Distinta dama que se assina Helena Brazil, e que aos depois acrescenta
"conselheira de compras", escreve à flor dos Ponte Pretas para explicar
que desconta pra Instituto através de uma profissão bossa nova. Dona
Helena é, conforme está escrito depois do nome, "conselheira de
compras".
Diz ela, em sua carta: "Poucos são os homens de negócios que realmente sabem escolher artigos femininos para presentes (ela generaliza na base do 'homens de negócios', porque fica chato botar a expressão 'coronel de madame').
A verdade é que somente três entre cada dez executivos têm o bom gosto necessário para determinar cores e modelos que farão as presenteadas felizes com as lembranças recebidas." De fato, nós somos um executivo legal, mas tem uns coronéis pela aí que são de amargar para dar presente a mulher.
Noutro dia, membra de nossa frota estava se queixando porque um dos seus mais constantes galanteadores já enviou para sua residência quatro jacas de manga e fosse ela comer a "lembrancinha", estaria até agora de cama. Mas sigamos com a explicação de Dona Helena Brazil — conselheira de compras.
Diz ela: "Para aqueles que não têm tempo, nem geito de enfronhar-se na moda (aqui abrimos um parêntesis para explicar a vocês que o jeito de Dona Helena é com "G", embora os jeitosos, de um modo geral, tenham jeito com "J") há um método infalível de acertar sempre na escolha. Quer saber? Muito simples: selecione uma boa casa de modas e peça o nosso conselho desinteressado."
Quer dizer, vocês moraram na jogada, não? Aqueles que não têm o "geito" para presentear mulher receberão conselhos desinteressados de Dona Helena Brazil, que é cobra no assunto.
Coronéis curibocas, que esbanjam dinheiro sem impressionar aquelas que desejam impressionar, poderão, mesmo, recorrer à missivista. Um camarada desses broncos, que olham mulher e pensam que a coisa vai simplesmente laçando a boa com um colar de pérolas, muitas vezes se estrepa.
Seu Lucindo, nordestino que no Nordeste é Coronel de araque, da política, e aqui no Rio é coronel mesmo, de mulher, certa vez ouviu uma dama dizer que adorava sabonete francês. Entrou numa perfumaria e mandou embrulhar vinte caixotes de sabonete francês para presente. A moça está se ensaboando até hoje, sem tempo para sair com seu Lucindo.
Consultando Dona Helena Brazil, estas mancadas estão por fora. Os sem-"geito" não enviarão aparelhos de barba para suas amadas, não vão ferir a suscetibilidade das moças com jacas de manga, nem fazer como fez um senador do PSD, que mandou um cavalo puro-sangue para uma show-girl que mora em apartamento de quarto e sala.
Consultem, portanto, Dona Helena. Nós é que não precisamos, Dona Helena. A carta que a senhora enviou, queremos crer, é para os outros. Sim, porque quando queremos presentear mulher nós nos enrolamos em papel celofane e mandamos os Correios despachar-nos com frete a pagar para a casa da felizarda.
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Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.
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Diz ela, em sua carta: "Poucos são os homens de negócios que realmente sabem escolher artigos femininos para presentes (ela generaliza na base do 'homens de negócios', porque fica chato botar a expressão 'coronel de madame').
A verdade é que somente três entre cada dez executivos têm o bom gosto necessário para determinar cores e modelos que farão as presenteadas felizes com as lembranças recebidas." De fato, nós somos um executivo legal, mas tem uns coronéis pela aí que são de amargar para dar presente a mulher.
Noutro dia, membra de nossa frota estava se queixando porque um dos seus mais constantes galanteadores já enviou para sua residência quatro jacas de manga e fosse ela comer a "lembrancinha", estaria até agora de cama. Mas sigamos com a explicação de Dona Helena Brazil — conselheira de compras.
Diz ela: "Para aqueles que não têm tempo, nem geito de enfronhar-se na moda (aqui abrimos um parêntesis para explicar a vocês que o jeito de Dona Helena é com "G", embora os jeitosos, de um modo geral, tenham jeito com "J") há um método infalível de acertar sempre na escolha. Quer saber? Muito simples: selecione uma boa casa de modas e peça o nosso conselho desinteressado."
Quer dizer, vocês moraram na jogada, não? Aqueles que não têm o "geito" para presentear mulher receberão conselhos desinteressados de Dona Helena Brazil, que é cobra no assunto.
Coronéis curibocas, que esbanjam dinheiro sem impressionar aquelas que desejam impressionar, poderão, mesmo, recorrer à missivista. Um camarada desses broncos, que olham mulher e pensam que a coisa vai simplesmente laçando a boa com um colar de pérolas, muitas vezes se estrepa.
Seu Lucindo, nordestino que no Nordeste é Coronel de araque, da política, e aqui no Rio é coronel mesmo, de mulher, certa vez ouviu uma dama dizer que adorava sabonete francês. Entrou numa perfumaria e mandou embrulhar vinte caixotes de sabonete francês para presente. A moça está se ensaboando até hoje, sem tempo para sair com seu Lucindo.
Consultando Dona Helena Brazil, estas mancadas estão por fora. Os sem-"geito" não enviarão aparelhos de barba para suas amadas, não vão ferir a suscetibilidade das moças com jacas de manga, nem fazer como fez um senador do PSD, que mandou um cavalo puro-sangue para uma show-girl que mora em apartamento de quarto e sala.
Consultem, portanto, Dona Helena. Nós é que não precisamos, Dona Helena. A carta que a senhora enviou, queremos crer, é para os outros. Sim, porque quando queremos presentear mulher nós nos enrolamos em papel celofane e mandamos os Correios despachar-nos com frete a pagar para a casa da felizarda.
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Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.