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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Nélia Paula

Nélia Paula (Nélia Faria), modelo atriz e vedete, nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, em 26 de outubro de 1930. Desde pequena queria ser atriz e bailarina, por isso, em 1947, depois de ser aprovada num teste para bailarina na companhia de Eva Stachino, vedete chilena radicada no Brasil, fugiu de casa e muda-se para São Paulo, estreando na boate Cairo, com a data de nascimento alterada, por só tinha 16 anos.

Depois de um romance frustrado, que a fez largar a carreira e se tornar aeromoça na ponte aérea Congonhas-Santos Dumont, volta para o Rio de Janeiro, onde conhece, em 1949, a atriz Wahyta Brasil, sendo contratada como modelo para desfiles de moda e chás-dançantes vespertinos na boate Night and Day. No ano seguinte, passa a ser crooner da boate Casablanca, casa em que Renata Fronzi e Cesar Ladeira montavam os shows Café Concerto. Convidada por eles, integra o elenco de girls do Café Concerto nº 1, com o nome de Nelly Faria.

Dos shows em boate, passa para o teatro de revista, adota o nome artístico de Nélia Paula e integra o elenco de "Zum! Zum!", estrelado por Dercy Gonçalves. No espetáculo seguinte, "Ó de Penacho", ganha um número de cortina e é convidada para a companhia do comediante Colé para fazer parte da peça "Boca de Siri", de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto.

Nélia Paula e Colé vivem um romance clandestino, já que ele era casado com a vedete Celeste Aída, e ela ganha papéis de destaque nos espetáculos "Um Milhão de Mulheres" e "Tô aí Nessa Caixinha?". Em 1951, é eleita Princesa das Vedetes, no tradicional concurso do Baile das Atrizes, ano em Virgínia Lane foi coroada Rainha.

Em 1952, é a estrela da revista "Há Sinceridade Nisso?", de Roberto Ruiz, em que aparecia em cena usando um biquíni recoberto de brilhantes. Nesse mesmo ano, Colé termina seu casamento e ela passa a ser a vedete principal da companhia, estrelando vários sucessos de 1952 a 1960, como "Follies"; "Glória", "Carrossel de 53"; "Brotos em 3D"; "Mulheres, Cheguei!"; e "Mamãe Vote em Mim", sempre ao lado de Colé, com quem se casa.

Em 1954, torna-se estrela de Walter Pinto, na peça "Eu Quero é me Badalar". No ano seguinte, volta para a companhia de Colé, mas a relação entre eles entra em crise e o casamento termina, logo depois das filmagens da chanchada "Eva no Brasil".

Em 1956, volta à companhia de Walter Pinto e estrela "Botando pra Jambrar". Na sequência, faz "É de Xurupito!" (1957); "Daquilo que Você Gosta" (1959); "Eu Quero é Fofocar" (1959); "É Xique-xique no Pixoxó" (1960).

Em 1962, deixa o teatro de revista, após ter sua única filha, e passa para a televisão, onde atua nos programas "Noites Cariocas" e "Praça Onze". Em 1966, volta ao teatro, substituindo Bibi Ferreira em "Hello! Dolly". Durante a década de 70, está na peça "Daquilo que Você Gosta"; "Longe Daqui, aqui Mesmo" e "A Gaiola das Loucas", comédia de Jean Poiret, dirigida por João Bethencourt.

Em 1983, faz a novela "Guerra dos Sexos", de Sílvio de Abreu, e, em 1985, está em "Roque Santeiro", num papel escrito especialmente para ela por Aguinaldo Silva. Seus últimos trabalhos na televisão foram ao lado de Chico Anysio, na "Escolinha do Professor Raimundo", no início dos anos 90.

Em 1994, devido a problemas financeiros, foi morar no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, onde morreu, no dia 8 de setembro de 2002, vítima de infarto.

Fonte: Enciclopédia do Teatro
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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Josephine Baker, a Peróla Negra

Josephine Baker (Freda Josephine McDonald), cantora, atriz e vedete, nasceu em Saint Louis, Missouri, EUA, em 3 de junho de 1906, e faleceu em Paris, França, em 12 de abril de 1975. Vedete do teatro de revista, Josephine é geralmente considerada como a primeira grande estrela negra das artes cênicas, naturalizada francesa em 1937, e conhecida pelos apelidos de "Vênus Negra", "Pérola Negra" e ainda "Deusa Crioula".

Josephine era filha de Carrie McDonald, e seu pai é incerto. Alguns biógrafos afirmam que seu pai seria Eddie Carson, que foi certamente amante de sua mãe, mas a artista acreditava que seu pai teria sido um homem branco. O pai de Josephine, segundo a biografia oficial, era o ator Eddie Carson. Várias fontes, no entanto, afirmam que seu pai teria sido um vendedor ambulante de jóias.

Baker com a saia de bananas (1926-27)
Começou sua carreira ainda criança, como artista de rua, dançando. Participou de espetáculos de vaudeville de St. Louis Chorus, aos quinze anos de idade. Atuou em Nova York, em alguns espetáculos da Broadway, em 1921 e 1924.

Em 2 de outubro de 1925 estreou em Paris, no Théâtre des Champs-Élysées, fazendo imediato sucesso com sua dança erótica, aparecendo praticamente nua em cena. Graças ao sucesso da sua temporada europeia, rompeu o contrato e voltou para a França, tornando-se a estrela da Folies Bergère.

Suas apresentações ficaram memoráveis, dentre elas uma em que vestia uma saia feita de bananas. Por suas atuações no teatro de revista, foi uma grande concorrente da grande vedete francesa Mistinguett. As duas não se gostavam, mas o charme de Mistinguett estava em sugerir nudez, através de suas belíssimas pernas, ao passo que Josephine ia muito mais longe, em matéria de nudez. Na verdade, eram duas formas de arte diferentes. Mistinguett mais elitista, Josephine mais popular.

Durante a Segunda Guerra Mundial, teve um papel importante na resistência à ocupação, atuando como espiã. Depois da guerra, foi condecorada com a Cruz de Guerra das Forças Armadas Francesas e a Medalha da Resistência. Recebeu também, do presidente Charles de Gaulle, o grau de Cavaleiro da Legião de Honra.

Nos anos 1950, usou sua grande popularidade na luta contra o racismo e pela emancipação dos negros, apoiando o Movimento dos Direitos Civis de Martin Luther King. Baker também trabalhou na National Association for the Advancement of Colored People (NAACP).

Adotou 12 órfãos de várias etnias, aos quais chamava "tribo arco-íris". Eram eles: Janot, coreano; Akio, japonês; Luís, colombiano; Jari, finlandês; Jean-Claude, canadense; Moïse, judeu francês; Brahim, argelino; Marianne, francesa; Koffi, costa-marfinense; Mara, venezuelana; Noël, francês, e Stellina, marroquina.

Tinha uma guepardo de estimação com o nome de Chiquita.

Filmografia

La Sirène des tropiques (1927) ... ou Siren of the Tropics
Zouzou (1934)
Princesse Tam Tam (1935)
Moulin Rouge (1941)
Fausse alerte (1945) ... ou The French Way
An jedem Finger zehn (1954) ... ou Ten on Every Finger
Carosello del varietà (1955)
Grüsse aus Zürich (1963) (TV)

Fonte: Wikipédia
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Siwa, a rainha do sex appeal

Siwa - 1959
Aparecida Maria Castro Augusto nasceu em São Paulo (capital) em 4 de fevereiro de 1924. Siwa formou-se como bailarina clássica e aos 12 anos já fazia parte do corpo de baile do Municipal de São Paulo. Foi solista e também fez carreira no Municipal do Rio. Apresentou-se ao lado de grandes bailarinas.

Ainda nos anos 40, fundou, com outros profissionais da dança, o tradicional Ballet Pigalle. Entre os grandes balés de que participou, estão "O Julgamento de Páris", "Mozartiana" e "Divertissements".

Apesar de ter verdadeira paixão pela dança clássica Siwa fugia um pouco dos padrões estéticos das bailarinas da época, pois fazia o tipo boazuda: quadris largos, coxas bem torneadas e cintura fina. 

No início dos anos 1950, fez incursões no teatro de revista dançando em teatros e boates. Entre seus números dessa época está o famoso French Cancan. Siwa nunca chegou a ser girl. Na revista começou como bailarina e pouco tempo depois já era vedete.
 
A partir de 1952, com o fim do Ballet Pigalle, Siwa adotou o nome artístico de Siwa Tzen e optou, sem medo, pela revista. Uma de suas primeiras aparições como vedete foi em "Eva me Leva", no Follies, em janeiro de 1952. Seu primeiro papel de destaque foi em "Poeira do Chão" (1952), com a Cia. Mary-Juan Daniel. O elenco da peça era encabeçado por Elvira Pagã, Dalva de Oliveira e Zeloni, mas Siwa foi a grande atração.

Em 1953, já empresária e estrela de sua companhia, apresentou sucessos como "Uma Pulga na Camisola", no Teatro Alumínio, em São Paulo. Em 1958 fez um grande sucesso com "Disfarça... e Bota a Mão". Trabalhou com a Cia. Mary e Juan Daniel; Cia. Ney Machado e outras.

Em 1953, montou a sua própria companhia: Siwa e Sua Companhia de Revistas de Bolso. Dentre as revistas que fez, estão "Poeira do Chão" (1952); "Eva me Leva" (1952); "Eu Quero é me Rebolar" (1953); "O Mágico do Catete" (1953); "Uma Pulga na Camisola" (1953); "É Sopa no Mel!" (1954); "Mulheres à Bangu" (1954); "Mão na Toca" (1957); "Coquetel de Boas"; "Disfarça... e Bota a Mão" (1958); "Mulheres, me Afobei!" (1960). Fez, também, shows na boate Ranchinho do Alvarenga (1952), Casablanca, Monte Carlo.
 
Siwa era flexível, tinha grande desenvoltura cênica e se expressava muito bem com o corpo. Sua sensualidade não residia apenas no belo físico, mas também em sua postura insinuante e sugestiva. Tinha um tipo exótico, era morena alta com rosto marcante: lábios grandes, sobrancelhas arqueadas, olhos amendoados, sorriso devastador. Era chamada de "a misteriosa", se apresentava com roupas sempre extravagantes e incomuns no teatro, como vestes orientais, folclóricas, estampas de onça, etc...
 
Siwa foi casada com o comediante Vagareza (Hamilton Augusto). Conheceram-se no teatro de revista, quando atuaram juntos em   "Poeira do Chão" (1952). Montaram companhia própria no fim dos anos 1950, com bastante sucesso. Foi o terceiro empreendimento de Siwa como empresária de revista.

No início dos anos 1960, Siwa e Vagareza fizeram estrondoso sucesso, como dupla, em diversos humorísticos da TV Rio e da Tupi. Permaneceram casados até a morte de Vagareza, em 1997.

Siwa era ousada: em 1954, organizou uma nova companhia constituída apenas de mulheres, tendo apenas um varão em cena: o comediante Spina. Fez temporada em Campos, lançou grandes girls e vedetes, e importou meninas do Follies Bergère.Também lançou vedetes como Wilma Palmer e comediantes como Costinha. Foi considerada a atriz mais elegante e bem-vestida de 1954.
 
Durante a temporada de "Disfarça... e Bota a Mão" (1958), no Teatro São Jorge, ela fez um ensaio fotográfico para J. Trovão. Um retrato se destacou: o que ela trajava uma fantasia de baiana. Trovão levou a imagem a uma agência de publicidade e a foto foi escolhida para a campanha publicitária da câmera fotográfica Minolta, da empresa japonesa Rokkor. A tal imagem de Siwa  vestida de baiana foi parar em Tóquio, reproduzida em banners e outdoors. Fez tanto sucesso que vários apaixonados japoneses  lhe enviaram cartas (em japonês). Por isso, foi apelidada de "A preferida dos japoneses". 

Um de seus quadros de grande sucesso chamava-se "A Neurastênica" da revista "Poeira do Chão" (1952), em que ela entrava cantando assim: "Eu quero achar um remédio eficaz / Para poder meus nervos acalmar, / Meu mal não sei diagnosticar... / Será que é neurastenia? / Se um bonitão me vem falar / Começo logo a me assanhar / Mas se ele vem muito perto, / Eu quero logo é brigar! / É neurastenia meu mal-estar, / É neurastenia... / Que não se pode curar! / Se eu encontrar alguém que é capaz / O meu remédio logo acertar, / Eu faço qualquer negócio / Qualquer negócio... / Menos casar!"

Desce e improvisa com a plateia:  "O senhor seria tão gentil... Podia indicar-me um remédio? Eu vejo um rapaz, fico louca para falar com ele, mas quando ele chega perto de mim eu sinto uma coisa esquisita. Eu sinto vontade de apertar, apertar, apertar, até... Asfixiar! Não sei o que é que eu tenho".
 
Para outro senhor: "Ah, é você mesmo! O senhor vai me ajudar. Indique-me um remédio! Como? Não quer que eu chegue perto? Não tenha medo, eu agora estou calma. O que foi que o senhor disse? Não tem o remédio? Ah! O senhor tem o remédio sim! Se eu procurar eu acho.  Garanto!"
 
Sobe ao palco e canta: "É neurastenia meu mal-estar, / É neurastenia... / Que não se pode curar! / Se eu encontrar alguém que é capaz O meu remédio logo acertar, / Eu faço qualquer negócio / Qualquer negócio... / Menos casar!".
 
Siwa também fez cinema, na Atlântida, com "Os Apavorados" (1962), uma das últimas chanchadas de Oscarito. Também tomou parte no filme "Eu Sou o Tal" (1959), que o marido protagonizou.

Em 1968 voltou ao ballet clássico e fundou – com o marido – a Siwa Ballet Morumbi, em São Paulo. A escola existe até hoje e é uma das mais tradicionais da cidade. Atualmente é administrada por sua filha, Vânia. 

Faleceu no dia 1° de abril de 2009, em São Paulo, aos 84 anos.  

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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domingo, 14 de outubro de 2012

Joana D’Arc, a vedete escultural

Anna do Couto Martins nasceu em Araguari (MG), em 2 de julho de 1925. Mudou-se para o Rio de Janeiro, ainda bem jovem, com  sua  mãe. Desde criança cultivava o desejo de seguir a carreira artística.

Ao ler num jornal que a Companhia Beatriz Costa e Oscarito estava selecionando girls para o seu próximo espetáculo, viu uma oportunidade para realizar seu sonho. Apresentou-se no Teatro João Caetano e logo foi contratada.

Estreou como girl na revista "Garotas de Além-mar", em 1944, aos 19 anos. A carreira de girl durou pouco. Sua figura ganhou destaque entre as coristas, e no espetáculo seguinte, "Fogo na Canjica", ganhou suas primeiras falas. Foi nessa época que  adotou o nome artístico de Joana. Mais tarde, adicionou o sobrenome D’Arc, em alusão à famosa heroína francesa. A sugestão foi de Beatriz Costa, por acreditar ser um nome forte, que combinava com sua figura marcante no palco. Participou ainda de   outras revistas, destacando-se, principalmente, nas carnavalescas.
 
Após o término da companhia, Joana ingressou no balé do empresário Carlos Lisboa, em 1947. O balé se apresentava em teatros e também em casas noturnas. Excursionou para o Sul, fazendo uma temporada no Rio Grande. Em Pelotas, conheceu o ator Procópio Ferreira que, na ocasião, estava com sua companhia de comédias fazendo uma temporada na cidade. O popular ator se encantou com a morena e a convidou para fazer parte de sua companhia. Joana aceitou na hora. Procópio era um dos mais famosos e influentes atores do Brasil.
 
Estreou na comédia "Sua Excelência, o Criado". Apresentaram-se em mais algumas cidades e, em seguida, estrearam no Teatro Serrador, no Rio de Janeiro. Mas ela sentiu falta da revista. Não gostava da comédia. Achava monótono um espetáculo sem música, sem fantasias, sem escadarias, sem a alegria da revista. Joana D’Arc, então, se descobriu vedete. 

A experiência com Procópio foi a única fora do teatro de revista. Durante toda a sua vida artística, Joana D’Arc foi exclusivamente uma vedete. Tradicional de teatro e do palco. Apesar de ter feito apresentações em boates e cabarés, era no   palco, de preferência nos da Praça Tiradentes, onde se encontrava plena e absoluta.

Em 1948, retornou ao gênero musicado, na Companhia de Dercy Gonçalves. Já não era uma simples vedetinha, mas um dos destaques do elenco. Fez "Manda Quem Pode"; "Cara Malfeita" e "Noites Cariocas". Sua ascensão foi rápida.

No ano seguinte, apareceu no elenco de grandes produções recordistas como "Brotinhos e Tubarões"; "Olha a Boa!" e "Quero Ver isso de Perto". Todas estreladas por Renata Fronzi, a vedete sensação.

O grande responsável pelo sucesso de Joana D’Arc era seu corpo. Ela era um mulherão. Não tinha nada de mignon. Era alta e imponente. Tinha curvas generosas e pernas perfeitas. Foi chamada de A Escultural, pela crítica. Mas Joana não era só um corpo que se movia com graça. Cantava, dançava – rebolava e dizia – com muita malícia – textos de double sens. Um de seus números famosos foi apresentado em "Bonde do Catete" (1950), no João Caetano. Vestida de vendedora de cigarros, usando uma minissaia, declamava: "O senhor, quieto, velhinho, / Mas que pita o seu fuminho / E engasga com a nicotina, / Bem pode voltar ao jogo / E fumar com vitamina /  Pois eu lhe ofereço fogo!".
 
Ainda em 1950, fez parte do elenco do fenômeno "Muié Macho, sim Sinhô", de Walter  Pinto. O espetáculo é considerado um dos melhores de toda a carreira teatral do empresário. Ficou cinco meses em cartaz com lotações esgotadas. Faturou mais de quinze milhões de cruzeiros. Encabeçando o elenco, Oscarito, Virgínia Lane, Pedro Dias, Grande Otelo, além da cantora Dalva de Oliveira.

O estrelato daquela que era considerada o corpo mais perfeito do teatro brasileiro, pelo jornalista Brício de Abreu, só aconteceu em fins de 1951. Após sagrar-se Rainha das Atrizes, no tradicional concurso do Baile das Atrizes, estrelou absoluta "Boa... Até a Última Gota", no João Caetano. 

Ambiciosa, Joana D’Arc lançou sua própria companhia, em 1953 – mesmo ano em que foi eleita, por Sergio Porto, uma das "Dez mais bem despidas", lista que no futuro se imortalizaria como "As certinhas do Lalau". Encenou no João Caetano "Bomba da Paz", uma revista milionária, financiada por um admirador. Dividiu o estrelato com Dercy Gonçalves, mas o empreendimento  fracassou. Mesmo com o tremendo prejuízo, continuou.

No ano seguinte, montou uma nova companhia, agora tendo Silveira Lima como financiador. Estreou em São Paulo, em temporada no Teatro Alumínio, com três revistas: "Rainha da Alegria"; "Tudo de Fora" e "Pernas Provocantes". Com essa última apresentou-se no Rio de Janeiro, no Teatro Glória (na Cinelândia). Dessa vez, Joana D’Arc e a companhia fizeram sucesso. 

Com tudo acertado para estrear no Teatro Colón, em Buenos Aires, Joana D’Arc abandonou a carreira de vedete e empresária. Mudou-se para os Estados Unidos. Foi viver com William Bird, um milionário apaixonado. O romance não durou muito tempo e, da América, Joana partiu para uma temporada, como vedete, na Europa. Em Portugal, atuou no Teatro Coliseu, promovida pela amiga Pepa Ruiz II. Fez também apresentações na Espanha e na França, em cassinos, boates e cabarés.

Voltou ao Brasil somente em 1957. A partir daí sua carreira já não tinha o mesmo impacto. Apesar de vencer, pela segunda vez, o concurso de Rainha das Atrizes, atuou, somente, em cinco revistas entre 1958 e 1960. Seu último espetáculo foi "Entre Pernas e Plumas", no Teatro Recreio (1960). Completou 16 anos de carreira e se despediu dos palcos com a seguinte frase: "A gente tem de sair de cena, enquanto a casa ainda tem público". 

Em 1966, foi convidada pelo revistógrafo Meira Guimarães para uma reentré artística, no show Frenesí, no Golden Room do Copacabana Palace. Recusou. Preferiu ficar imortalizada na memória de seus fãs, em bons espetáculos, na fase áurea da revista. O seu negócio era o teatro, o palco. Era uma vedete em toda a sua essência.
 
Joana D’Arc teve dois filhos, Maria Margarida e David Barata – que atualmente mantém um blog sobre a mãe vedete. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1º de novembro de 2003, aos 78 anos de idade, vítima de um infarto. 

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano
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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Luz del Fuego


Se hoje as mulheres têm direitos garantidos e podem assumir sua posição no meio da liberação sexual sem tantos tabus, muito devem a mulheres transgressoras que viveram antes delas. Infelizmente, muitas dessas representantes da ousadia, sempre a frente do seu tempo, acabam esquecidas entre as páginas da história (Imagem do livro "A bailarina do povo", de Cristina Agostinho - Ed. Best Seller).

Filha de comerciantes de Cachoeiro do Itapemirim (ES), a menininha Dora nasceu numa segunda de Carnaval. Fazia muito calor naquela madrugada de 21 de fevereiro de 1917. Ela era a 15ª filha do casal Etelvina e Antonio Vivacqua. A família Vivacqua   era grande e respeitada. Quando eles se mudaram para Belo Horizonte, a menininha de seis anos começou a apresentar gostos meio estranhos: ela gostava de ir ao serpentário do Instituto Ezequiel Dias e pegou uma cobra na mão no dia em que foi ao circo. Foi, também, uma adolescente rebelde e provocativa. Após a morte do pai, interrompeu os estudos e foi morar com o irmão mais velho no Rio de Janeiro.

No Rio, conheceu Cesar Ladeira, locutor da Rádio Mayrink Veiga que a introduziu no meio artístico e na high society. A   família não gostou de seus comportamentos inadequados e acabou mandando a moça voltar a Belo Horizonte.

Em 1936, Dora foi  morar com a irmã Angélica, casada com Carlos. Foi quando Angélica encontrou o marido assediando Dora e resolveu interná-la no Hospital Psiquiátrico Raul Soares. Dora ficou isolada durante dois meses. Quando saiu, transformou-se em presença incômoda e contava pra quem quisesse ouvir o caso do assédio.

Foi obrigada a passar uma temporada na fazenda. Foi quando ela se meteu no mato e voltou nua com duas cobras-cipó enroladas   no corpo, mandando o filho do administrador fotografá-la. Resultado: nova internação, dessa vez numa casa de saúde do Rio de Janeiro. Estava com 20 anos. Quando saiu do hospital, foi morar em Campos (RJ). 

Dos 21 anos em diante, teve uma vida cheia de fugas, emoções e desafios. Recusou um pedido de casamento, tirou brevê, quis ser paraquedista, apaixonou-se, desiludiu-se e decidiu ser dançarina sensual coadjuvada por serpentes. Arranjou uma jiboia, deu-lhe o nome de "Anjo" e treinou-a durante 12 semanas. Mas a cobra morreu durante o último ensaio antes da estreia. Já experiente, domesticou e treinou duas outras cobras. Depois de dois anos, dezessete dias e quase cem mordidas, fez seu espetáculo na companhia do casal de jiboias "Cornélio" e "Castorina".

Em 1944, virou a atração da noite no palco do picadeiro do Circo Pavilhão Azul, sendo anunciada como "A Luz Divina e suas incríveis serpentes".Também nesse ano estreou no teatro de revista, no espetáculo "Tudo é Brasil", no Teatro Recreio. Fez seus bailados com as cobras e muito sucesso, ao lado de Jararaca & Ratinho, Colé, Celeste Aída e Aracy Côrtes.

Apresentou-se em outros circos de periferia no Rio de Janeiro e acatou a sugestão do palhaço Cascudo: mudou o nome artístico para "Luz del Fuego", que era como se chamava o batom argentino da Carmen Miranda.

Luz seguiu salvando circos da falência até que, em 1950, foi contratada pelo casal Juan Daniel e Mary Daniel 1, donos do Teatro Follies, em Copacabana. No ano seguinte, ela foi para o Teatro Recreio.

Um dos seus grandes sucessos foi "Eva no Paraíso" (1951). A peça era fraca, mas ela brilhava com seus brotinhos cultivados na ilha nudista que apareciam no quadro "O nu através dos tempos". A "Verdade Nua" (1952) a fez voltar ao follies com a família Daniel. Luz, com suas cobras, se sobrepunha aos esforços de Zeloni e a beleza das follies-girls. Também atuou na companhia de Dercy Gonçalves e no Teatro de Zaquia Jorge. Bastava colocar seu nome nos cartazes que era bilheteria garantida.

Em um de seus quadros famosos ela aparecia de freira e, com ar sério, caminhava até o proscênio, dizendo:  – Eu sei que os senhores me consideram uma mulher leviana, imoralíssima, e não querem me ver nem como irmã de caridade. Vocês estão doidos é para me ver pelas costas, não é mesmo? Está bem!

E quando dava as costas  para o público, o que se via era seu traseiro completamente nu. A plateia ia ao delírio.

Em meio a esses acontecimentos positivos Luz publicou seu livro "Trágico Black-Out", cheio de relatos sobre a sedução do cunhado. Neste livro, apresentava, também, suas ideias naturalistas, vegetarianas e nudistas: "Um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisam esconder". 

Publicou "Verdade Nua", o livro em que lançou bases de sua filosofia naturalista. As autoridades deram sumiço na obra. A segunda edição foi vendida por reembolso postal. O dinheiro serviu para arrendar uma ilha na qual se instalaria a sede do seu clube naturalista.

Na primeira metade dos anos 1950, Luz causava furor por onde passava. Era conhecida em todo o País. Doava renda de seus espetáculos para instituições beneficentes. Era atração também durante o carnaval, quando aparecia nua em cima de carros alegóricos. Sempre acompanhada das cobras.

Criou o PNB (Partido Naturalista Brasileiro) à custa de espetáculos gratuitos, que fazia seminua, nas escadarias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Luz obteve licença para viver na ilha Tapuama de Dentro, que foi rebatizada como Ilha do Sol. Essa ilha, na Baía de Guanabara, passou a ser uma das grandes atrações turísticas do Rio de Janeiro. Ali funcionava o Clube Naturalista Brasileiro, o primeiro clube de nudismo da América Latina. Em sua fase áurea de 1956 a 1961, chegou a ter 240 sócios, apesar dos protestos da Igreja.

Nos anos 1960, Luz passou a viver, definitivamente, na Ilha do Sol. Suas reservas financeiras terminavam, a idade chegava e o mito começou a desaparecer. Seus amantes já não eram homens influentes e ricos. Envolveu-se com Júlio, um pescador musculoso  e analfabeto, com quem manteve uma relação de muitos meses. 

Como precisava de dinheiro para obras no clube, retornou aos palcos em 1965, com "Boas em Liquidação". Na ilha, passou a receber poucos amigos e alguns casos amorosos, encerrando as atividades do clube.

Em 1967, Luz del Fuego e seu caseiro foram assassinados. Seus corpos foram amarrados em pedra e lançados ao mar. Os criminosos, presos, confessaram. Mas a tragédia da Ilha do Sol teve requintes de crueldade e muitos fatos não explicados. 

Luz foi ousada, avançada e, ao mesmo tempo, fiel aos seus princípios. Apesar de frequentar as festas noturnas regadas a  álcool, não fumava nem ingeria bebidas alcoólicas. Ela teve sua vida transformada em filme, estrelado por Lucélia Santos.

O dia 21 de fevereiro, data do seu nascimento, é comemorado como o Dia do Naturismo.

Fonte:  As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano; Vila Mulher - Terra.
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sábado, 29 de setembro de 2012

Mara Rúbia, a vedete imbatível

Mara Rúbia nasceu na Ilha de Marajó, no Pará, em 3/2/1918. Chamava-se Osmarina Lameira Cintra (ela odiava esse nome). Casou-se aos 17 anos, teve três filhos, separou-se do primeiro marido e foi viver no Rio de Janeiro. Depois de algum tempo na Capital Federal, leu que a Companhia de Walter Pinto anunciava: "precisa-se de girls para se apresentarem no Teatro Recreio. Mara não conhecia palavra girl, nem tinha a menor ideia que ofício era esse.

O que lhe interessava era o ordenado: um conto e oitocentos. A diferença de seiscentos mil réis do salário de seu emprego anterior, numa firma de corretagem, lhe permitiria buscar seus dois filhos, Therezinha e Birunga, que haviam ficado com os avós, em Belém. Mara trouxera para o Rio apenas Ronaldo, o primogênito. E foi essa diferença que fez a nortista entrar para o teatro.

Mara Rúbia não começou no teatro de revista como simples bailarina, e sim como soubrette, nome designado às girls que já tinham algum destaque, graças a um número que Geysa Bôscoli havia criado especialmente para ela. Em 1944, estreia na revista Momo na Fila. O próprio Walter Pinto foi quem a batizou com o novo nome artístico e contratou professora de canto, dança e interpretação a fim de prepará-la para o estrelato.

Transformou-se em grande vedete e um dos maiores símbolos sexuais do Brasil, entre os anos de 1940 e 1950.

Em 1946 já estrelou com sucesso a revista Não Sou de Briga, ano em que foi eleita Rainha das Atrizes pela primeira vez. Com Walter Pinto, Mara fez oito espetáculosnesse período. Entre seus enormes e inesquecíveis sucessos estão Bonde da Laite (1945); Canta, Brasil! (1945); Rabo de Foguete (1945); Carnaval da Vitória (1946); Não Sou de Briga (1946) – nestas três últimas, Mara já era a segunda figura do elenco, estrelado por Renata Fronzi – e ainda Nem te Ligo (1946); Vamos pra Cabeça (1949) – quando chegou ao estrelato com o empresário – e Está com Tudo e não Está Prosa (1949) – no auge de sua carreira, quando dividiu o estrelato com Virgínia Lane.

Em 1950 foi eleita, novamente, Rainha das Atrizes. Durante vários anos, Mara Rúbia se instalou como a grande vedete da PraçaTiradentes. Com enorme carisma e espontaneidade, dividiu os palcos cariocas com outras celebridades, entre elas Dercy Gonçalves, Renata Fronzi, Oscarito e Grande Otelo. Em 1950 foi convidada pela grande Bibi Ferreira para dividir o estrelato na peça Escândalos de 1950, feito que se repetiria em Escândalos de 1951.

Um dado interessante na trajetória dessa estrela, é que foi a única vedete do teatro de revista que saiu da PraçaTiradentes para oTeatro Municipal. Em 1947, foi convidada pela inesquecível Dulcina de Moraes a participar de duas peças no Teatro Dramático: A Filha de Iório, de Gabriel Dannunzio, e Já é Manhã no Mar, de Maria Jacynta. E atuou ao longo de sua carreira em outros tantos trabalhos no teatro de comédia.

Mara também fez televisão na década de 1950 (na antiga TV Tupi), além de shows de boates, uma ramificação da revista. Em cinema, participou dos filmes Fantasma por Acaso (1946) e É com Esse que eu Vou (1948), todos com Oscarito; protagonizou a comédia Não é Nada Disso (1950) e o drama policial Brumas da Vida (1952), no qual atuava ao lado de sua filha,Therezinha. Em Os Deuses e os Mortos (1970), ganhou a Coruja de Ouro como melhor coadjuvante.

Descoberta pela turma do cinema, fez diversos filmes como O Casamento (1975); Dona Flor e seus Dois Maridos (1976).  Seu último filme foi Bububu no Bobobó (1980), em que interpretava a si mesma, num enredo que contava a decadência do teatro de revista.

Na Rede Globo, fez as novelas Pulo do Gato; Sinal de Alerta e Feijão Maravilha, todas no final da década de 1970.

As duas maiores Grandes Vedetes do Brasil foram Mara Rúbia e Virgínia Lane. Fizeram juntas, em 1952, Eu Quero é Sassaricá!, o espetáculo antológico considerado como uma das melhores revistas de todos os tempos.

A vedete imbatível nos números de plateia faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de maio de 1991.

 Fonte:  As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mary Lincoln

Mary Lincoln era paulistana e nasceu no final dos anos 1910. Quando criança, estudou piano e canto. Formou-se em comércio, mas nunca exerceu a profissão. Era morena, alta e esguia. Tinha uma belíssima voz. Era soprano. E muito sensual.

Até 1941, ela só cantava em festas da sociedade paulistana. Até que, um dia, a apresentaram a Walter Pinto, no chá do Teatro Santana, onde a Cia. W. Pinto se apresentava. Mary, como quem não quer nada, foi ao piano, tocou e cantou desinteressadamente. 

Walter Pinto, vislumbrando o sucesso da jovem, ofereceu-lhe um contrato. Assustada, Mary recusou. Argumentou que não estava preparada. E Walter respondeu o que ela queria ouvir: "Eu te preparo".

Em dezembro daquele ano, Mary já se estava no Rio, pronta para estrear na próxima revista do Recreio enquanto Walter anunciava o nascimento de sua estrela. Sem nunca ter pisado no palco, Mary dividiu, com Aracy Côrtes, o estrelato da peça Você já Foi à Bahia?, de Freire Júnior, um ícone das revistas carnavalescas. Com música de Dorival Caymmi, Herivelto Martins, Sílvio Caldas, essa peça mostrava clássicos como Praça Onze e Amélia. O sucesso foi absoluto. A crítica a consagrou. Foi eleita Rainha das Atrizes de 1942, provavelmente ajudada pelo rei Walter Pinto.

O reinado de Mary Lincoln no Teatro Recreio, com Walter Pinto, durou até 1944. Apesar de ter um corpo admirável, suas armas mais poderosas eram a voz e a expressão facial. Não era muito fotogênica, mas ao vivo enlouquecia e conquistava a plateia masculina.

Em 1942, Mary inovou. Ainda como segunda figura da companhia, brilhou em Fora do Eixo, revista que reafirmaria seu talento e abriria as portas para o estrelato absoluto na montagem seguinte: Rumo a Berlim. Nesse espetáculo ela foi ousada, pois cantou árias de óperas como Madame Butterfly, de Puccini. O público delirou, pois ópera em revista era algo inusitado.

Em 1944, Mary foi para os cassinos. Fez uma temporada bastante razoável em São Vicente, no Cassino da Ilha Porchat. Fez, em seguida, mais uma passagem pela revista, em 1945, com a Empresa Ferreira da Silva. Foi a figura máxima de Batuque no Beco, ao lado do iniciante Colé, e em Trunfo é Espadas!, com Walter D’Ávilla, ambas encenadas no João Caetano, com sucesso. Mary receberia da imprensa o título de a estrela das famílias brasileiras. Talvez pelo porte recatado e seu discreto meio de
sedução.

Também em 1945, faz sua única incursão no cinema, participando de um número musical do filme Caidos do Céu. Na produção da Cinédia, cantava a marcha-rancho Andorinha, de Herivelto Martins, amarrada num poste. O número acabou soando ridículo e a crítica da época não perdoou.

Achando que não estava no lugar certo, procurou outro gênero de teatro musicado: a opereta. Em 1946, trocou a revista pela opereta, fazendo uma bem-sucedida carreira. Mas, apesar de se realizar artísticamente na opereta, Mary retornou à revista em 1947, novamente no posto de vedete, na revista Sinhô do Bonfim, contratada pela Cia. Dercy Gonçalves. O espetáculo foi encenado no João Caetano. Dividiu o estrelato com Dercy e saboreou, mais uma vez, o gosto do sucesso.

Nos anos seguintes ainda estrelou, como vedete principal, Cuba Livre (1952), no Teatrinho Jardel (RJ). Mary era apresentada como a apoteose morena, em impagáveis quadros ao lado de Walter D’Ávilla. Na Terra do Samba foi outro sucesso revista adaptada de Luiz Peixoto e Ary Barroso. No palco, Mary Lincoln brilhou ao lado de Margarida Max, a vedete absoluta dos anos 1920, que retornarava aos palcos para apresentações especiais.

Uma de suas últimas revistas foi Encosta a Cabecinha (1958), de Boiteux Filho, encenada em São Paulo, com a Cia. Silva Filho. A vedete da peça foi Eloína. Às vésperas de completar 40 anos, Mary já não conservava o físico da juventude. Representava e cantava, apenas, sem sugerir nada com o  público. Não era mais a mesma.

Nos anos 1970, há muito afastada dos palcos, Mary se mudou para o Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá (RJ). Reencontrou a amiga Gina Bianchi, dos tempos de opereta. Em 29 de setembro de 1981 (dia do ancião), a instituição recebeu a visita de vários artistas e idosos da região.Teve uma festa no Teatro Iracema de Alencar. Os velhinhos do retiro relembraram os tempos de glória, dançando e cantando. Mary Lincoln tocou trechos de A Viúva Alegre, no piano.Todos se emocionaram. Choveram aplausos. 

As palmas da plateia naquela tarde foram as últimas que ouviu. No dia seguinte sofreu um derrame e morreu, aos 62 anos.

Fonte:  As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Isa Rodrigues

Isa Rodrigues - c. 1940
Isa Rodrigues (Elisa Rodrigues), considerada a "Shirley Temple brasileira", nasceu em São Paulo, no dia 17 de Julho de 1927. Seus pais eram os atores Alzira e Benito Rodrigues. Isa, como já era chamada desde pequena, cresceu no ambiente teatral e foi incentivada pela própria mãe. Sua estreia deu-se em Santos, na companhia de Nino Nello e Tom Bill, com um espetáculo de variedades intitulado "O Team da Gargalhada".

Isa tinha 8 anos, mas cantou e dançou como gente grande. A menina agradou tanto que passou a integrar o elenco da companhia, que viajava pelo Estado de São Paulo. A menina era tão boa que passou a ser anunciada como a grande atração. Apresentava-se cantando e dançando samba e maxixe.

Em 1936, com nove anos de idade, já é conhecida pelo público paulista e também em outros Estados. A família, então, mudou-separa o Rio de Janeiro.

A menina foi chamada a se apresentar em um show no Teatro República (RJ), em homenagem à vedete chilena Eva Stachino, que se despedia do Brasil. No dia do grande espetáculo, estavam na plateia Carmen Miranda, Francisco Alves, Orlando Silva,Oscarito, Aracy Côrtes e Sílvio Caldas.

A menina cantou e dançou com tal desembaraço e graciosidade que foi considerada o maior sucesso da noite. Luís Iglésias, propôs um contrato com a menina, para estrear na sua próxima revista, no Recreio. O pai Benito recusou, pois estava negociando com outra companhia. Iglésias não quis nem saber o fim da história. Cobriu a oferta e ainda contratou, de quebra, os pais. Nascia a Shirley Temple brasileira.

Sua estreia aconteceu na revista É Batatal!, ao lado de gigantes como Oscarito, Aracy Côrtes e Eva Todor. Ela fez um dueto histórico com Oscarito, cantando No Tabuleiro da Baiana, na época, recém-gravada por Carmen Miranda. O jogo de cena entre Oscarito e Isa era impagável. A crítica consagrou o surgimento da nova estrela.

A pequena Isa foi capa da tradicional Revista de Theatro, vestida de baiana. Embaixo de sua fotografia, estavam estampados os seguintes dizeres: Isa Rodrigues, a vedeta de 1937. E durante os anos seguintes ela explodiu em popularidade. Era como se fosse uma minirreprodução das grandes vedetes da Praça Tiradentes. Exímia sapateadora, pode-se dizer que foi a primeira criança prodígio na cena teatral brasileira.

Com o fim das apresentações de É Batatal!, o Recreio lançou O Palhaço o Que é?, e logo depois Mamãe eu Quero e Rumo ao Catete; Isa estava nestes elencos, repetindo o êxito.

A Menina de Ouro foi uma revista escrita especialmente para ela. Estreou no Recreio, em 1937, escrita por Freire Jr. e J. Cabral. A produção apresentava-a como a menor vedete dos palcos brasileiros e, com certeza, dos teatros do mundo. A peça contava a história da americana Shirley Temple que decide tirar umas férias no sul da Califórnia. Para despistar os fãs e a imprensa, forja uma visita ao Brasil, contratando uma sósia brasileira que, se passando pela atriz, comparece a todos os eventos, atuando em cinema e teatro, enganando a todos. Mas a farsa dura pouco tempo: é descoberta e levada a julgamento. Na hora do veredicto, o clímax da peça, Isa tinha uma grande cena dramática, que emocionava todas as noites.

Entre 1937 e 1941, a nossa Shirley Temple reinou absoluta na PraçaTiradentes. Seu sucesso era enorme. Havia uma mutidão se amassando para ver a estrelinha.

Em 1939, depois de excursionar pelo País, Isa perdeu a maior oportunidade de sua vida: uma proposta para filmar em Hollywood, ao lado da própria Shirley Temple, feita por dois representantes da MGM na América Latina. O pai Benito recusou, pois tinha acabado de renovar com a Cia. Manoel Pinto.

Em 1941, Isa tentou interromper sua carreira para estudar, mas voltou para ajudar as finanças dos pais que dependiam dela. Ela havia crescido no palco. Em 1950 casou-se com o ator Carlos Mello, pai de seu único filho, Carlos Alberto.Tornou-se uma atriz versátil que havia passado com desenvoltura do teatro de revista para a comédia.

Em 1953, aos 26 anos, Isa retornou à revista em Mulheres de Todo o Mundo, no Teatro Carlos Gomes, ao lado da amiga desde os tempos do Recreio, Dercy Gonçalves. A exmenina-prodígio e revelação na comédia, pela primeira vez, veste maiô e bota as pernas de fora. O público e a crítica adoraram. Com Dercy Gonçalves ainda atuaria em Bomba da Paz, no João Caetano. Agora como vedete passou por muitas companhias.

Isa e Carlos Melo - 1960
Em 1955, foi elevada ao estrelato como vedete na temporada paulista com Colé, noTeatro Alumínio. Encabeçou o elenco de Gostei Demais... e Gente Bem & Champanhota, onde substitui Nélia Paula. Aproveitou a estada em São Paulo para filmar seu primeiro longa-metragem, Eva no Brasil.

Estrelou outras revistas como Te Futuco... num Futuca (1959) e Rio, Amor e Fantasia (1960). Sua especialidade eram os números de samba e as cenas cômicas. Isa Rodrigues, com Consuelo Leandro e Sonia Mamed, sabia fazer a caricata bonita, engraçada e sensual, ao mesmo tempo.

Em 1962, Isa era a artista mais bem paga da Tv Excelsior. Ao lado de outros egressos do teatro de revista, participou dos mais célebres programas humorísticos Noites Cariocas, O Riso é o Limite, Vovô Deville e Times Square.

Nos anos 1970, participava dos programas do Chico Anysio e dos Trapalhões da Rede Globo. Sua despedida dos palcos acontece em 1985, com a peça Viva a Nova República encenado no Copacabana Palace, ao lado de Íris Bruzzi e Milton Moraes.

Nos anos 1990, com a morte do marido, Isa mudou-se, por vontade própria, para o Retiro dos Artistas, onde vive até hoje. Aos 82 anos de vida e 75 de carreira, se considera uma mulher feliz.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Beatriz Costa, a vedete de dois países

– Me pega no colo!...

Pega-me ao colo é uma frase simples, infantil. Mas se quem a diz é Beatriz Costa, que feito menina mimada pede colo aos espectadores, a tal frase simples entra no vocabulário popular, passa a ter os mais inesperados significados. E uma revista que se vai estrear, nesse ano de 1938, terá  inevitavelmente como título Pega-me ao colo.

Beatriz Costa nasceu Beatriz da Conceição em 14 de dezembro de 1907, em Portugal, numa aldeia chamada Charneca do Milharado, relativamente perto de Lisboa. 

Aos 15 anos estreou, com o apoio da família, como corista do teatro de revista, em Chá com Torradas, no Éden Teatro de Lisboa, seguindo em excursão com a companhia para o Alentejo e para o Algarve. Foi o famoso revisteiro Luís Galhardo quem a batizou com o nome artístico de Beatriz Costa.

Em 1924, ela já estava atuando no Teatro Maria Vitória de Lisboa, na revista Rés Vês e sendo preparada para fazer números mais importantes, pois a mocinha levava muito jeito e evoluía rapidamente.

No dia 24 de julho de 1924 embarcou, com a companhia, no navio Lutelia rumo ao Brasil. Ficou aqui até 1926. Estreou no Rio de Janeiro com as revistas Fado Corrido e Tiro ao Alvo. Pela sua graça e interpretação foi bem recebida pelo público e pela imprensa carioca. Consolidou seu nome e sucesso com revistas e operetas como Piparote; Disparate; Aqui d’el Rei; O 31; De Capote e Lenço; Tintim por Tintim; O Gato Preto; As 11 Mil Virgens; Rataplan.

No entanto, não foi dessa vez que Beatriz Costa ficou no Brasil. Voltando a Portugal, com reputação de grande artista, passou por várias companhias ao lado de renomados artistas, como Nascimento Fernandes, Manoel de Oliveira e Eva Stachino, quando obteve grande popularidade com o número D. Chica e Sr. Pires, ao lado de Álvaro Pereira.

Em 1927, talvez influenciada pelo furor que o corte à la garçonne de Margarida Max provocou, Beatriz Costa estreou no cinema, com um novo corte de cabelo que se tornaria sensação entre as mulheres: o franjão. A partir daí, como se diz em Portugal, toda a gente sabe o que significa ter uma franja à Beatriz Costa.

A sua segunda visita ao Brasil foi com a companhia portuguesa de Eva Stachino, em 1929. Novamente, a imprensa noticiou o sucesso da atriz, relembrando sua passagem pela América do Sul. Em solo brasileiro, o grupo apresentou a revista Pó de Maio; Lua de Mel; Meia-noite; Carapinhada e A Mouraria, entre outras. Após as apresentações em São Paulo, foi convidada por Procópio Ferreira a integrar a companhia de comédias do ator, mas recusou a proposta.

De volta à Europa, Beatriz Costa fez um documentário chamado Memórias de uma Atriz, contando episódios de sua carreira.

Mas era o teatro a sua grande motivação: "Acordada ou dormindo, o meu sonho constante era o teatro. Absorvia-me todos os pensamentos. Das minhas pupilas não se apagava o fulgor das apoteoses, a atitude, o sorriso, a plástica das estrelas".

Sua atuação no teatro português continuava intensa. Trabalhou, também, com a famosa atriz Corina Freire e atuou nas revistas A Bola; Pato Marreco; O Mexilhão; Pirilau.

Em 1936, estrelou a peça Arre Burro, com grande sucesso.

Em 1939, Beatriz Costa retornou pela terceira vez ao Brasil, dessa vez para uma temporada que se prolongou por 10 anos, a qual considerou os melhores anos da sua vida. Trabalhou durante muito tempo no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro.

Considerada uma sedutora de plateias, Beatriz Costa divertiu o público carioca e se firmou como uma profissional da alegria, como ela mesma se intitulou em livro autobiográfico: "Nunca gostei de contar a minha vida a estranhos… É mais do que isso… É um livro de verdades duras, que conta muito do que se tem passado comigo, para lá da cortina de seda… Profissional de alegrias... é natural que não me detenha em episódios dramáticos".

Do alto de seu 1,53 m de altura, a vedete dos dois países somou o amor do público português ao do brasileiro e construiu uma trajetória digna de respeito.

Morreu aos 88 anos, em 15 de abril de 1996, em Lisboa.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Maria Lino, a rainha do maxixe


Maria Lino era italiana e se chamava Maria Del Negri. Chegou aqui com 14 anos, como dançarina do Alcazar Lyrique. Entrou para a história do teatro musical brasileiro como coreógrafa, considerada uma das maiores expoentes do maxixe – a dança proibida.

Ela estreou no teatro de revista no final do século XIX. Um dos seus primeiros sucessos foi na revista Abacaxi (1893), de Moreira Sampaio e Vicente Reis, no Teatro Apolo (RJ). 

Essa revista satirizava Barata Ribeiro, o primeiro prefeito do Rio de Janeiro (1891-1894) e tinha grandes atores no elenco como Brandão (o popularíssimo), Rose Villiot, João Colás e Matilde Nunes.

Fez várias outras revistas, mas a sua inscrição definitiva como vedete e na história do teatro de revista se deve mesmo ao maxixe (a dança erótica). Não foi apenas pelos seus dotes artísticos que ficou em evidência. Sua beleza impressionava. Era elegante, sensual e provocadora, ao mesmo tempo. Logo no início de sua carreira, teve um caloroso relacionamento com um rico e influente fazendeiro paulista que, para satisfazer a amada, cobria-lhe de joias e roupas caríssimas.

Mas, no finalzinho do século XIX, Maria abriu mão de todo aquele luxo e dinheiro. Desmanchou o compromisso com o fazendeiro para namorar o grande ator Machado Careca. Conhecido por sua feiúra. Careca se apaixonou perdidamente pela jovem vedete. No espetáculo Zizinha Maxixe (1897), a dupla se tornou célebre por lançar o tango brasileiro Gaúcho também conhecido como Corta-Jaca, composição de Chiquinha Gonzaga:

Ai, ai, que bom cortar jaca! Ah!
Sim, meu bem ataca
Corta-jaca assim, assim, assim!
Corta, meu benzinho, assim, assim!
Este passo tem feitiço, tal ouriço
Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo, nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó!

Em cena, Maria Lino e Machado (que mais tarde escreveu os versos da canção) conquistaram o público divulgando a nova dança sensual, o ritmo que, em pouco tempo, ganhou os salões de dança da cidade para horror da sociedade conservadora que considerou o ritmo como chulo, grosseiro e selvagem. Alheia às más línguas, a dupla saía dos teatros e apresentava a dança lasciva também em chopes berrantes, salões e cafés-concertos do Rio de Janeiro.

Enquanto o maxixe conquistava os cariocas, Maria Lino dava continuidade à sua carreira no teatro de revista. Já fazia números de alegoria e começava a estrelar números de cortina. Atuou, já como vedete destacada em espetáculos do grande Arthur Azevedo, como O Jagunço (1898) e Gavroche (1899).

Com o nome consolidado na revista, Maria Lino fez incursões, também, no teatro dramático, como ingênua. Mas foi no musical que apostou todas as fichas de sua carreira.

A dupla com Machado Careca continuava a se apresentar nas Revistas. O maxixe estava na ordem do dia dos salões cariocas, e ganharia novo fôlego em 1906, quando estreou O Maxixe, de Bastos Tigres que, definitivamente, imortalizou o ritmo. Maria fazia a apoteose do espetáculo, lançando Vem Cá, Mulata. Foi um enorme sucesso, que consagrou não só o tango brasileiro, como também a musa desse estilo musical: Maria Lino.

Com o enorme prestígio alcançado como coreógrafa e representante do maxixe, recebeu proposta para uma temporada em Paris. Viajou e largou o apaixonado Machado Careca para trás.

Na França, Maria Lino encontrou um novo parceiro, Duque (um ex-dentista que preferia dançar). Apresentaram-se dançando maxixe, é claro, em casas noturnas e cabarés tradicionais de Paris. Foi um sucesso histórico. A dança caiu no gosto dos franceses que passaram a chamar de tango bresilien. Maria Lino ganhou o título de La reine du tango.

A temporada francesa se estendeu a várias outras cidades europeias, divulgando, sempre com sucesso, o nosso sensualíssimo maxixe.O regresso ao Brasil aconteceu em 1914. Maria Lino retornava diferente: mudara o nome artístico (agora Maria Lina).

Maria era mulher despojada e muito à frente de seu tempo. Era livre, tinha vida amorosa movimentada, não se prendia a ninguém. Não media esforços para conseguir o que queria. Era determinada e, de certa forma, despudorada. Um de seus muito apaixonados chegou a dizer: Era uma demônia. Possuía olheiras lânguidas, que traíam uma vida de vícios inconfessáveis.

Mas Maria não se conformou em ficar eternamente conhecida como dançarina de maxixe. Como a idade começava a pesar, lançou-se como autora teatral. Talvez, sua inspiração viesse de Cinira Polônio.

Em outubro de 1915, estreou o espetáculo Ouro sobre Azul, no Teatro Recreio, alardeando em todos os jornais sua estreia como autora teatral. Além de assinar o texto, Maria também era a estrela da revista originalíssima, feérica, moderna. Foi elogiada pela crítica teatral. A peça fez um grande sucesso e elevou, ainda mais, o nome de Maria Lino (ou Lina). Há boatos de que a peça foi escrita por um revistógrafo experiente, em troca de favores amorosos. Mas histórias de alcova não são confiáveis. E esta suposta fofoca tem acentuado sabor machista.

A carreira de Maria Lino (ou Lina) seguiu até a década de 1920, quando diminuiu o ritmo de suas atividades. A dança se transformou em tema para teoria: ela dava entrevistas e fazia palestras sobre o maxixe: sua origem e desenvolvimento.

A partir dos anos 1930, passou a trabalhar como atriz em companhias de comédia. Uma das últimas companhias em que atuou foi a de Renato Vianna.

Maria Lino também fez cinema. Já bastante envelhecida, participou do filme Maridinho de Luxo (1938), da Cinédia, no papel de sogra do maridinho, o comediante Mesquitinha. Anos depois, faleceu, com idade bastante avançada.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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Cinira Polônio, a divette carioca


Não se pode chamar Cinira Polônio (1857-1938) de vedette, sem antes conhecer um pouco da sua história. Mulher inteligentíssima e avançada para o seu tempo recusou-se a seguir o modelo imposto pela sociedade da época e não se casou. Mesmo assim ou exatamente por isso, teve uma vida amorosa extremamente movimentada.

Independente, assumiu orgulhosamente a carreira de atriz no teatro musical, quando tudo ainda estava começando. Cinira foi uma das mulheres mais cultas e elegantes da época. Falava muito bem o francês e outros idiomas. Era também cantora, compositora e maestrina. Tocava harpa e piano. Além disso, era ousada, pois escreveu uma peça de teatro intitulada Nas Zonas, uma burleta (comédia de costumes com números musicais) que apelidou de revuette (revistinha em francês).

Fez muito sucesso nas duas primeiras décadas do século XX, ocupando o posto de primeira atriz na Companhia de Revistas e Burletas do Teatro São José. Seu nome aparecia no alto, em destaque nos programas da companhia.

Era famosa por dizer bem os textos, mas tinha voz pequena para cantar. Essa sua habilidade de diseuse, de falar bem os textos, era usada não para declamar textos clássicos, mas para ressaltar o duplo sentido, o picante das palavras no teatro de revista. Ela sabia, como ninguém, sublinhar as palavras mais picantes.

A crítica aclamava seu ar refinado, elogiando-lhe a beleza, a graça e a elegância. Cinira representou a síntese entre o erudito e o popular por reunir, em seus personagens, o refinamento e a malícia, uma elegância excitante entre a francesa e a brasileira.

Como atriz, fez comédias, operetas e burletas. E, sobretudo, encenou várias revistas de Arthur Azevedo. Nos palcos também se destacou com belíssimos figurinos e porte, principalmente nas revistas. Ela representava o ideal de uma boa parte da sociedade brasileira que gostaria de viver na Europa.

Dentre os diversos papéis que se destacou, podemos lembrar uma francesa sem-vergonha chamada Madame Petit-Pois da famosa burleta Forrobodó (1912). Pois essa personagem ia parar numa gafieira, falava um francês-português todo atrapalhado e ficava assanhadíssima com o Guarda. Prova de que o seu senso de comédia permitia dessacralizar o francês da elite. Vamos conferir uma pequena cena de Forrobodó:

Guarda – Madama, você me ensina um bocado de franciú?

Madame Petit-Pois – Moi ensina, moi ensina. Marquez moi un rendez-vous.

Guarda – Lá nas Marrecas não vou, e se for é de relance.

Madame Petit-Pois – Après le forrobodó, main-tenant je veux la dance. Avec moi
maxixê.

Apesar das interrupções para se apresentar em Portugal, atuou no teatro musical brasileiro até 1913, fazendo várias revistas de Arthur Azevedo como O Cordão; O Carioca; O Homem; Mercúrio. Também estrelou as revistas Comes e Bebes; Zé Pereira; Pomadas e Farofas; Cá e Lá; Chic-chic; Dinheiro Haja; Berliques e Berloques; Carestia, Ressaca e Companhia.

Foi um marco de liberdade e de emancipação feminina. Conseguiu escapar dos preconceitos. Fez muito sucesso. E morreu esquecida, no Retiro dos Artistas (RJ), em 1938.

Refinada e chic, era coquette, era divette. Mas quando essa brasileira piscava sensual e maliciosamente, era, sim... uma grande vedette!

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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terça-feira, 31 de julho de 2012

Aimée, o demoninho louro

Henrique Fleiuss, caricaturista da revista Semana Ilustrada, sobre a passagem da vedette e atriz francesa pelo Brasil. Desta vez ela é uma cadela que sai do Alcazar perseguida por inúmeros cães.

A mais famosa das vedettes do Alcazar Lyrique foi Mademoiselle Aimée que, segundo revistas da época, era uma mulher provocante, de olhos cintilantes, nariz fino, boca pequena, pernas perfeitas, boa voz e muito inteligente.

Aimée brilhou no Rio de Janeiro durante quatro anos, entre 1864 e 1868, e foi a primeira grande estrela do Alcazar. Por causa dela, o policiamento do Alcazar foi reforçado e um comerciante português matou, a tiros, um soldado da polícia.

Pelo que se sabe, ela voltou rica para a França, levando jóias e mais de um milhão e meio de francos, que teria recebido como presente de seus fiéis admiradores brasileiros.

No dia em que ela foi embora, centenas de mulheres correram para a Praia de Botafogo comemorando e soltando fogos. Elas festejavam enquanto olhavam o vapor contornar o Pão de Açúcar e sumir no horizonte com aquele diabo loiro que havia seduzido seus maridos e lhes causado tantas tristezas e tanta choradeira.

Uma revista da época chamada Semana Ilustrada dedicou uma página inteira ao acontecimento descrevendo a situação em que se encontravam: "Mulheres ajoelhadas, agradecidas pelos céus; padres que voltavam tranqüilamente a rezar as suas missas; roceiros que regressavam às suas lavouras; empregados públicos que iam, de novo, assinar o ponto nas repartições; casais que se reconciliavam; estudantes que prosseguiam nos estudos; soldados que se lembravam de seus quartéis".

Mesmo depois da partida, Aimée continuou nos jornais, sendo protagonista de outros escândalos e histórias. Seus objetos pessoais foram leiloados e dizem que alguns alcançaram preços altíssimos, como um famoso criado-mudo que foi vendido por cem mil réis.

Até Machado de Assis acabou se rendendo ao seu fascínio e publicou, no dia 3 de julho de 1864, o seguinte texto: "Demoninho louro – uma figura leve, esbelta, graciosa – uma cabeça meio feminina, meio angélica – uns olhos vivos – um nariz como o de Safo – uma boca amorosamente fresca, que parece ter sido formada por duas canções de Ovídio, enfim, a graça parisiense, toute pure..".

O mesmo Machado, ainda escrevendo sobre o significado de seu nome, romantizou poeticamente: "...uma francesa que em nossa língua se traduzia por amada, tanto nos dicionários como nos corações".

Mas os méritos de Aimée se deram, não só pela beleza e pelas diabruras, mas também, por sua brilhante atuação no palco. Cantora lírica e dançarina, ela interpretou os grandes papéis femininos das operetas de Offenbach. Foi Eurydice em Orphée aux Enfers; foi Hélène em La Belle Hélène; fez Boulette em Barbe Bleue e foi Penélope em Le Retour d’Ulysse. A todas essas personagens ela sabia dar o tom brejeiro e malicioso, acompanhado de muito talento, técnica vocal e corporal.

Aimée ficou imortalizada nas cartas de seus admiradores, nas crônicas da época e nas palavras depreciativas dos juízes e guardiões da moral. Instalou-se no imaginário carioca como a bela francesa que associou a graça e a alegria de viver ao trabalho competente e profissional.

Ao lado de Aimée, a primeira grande estrela, outras francesas agitaram as noites cariocas e continuaram no Alcazar até 1886, quando foi fechado após um incêndio. De um jeito ou de outro, essas graciosas atrizes realizaram, alimentaram e estimularam sonhos eróticos masculinos. Mais: foram invejadas e admiradas pelas mulheres, no Rio de Janeiro do século XIX. Pois, como boas francesas, eram também elegantes e lançavam modas a ser copiadas.

O Alcazar apontou, ao teatro nacional, um rumo a seguir, despertando na sociedade carioca o gosto pelo mundo colorido e sensual do teatro ligeiro.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano
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As primeiras vedetes do Brasil

Primeiro elas eram estrangeiras. Francesas, para ser mais exata. Vieram com um empresário chamado Monsieur Arnaud que trouxe, em 1859, um tipo de espetáculo de variedades para o Rio de Janeiro, com números de canto, dança, ginastas e um corpo de baile de lindas francesinhas que levantavam a saia e mostravam as pernas envolvidas em justíssimas meias no ritmo do cancã.

Chegaram para se apresentar no Alcazar Lyrique, um teatrinho recém-inaugurado na Rua da Vala, perto da Rua do Ouvidor, no centro da então Capital Federal.

A primeira opereta francesa (a que inaugurou o cancã na França) foi o Orfeu no Inferno, de Ofenbach, e chegou na versão integral ao Brasil, alguns anos antes da Revista. Foi em 1865, sete anos depois da estreia em Paris (em 1858). Para aquela época, foi rápido demais!

Imaginemos nosso cenário: cidade do Rio de Janeiro, ainda pacata, no século XIX, ansiosa por progresso e querendo se atualizar com as novidades européias. Desde 1860, algumas ruas do centro carioca já eram iluminadas a gás. Conseqüentemente, a vida noturna se tornou possível, já que as pessoas poderiam andar mais à vontade, à noite.

Portanto, quando o Alcazar Lyrique foi inaugurado, o centro do Rio já estava iluminado havia cinco anos. A diversão noturna trazia uma cara de modernidade. E tudo que era moderno, naquela época, era importado da França. O Alcazar Lyrique e as novidades da boêmia francesa ofereciam ao público brasileiro o teatro da moda que foi, muito apropriadamente, chamado de Gênero Alegre. Porque ali se apresentavam números musicais alegres, populares, divertidos. Um Teatro de Variedades.

A boemia carioca entusiasmou-se com o glamour das belas francesinhas. E elas abafaram, quando fizeram uma opereta inteira, mostrando o espetáculo divertido com aquele cancã famoso que a gente conhece até hoje.

O que mais poderia ter acontecido no Rio de Janeiro do século XIX? Os homens (de todas as classes sociais) ficaram enlouquecidos com aquelas mulheres, é claro. No início, Machado de Assis fez campanha declarada contra aquelas meias tão justinhas que quase deixavam ver as próprias pernas!

Naquele tempo, as patricinhas e os mauricinhos eram chamados de jeunesse d’ orée (juventude dourada, em francês). Pois os rapazes da tal jeunesse d’ orée começaram a gastar rios de dinheiro no teatro que tinha o formato de um cabaret, ou seja, na platéia, em lugar de cadeiras, havia mesinhas com comes e bebes. Principalmente bebidas. O evento fazia a delícia do público masculino endinheirado (e também de outras classes e posses) que passava a noite fumando e bebendo cerveja.

Esse teatrinho – com formato de café-concerto ou cabaret – foi chamado de café cantante. E, a partir dali, a noite carioca nunca mais foi a mesma. A polícia teve muito trabalho.

Pela imprensa, as meninas do cancã foram chamadas de odaliscas alcazalinas e provocaram críticas severas por causa das piadas de duplo sentido (consideradas grosseiras) e pelos seus corpos que, para a época, eram considerados quase desnudos.

Elas ainda não eram vedettes. Chamavam-se cocottes essas novas deusas da noite. E deram muito que falar.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano
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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pepa Delgado

Pepa Delgado (Maria Pepa Delgado), cantora e atriz de teatro de revistas nasceu em 21/7/1887 em Piracicaba, SP e faleceu em 11/3/1945, no Rio de Janeiro, RJ. Era filha Ana Alves e do toureiro espanhol Lourenço Delgado, que se tornou fotógrafo ao chegar ao Brasil.

Em 1902 veio com o pai para o Rio de Janeiro e, aos 15 anos de idade, se tornou atriz e cantora. Entre 1902 e 1920, atuou em várias revistas encenadas no Teatro São José, no Rio de Janeiro.

Em 1905, gravou para a Casa Edison a cançoneta O abacate e o maxixe Café ideal, ambos da revista Cá e lá, com música da maestrina Chiquinha Gonzaga. No mesmo ano, gravou Um samba na Penha, da revista Avança e A recomendação, de Assis Pacheco.

Em 1912, a Columbia lançou discos seus, nos quais se lia em uma das faces: "Atriz brasileira que tem feito sucesso e arrancado (sic) de nosssas platéias as mais ruidosas manifestacoes (sic)". Em algumas dessas gravações, se apresentou cantando em duetos com Mário Pinheiro, registrando, entre outras, o tango Vatapá, de Paulino Sacramento.

Entre suas gravações, destacam-se ainda a canção Iara (Rasga o coração), de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense e, principalmente, Corta-jaca (Gaúcho), de Chiquinha Gonzaga, sua gravação de maior sucesso, ao lado do cantor Mário Pinheiro.

Em 1920, casou-se com o oficial do Exército Almerindo Álvaro de Moraes, que era tesoureiro do Clube dos Democráticos, onde se tornara mais conhecido pelo apelido de Lambada.

Pepa muitas vezes saiu integrando a comissão de frente no desfile dos Préstitos da terça-feira gorda. Nesse mesmo ano seguiu com o marido para a cidade de Campos-RJ, onde se apresentou em teatros.

Encerrou sua carreira artística em 1924, aos 37 anos de idade. Foi ela quem solicitou a Fred Figner, proprietário da Casa Edison e diretor-geral da Odeon Brasileira, que doasse um terreno em Jacarepaguá para construir o Retiro dos Artistas, situado na Rua dos Artistas, ainda hoje em funcionamento.

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sábado, 15 de outubro de 2011

Margarida Max

Margarida Max
No fastígio do Teatro de Revista do Rio de Janeiro, uma linda mulher de sua voz e de sua beleza, para prestigiar a Música Popular Brasileira, nos espetáculos em que estrelava. Era no palco que se tornava rainha.

A partir de 1920, até meados dos anos 40, uma moreninha paulista, de olhos tentadores, que a lenda garantia ter nascido em Roma e se apaixonado pelo Brasil, foi uma das figuras femininas mais importantes do teatro de revista nacional.

Filha de italianos, nascida em São Paulo e criada em Franca, onde era conhecida como a Margarida do Max, nome de um eterno noivo, rompeu com a cidade e o noivado ao se tornar atriz de uma companhia itinerante que por lá passou.

Margarida Max em 1927
No Rio de Janeiro, adere ao teatro de revista, no qual se torna uma de suas principais vedetes, estrela de grandes montagens, cercada de nomes que ficariam célebres. Sílvio Caldas, Joraci Camargo, Luiz Iglésias, Luiz Peixoto, Olegário Mariano, Vicente Celestino, Otília Amorim, Viriato Correia, Mesquitinha, OduvaldoViana, Palmeirim e tantos outros.

Como as demais prima-donas do teatro de revista, Margarida Max lançava músicas, ficando famosa sua interpretação do samba Braço de Cera, de Nestor Brandão. Mas seu grande êxito foi na revista Brasil do Amor, de 1931, quando lança a versão definitiva de No Rancho Fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo. Um sucesso nacional, que saltou do palco da revista para ser cantado pelo Brasil inteiro.

Margarida não teve carreira longa, morreu aos 54 anos, já retirada. Mas antes viveu anos de glória, como uma das mulheres mais cobiçadas da época.

Fonte: História do Samba - Editora Globo
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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Abigail Maia



Três grandes nomes do rádio, na mesma foto: Rodolfo Mayer, Abigail Maia e Floriano Faissal. Abigail nasceu no século retrasado, ou seja, em 16 de setembro de 1887, à  Rua do Senado, número 7. Aos quinze anos de idade já estava no palco substituindo uma faltosa atriz na companhia teatral da qual sua mãe, Balbina Maia, integrava o elenco.

Sua história é longa e linda. Foi casada com Raul Roulien, primeiro ator brasileiro a ser conhecido em Hollywood, e depois com Oduvaldo Viana, dramaturgo que iria emprestar sua inteligência a serviço da cultura de nosso país, escrevendo novelas que até os dias de hoje são encenadas em diversos canais de televisão.

Abigail Maia, atriz, cantora e bailarina, nasceu em Porto Alegre, RS, em 17/10/1887 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 20/12/1981. Estreou no teatro aos 15 anos de idade, na peça Fada Coral. Trabalhou em inúmeras companhias de comédias e revistas antes de criar sua própria empresa, em parceria com Oduvaldo Vianna.

Em 1921, agregando-se à companhia Viriato Correa e Nicola Viggiani, deu-se a temporada conhecida historicamente como "Movimento Trianon".

Com seu trabalho ligado a um dos mais conceituados comediógrafos do período, valorizou a dramaturgia brasileira e ensejou algumas experimentações renovadoras. Nos anos 40 ingressou no elenco de rádio-atores da Radio Nacional.

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Madureira chorou...

Zaquia Jorge
Zaquia Jorge, atriz, empresária e vedete do teatro de revista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 6 de janeiro de 1924, e faleceu na mesma cidade em 22 de abril de 1957.

Estreou no teatro, como girl, na Companhia de Walter Pinto. Mais tarde, já como vedete, foi para a Companhia Juan e Mary Daniel, no Teatro Follies, em Copacabana. Tornou-se, a seguir, empresária do Teatrinho de Bolso, na Praça General Osório, onde encenou várias peças, em 1951.

Em Madureira, na década de 1950, tornou-se proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira. Era conhecida como a "Estrela do Subúrbio" e "Vedete de Madureira".

Coragem, simplicidade e pailleté

Na Cia. de Walter Pinto, em 27 de abril de 1945, no Teatro Recreio, estava Zaquia Jorge. A revista era Bonde da Laite, revista política feérica, de Luiz Peixoto e Geysa Bôscoli em 2 atos e 23 quadros que atingiu 200 apresentações, sendo prestigiada por mais de 900 mil pessoas e ressaltada pela crítica jornalística.

Participou, também, como corista da célebre revista Canta, Brasil! de Peixoto, Bôscoli e Paulo Orlando, com estréia em 23 de agosto de 1945. O jornalista Salvyano Cavalcanti, no livro Viva o Rebolado, comenta que nesta revista "despontava Zaquia Jorge, com sua beleza esfuziante".

Dercy Gonçalves também tinha a sua trupe e a moça Zaquia lançou seus sorrisos em trabalhos nesta parceria. Fez parte do elenco da revista Sinhô do Bonfim, de Peixoto e Bôscoli, da Companhia Dercy Gonçalves, com estréia datada de 17 de março de 1947 no Teatro João Caetano. Ainda pela observação de Cavalcanti: "subindo a cada peça de girl a soubrette, vedetinha e, logo, estrela."

Enquanto a Cia. de Dercy continuava suas montagens teatrais, na revista Deixa Falar – estréia 15 de maio de 1947, a mudança ocorreria: o elenco reformulava-se e Zaquia, apoiada por Júlio Leiloeiro, traçava novas metas, outros caminhos, rememorando também que obtinha o apoio da crítica especializada devido a sua simpatia, na qual a elegante moça "fazia cada vez mais admiradores", conforme discorre Cavalcanti em seu livro.

Héber de Bôscoli, sobrinho de Jardel Jércolis e Geysa Bôscoli, trabalhava com o programa Trem da Alegria na Rádio Nacional do RJ, porém resolveu investir no formato revista com muita responsabilidade, empresariando e fundando a Organização Teatral e Cinematográfica LTDA., que se dissolveria depois com o passar dos tempos.

Tendo como primeira revista Quero ver isso de perto... de Luís Iglesias, a Cia. De Héber contratou elenco grandioso: Dercy Gonçalves, Oscarito, Renata Fronzi, Iara Sales, dentre outros. Zaquia estava lá, contratada para compor o elenco, estando no palco com a Revista em cartaz no Teatro Carlos Gomes, de 9 de setembro a 17 de novembro de 1949. A estrela contracenara com Oscarito na charge Camisa e no esquete O rádio, no qual nossa querida artista cantava a Penha em um quadro popular.

Com esse novo panorama no universo da diversão, o Teatro de Revista dividiu-se em superproduções para revistas de grande porte e produções mais sucintas para revistas de bolso, encenadas em pequenas salas em vários bairros no Rio de Janeiro, com 150 a 200 lugares. Eram revistas compactadas, com rica estrutura trazendo novamente uma proximidade entre atores e público, resgatando a cumplicidade existente na revista das décadas anteriores, embora apresentando elementos da modernidade revisteira.

Juan Daniel inaugurou o Teatro Follies em 10 de novembro de 1949 e é chegada a hora da moça Zaquia, de belos olhos, despontar – foi contratada pela companhia e promovida a primeira atriz. Destacava-se com Mesquitinha na peça de estréia do Teatro Follies, em Copacabana, no RJ, na empresa Juan Daniel – Já vi tudo, de Mary Daniel e Floriano Faissal.

Em 1950, Juan Daniel e Jorge Murad escreveram uma revista sobre o carnaval, a liberdade existente nessa festa e a descontração dos foliões. Ele vem aí!... tinha direção de recitativo e danças de Mary Daniel e os atores Zaquia Jorge, Evilásio Marçal, Carmen Lamar, dentre outros no elenco.

A revista ficou em cartaz de janeiro até 12 de fevereiro. Seguindo a temporada do ano no Teatro Follies, aponta Tô de olho, com 21 quadros e 1 ato, com o mesmo elenco da peça anterior, ficando em cartaz de 1º de março até 02 de abril. Ainda na mesma empresa, Zaquia atuou na revista Boa noite, Rio, com texto original distribuído em 18 quadros, de Alberto Flores e outros, tendo músicas de César Siqueira e outros compositores.

A estréia aconteceu em 08 de abril de 1950 e permaneceu em cartaz por 3 semanas. A atriz participou dos quadros Boa noite, Rio, Marido Modelo, Responda Segismunda! A criada fez greve, contracenou com Grande Otelo no quadro O novo rico e participou da apoteose final junto a toda a Companhia.

A Companhia de Juan Daniel avançou a década de 50 encenando muitas revistas, porém com diferenciado foco artístico e inegável faro comercial, tendo Luz del Fuego em seu cast. O diretor e pesquisador teatral Delson Antunes, na obra Fora do Sério observa: "Vivendo um período de grande ascensão em sua carreira, a vedete em breve se desligaria da trupe de Juan Daniel para fundar o próprio teatro em Madureira, levando ao subúrbio muitos espetáculos e artistas (...)"

Embora o Teatro de Madureira tenha se configurado posteriormente, em 1952, com muito trabalho e esforço de Zaquia e seu companheiro Júlio Monteiro Gomes, o Júlio Leiloeiro, anteriormente, em 1951, a moça investiu em uma parceria com o ator Fernando Vilar no Teatro de Bolso, localizado em Ipanema (Rua Jangadeiros nº28 A-B) na Praça General Osório.

Zaquia, trabalhando com a comédia, lutou junto ao Serviço Nacional do Teatro através de várias cartas, pedindo apoio ao órgão para auxílio de temporada iniciada em 30 de março de 1951. Constam em documentação da Cia. 11 peças teatrais, dentre elas, A inimiga dos homens - comédia de R. Praxy, com tradução de J. Ribeiro, com sessões noturnas e uma vespertina aos domingos, dividindo-se a comédia em 3 atos, com a morena Zaquia no papel de Maria Cândida.

As pernas da herdeira, de autoria de "De Leone", com direção artística de Esther Leão, foi outra peça de seu repertório, tendo Zaquia como Margot, seguindo-se, assim, a peça O dote, de Arthur Azevedo, a qual a atriz escolheu montar a rigor, com ares de 1907.

Embora todo o esforço tenha sido empenhado para que a Companhia se mantivesse viva em sua criação e com boa manutenção financeira, seus donos propuseram ao Serviço Nacional do Teatro alugar o teatro para que ele não fechasse suas portas. Zaquia preocupava-se com seus companheiros, já que não queria deixar sem trabalho as pessoas que viviam ali em entrega à arte, sendo que pessoalmente tinha o exato conhecimento da batalha por um fascínio – o teatro.

Paralelamente, materializava-se um grande sonho dela, a construção de um teatro no subúrbio. Zaquia percebeu a carência de oferta de espetáculos para o subúrbio e decidiu que o povo que ali morava também poderia ter acesso ao Teatro de Revista, assim como acontecia no Centro e na Zona Sul - bem estruturado e com excelente qualidade.

Em parceria com Julio Leiloeiro e, com peculiar cuidado e estima a linguagem artística, construiu o prodigioso Teatro Madureira, situado à rua Carolina Machado, 386, em frente à estação de trem do bairro. Neste bairro, trouxe a alegria do espetáculo ao público, o entendimento da arte teatral, estabeleceu a criação de uma platéia em uma região que não era bem agraciada com diversões dessa espécie.

O teatro possuía 450 lugares, 12 camarins e muitos camarotes. Com estréia marcada para 23 de abril de 1952, o teatro inaugurou oficialmente em 30 de abril, com a revista Trem de Luxo, escrita especialmente para sua estréia por Walter Pinto e Freire Júnior, com 22 quadros, tendo como cômico Evilásio Marçal. Zaquia participou dos quadros Dona Boa e Brotinhos, Campanha das donas de casa, Velhos amigos, Existencialismo e a apoteose Exaltação à Bahia.

Inicialmente, Zaquia enfrentou uma platéia totalmente desacostumada a ter um teatro tão próximo e a usufruir desta iguaria. O público ainda não havia descoberto o teatro, isto acarretou problemas de bilheteria, mesmo assim tal circunstância não abalou a moça que, com seu senso de marketing aguçado, empregou estratégias para atrair as pessoas - facilitou o acesso das pessoas ao teatro, reduzindo o preço do convite, divulgando constantemente, deixando pessoas assistirem de graça aos espetáculos.

Zaquia permaneceu investindo junto a Júlio no teatro, além do constante diálogo com o S.N.T., escrevendo cartas e nem sempre obtendo o resultado desejado. Buscava apoio das entidades, ajuda financeira para melhor realizar o seu trabalho, pedidos de reavaliação de tarifas pelos direitos autorais das músicas a serem utilizadas nas montagens da empresa, embora sempre tenha tido que segurar firmemente as rédeas financeiras de seu sonho.

Em 1952, constavam na Companhia Zaquia Jorge 17 artistas e, em 1955, 12 artistas e 14 girls, dentre todos, Salúquia Rentini e Carmen Lamar. A atriz fazia questão de fomentar a montagem de peças de autores e compositores nacionais e, juntamente ao cotidiano do teatro, com esforço esmerado, funcionava uma escola para jovens artistas, dando oportunidade aos novos artistas, lá aprendiam representação, canto e coreografia. Muitos por ali passaram e seguiram desenvolvendo trabalhos em outros teatros como Gloria May, Lia Mara, dentre outros.

Avançando a década de 50, o número de peças existentes em revista, oscilava. Apesar da alastrada afeição que a televisão e as telenovelas causaram na população, a revista caminhava, estrelando os palcos cariocas. Ronaldo Grivet, autor da peça A vedete do subúrbio, feita para homenagear Zaquia, conta-nos em sua pesquisa, que o teatro passou a ser o mais freqüentado da cidade, com carros vindos de todos os bairros, e que se prezava pelo uso do duplo sentido nas peças – elemento original do gênero – não eram utilizados palavrões ou assuntos como bebida e tóxico, raramente inseria tipos políticos e destacava a alegria. Teatro de boas intenções, de verdadeira feitura na Arte – esta era a esfera do Madureira e a Companhia Zaquia Jorge.

Em 1953, algumas revistas se destacaram, dentre elas, montagens do Teatro Madureira – Ajuda teu Irmão, Chegou o Guloso, com a grande cantora Aracy Cortes – dama da voz e dos palcos - em participação especial, A galinha comeu, O baixinho é menor e Tá na hora.

Além das obras citadas, o palco do Teatro Madureira projetou as seguintes peças: O negócio é rebolar, Confusão na Arena, Macaco, olha o teu rabo, Tira do dedo do pudim, Bota o Café no fogo, Boca de espera, Vê se me esquece, Pintando o sete, Satélite de Mulheres, Garoto Enxuto, Mengo, tu és Meu, Vai levando, Curió, Tudo é lucro, O pequenino é quem manda, Vamos brincar, Vira o disco, Banana não tem caroço, Alegria do Peru, Sacode a jaca, Mistura e manda, Tudo de fora, Você não gosta.

Zaquia foi homenageada com os sambas Zaquia Jorge – vedete do subúrbio - estrela de Madureira, de Avarese, sendo tema da Escola de Samba Império Serrano, em 1975 e Madureira Chorou, de Carvalhinho e Júlio Leiloeiro, e uma peça A vedete do subúrbio, de Ronaldo Grivet e José Maria Rodrigues.

Madureira chorou

Zaquia Jorge teve morte trágica, na praia da Barra da Tijuca, quando tomava banho de mar em companhia de várias outras artistas. Era comum as vedetes se bronzearem 'al natural' na Barra, por ser uma praia deserta na época. A edição do jornal O Globo de 23 de abril de 1957 assim noticiou a morte de Zaquia Jorge:

"Rapidamente, a notícia foi propagada, e grande número de atores da Companhia da Revista Zaquia Jorge e de outras empresas chegou ao local. Em poucos instantes as brancas areias da praia foram pisadas por centenas de pés, já que também foi grande o número de curiosos que acorreu.

Quando um guarda-vidas retirou, do perau em que caíra, o corpo da vedete, Celeste Aída, uma das que a acompanhavam, abraçou-se ao cadáver, chorando copiosamente. Celeste Aída vira a amiga desaparecer e tudo fizera para salvá-la, não o conseguindo porque era muito fundo o perau. Enquanto ela se esforçava, os dois homens que integravam o grupo e que estavam longe aproximaram-se. Na areia, muito assustadas, cinco girls assistiam à luta de Celeste Aída, sem poder ajudá-la.

Afinal, cansada e desanimada, Celeste Aída voltou às areias, Zaquia Jorge desaparecera e, quando foi encontrada, já estava quase sem vida. Morreu pouco depois..."

"Foi sepultada no Cemitério de São Francisco Xavier, pranteada por artistas e populares, que a reverenciaram como a pioneira do teatro suburbano carioca. Das 6h às 16h30m de ontem, mais de 4.000 pessoas afluíram ao Teatro de Madureira, em cujo palco ficou exposto o corpo da artista. Com a platéia e os balcões apinhados, o ambiente fazia lembrar um grande dia de récita. Contudo, a emoção do público era intensa, guardando os presentes muito respeito.








Joel de Almeida
No palco, no alto, por cima do caixão de Zaquia Jorge, havia um grande quadro de São Jorge. A artista morrera na véspera do dia consagrado ao santo. Ontem fazia cinco anos que inaugurara seu teatro, com a peça Trem de luxo, de Válter Pinto e Freire Júnior. 

Sobre uma fileira de dez cadeiras havia dezenas de coroas entre elas, do Teatro Santana (São Paulo), do Corpo de Bombeiros, das escolas de samba Sampaio e Império Serrano, de inúmeras entidades e figuras da arte e de outros setores. O povo humilde do subúrbio formou filas, subindo ao palco para dar seu último adeus a Zaquia Jorge..."

Em sua homenagem foi composta a música "Madureira chorou", um samba de sucesso no carnaval de 1958.

Madureira chorou (samba, 1958) - Carvalhinho e Julio Monteiro (marido de Zaquia)

Madureira chorou,  /  Madureira, chorou de dor,
Quando a voz do destino,  / Obedecendo ao divino,
A sua estrela chamou.

Gente modesta,  /  Gente boa do subúrbio,
Que só comete distúrbio,  / Se alguém os menosprezar,
Aquela gente,  /  Que mora na Zona Norte,
Até hoje, chora a morte,  / Da estrela do lugar.

Filmografia

Sob a Luz de Meu Bairro (1946); Fantasma por Acaso (1946); Caídos do Céu (1946), Pinguinho de Gente (1949), A Serra da Aventura (1950), Aguenta Firme, Isidoro (1951), A Baronesa Transviada (1957).

Fontes: Wikipédia - Zaquia Jorge; inmemorian - Zaquia Jorge; João do Rio - Zaquia Jorge – coragem, simplicidade e pailleté; MPB CIFRANTIGA - Músicas e cifras; Jornal O Globo (23 de abril de 1957).
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