E daí?

Daí o porteiro olhou pras exuberâncias físicas dela, sorriu e foi um bocado sincero: - Por mim a senhora entrava (Provavelmente compeltou baixinho:...e entrava bem.) Mas o gerente tinha dado ordem de que não podia com aquela calça bossa-nova e, sabe como é... ele tinha que obedecer, de maneira que sentia muito, mas com aquela calça não.

- O senhor não vai querer que eu tire a calça.

Nós, que estávamos perto, quase respondemos por ele: - Como não, dona! – Mas ela não queria resposta. Queria era discutir a legitimidade de suas apertadas calças “Saint-Tropez”. Disse então que suas calças eram tão compridas como outras quaisquer. O cinema Pax é dos padres e talvez por causa desse detalhe é que não pode “Saint-Tropez”. A calça, de fato, era comprida como as outras, mas embaixo. Em cima era curta demais. O umbigo ficava ali, isolado, parecendo até o representante de Cuba em conferências panamericanas.

- Quer dizer que com minhas calças eu não entro? – Quis ela saber ainda uma vez. E vendo o porteiro balançar a cabeça em sinal negativo, tornou a perguntar: - E de saia?

De saia podia. Ela então abriu a bolsa, tirou uma saia que estava dentro, toda embrulhadinha (devia ser pra presente). Desembrulhou e vestiu ali mesmo, por cima do pomo de discórdia. No caso, a calça “Saint-Tropez”. Depois, calmamente, afrouxou a calça e deixou que a dita escorresse saia abaixo. Apanhou, guardou na bolsa e entrou com uma altivez que só vendo.

Enquanto rasgava o bilhete, o porteiro comentou:

- Faço votos que ela tenha outra por baixo.

Outra calça, naturalmente.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: PONTE PRETA, Stanislaw. Primo Altamirando e elas. 3.ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. p.140-142.
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quarta-feira, 13 de julho de 2011

O primeiro uso das impressões digitais

Em 28 de julho de 1858, impressões digitais foram usadas pela primeira vez para fins de identificação por um funcionário da administração britânica. Mas a polícia só incorporou o método em investigações 31 anos depois.

Era irritante! Toda semana, sir William Herschel, que trabalhava na administração civil inglesa em Calcutá, fazia o pagamento dos funcionários indianos. E toda vez era a mesma coisa: havia mais gente para receber que o número real de empregados. 

William não conseguia diferenciar as pessoas nem pelo nome e muito menos pela aparência. Elas lhe pareciam todas iguais. Até que, enfim, teve uma brilhante ideia: arquivou a impressão digital de cada um dos empregados. A partir daí, quando eles recebiam o salário, tinham que, além de assinar um papel, deixar a marca dos dedos indicador e médio, que seriam comparados à impressão arquivada.

A identificação era perfeita e ele nunca mais teve problemas. Sua intenção maior era fazer uma pressão moral e não tanto um apurado trabalho de comparação das digitais. Esta idéia, entretanto, não foi inédita. Já no século 14, na Pérsia, há registros de papéis oficiais que continham, ao lado da assinatura, uma impressão digital como comprovante de autenticidade. Ninguém sabia ainda que a digital é uma absoluta prova de individualidade. 

Quanto mais impressões digitais William colecionava, mais ele se convencia de que se tratava de uma identificação única, sem margens de erro. Sua suposição estava certa. Todos nós temos nosso próprio e exclusivo modelo digital. Cada particularidade do desenho da pele das mãos é única, e este modelo não sofre modificações com o passar dos anos, nem é transferido geneticamente. Isto significa que todas as pessoas, incluindo as que já morreram e as que nascerão, podem ser diferenciadas uma das outras através da impressão digital.

Nem mesmo uma cicatriz no dedo é capaz de alterar a identificação. A polícia só precisa de uma parte da superfície, seja uma curvatura, um nó ou mesmo um redemoinho das finas linhas do dedo, para realizar o trabalho de investigação. Mas, desde a iniciativa de Herschel em 1858 até seu uso para fins policiais, passaram-se décadas. 

A polícia usava o método de Alphonse Bertillion, que identificava um suspeito através da medição do antebraço, da coxa, da circunferência do crânio, da distância entre os dois olhos. Se isto não bastasse, o método previa outros 243 critérios. Porém, um erro da Justiça aboliu este método. Um homem foi executado como assassino de uma prostituta.

Após sua morte, seu advogado apresentou restos de uma xícara de café que havia sido destruída na cabeça da vítima. Embora o homem executado tivesse enorme semelhança física com o verdadeiro assassino, as impressões digitais nos cacos da xícara comprovaram que seu cliente não poderia ser o autor do crime. Este caso teve tamanha repercussão que a impressão digital acabou sendo definitivamente adotada pela polícia. 

A datiloscopia, como é chamado o sistema de identificação por meio de impressões digitais, foi empregada pela primeira vez na Alemanha em 1903, pelo departamento criminal de Dresden. Em 1914, quase todos os países já utilizavam este sistema.

Fonte: http://www.odebate.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14979&Itemid=17
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terça-feira, 12 de julho de 2011

Arinete, a mulata

Começou num ônibus de São Gonçalo (RJ). Lá vinha ele sacudindo a carcaça pelos buracos niteroienses, naquele calor da tarde. Os passageiros suados e sonolentos, jogados uns contra os outros, no desagradável conta­to da promiscuidade dos coletivos.

O soldado da Polícia Militar, Aroldo, era o único passageiro cujo coração pul­sava além do indispensável para continuar vivendo até as palpitações de novas esperanças. É que no coração do guarda Aroldo já vivia essa esperança, na figura de Arine­te, mulata boa que Deus a conserve no esplendor de tanta saúde. Nome todo: Arinete da Conceição, como convém as mulatas. E lá ia o velho ônibus de São Gonçalo (RJ), castigado pelos buracos niteroienses.

De vez em quando o braço nu de Arinete encostan­do na farda do Aroldo. Foi quando ela abriu a bolsa para retocar a maquiagem. Ao abri-la o espelhinho preso por dentro revelou lá no fundo a maior 45. Aroldo viu a pisto­la. Meteu o olho no espelhinho de novo e lá estava o refle­xo: a maior 45.

Tinha que cumprir o seu dever e deter a mulata. Ia ser triste, prender aquilo para fins outros que não os que trazia em mente. Mas vem cá: e se prendesse a mulata e depois ficasse amiguinho dela e coisa e tal? Hem? Estava precisando de um pretexto, não estava? Não pensou duas vezes. Deu a voz de prisão e aí foi aquele delírio no Mara­canã. Arinete era boa de tudo, inclusive de bronca. Falou que a arma era dela e daí? Que não era bandida não, mas tinha pistola para se defender dos vagabundos.

A plebe ignara em volta, cansada de tanto assalto, que assalto naquela zona é que nem quadro ruim no Mu­seu de Belas-Artes — tem às pampas — a plebe ignara, eu repito, ficou logo a favor do guarda. Arinete da Concei­ção berrou mais alto: que em carro de radiopatrulha ela fazia um escândalo mas não entrava; que estava quieta no seu canto e ninguém, ouviu?, ninguém podia acusá-la de nada.

Aroldo Soares (o guarda) então propôs: "E se formos de braço dado até a delegacia, como um casal qualquer?" (Palavra de honra, tá aqui no jornal e não me deixa men­tir). Arinete topou e assim foi: braço dado e a maior 45 na bolsa. Ao subdelegado Joel Machado, do 12 Distrito de Niterói, explicou que achara a pistola na rua: "E fiquei com ela pra mim pra proteger minha beleza. Graças a Deus nunca precisei usá-la, mas se for preciso eu uso".

O subdelegado explicou que não podia; a arma tinha que ser confiscada e — depois de sindicar — soube que Arinete tem mesmo ficha limpa. É doméstica correta e seus patrões não têm queixa dela. Foi liberada e saiu bamboleando aquilo tudo de mulata, para o seu domicílio.

Ao guarda Aroldo resta a esperança de muito breve­mente andar de novo de braço dado com Arinete. Já en­tão ela irá desarmada e o casal não estará caminhando rumo ao distrito. De jeito nenhum. Seu destino é outro, seu destino é outro.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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