domingo, 13 de julho de 2014

Seleção filipesca e o Salim


Então? Chega de falar de Copa, não é? Uma TV brasileira, dona da mídia, só tenta explicar e as outras daqui, pelo que me parece, nem aí ... Passou, então. A FIFA manda ver e entendam como quiserem ...   

Salim e Samira chegam ao consultório de um terapeuta sexual.

— O que posso fazer por vocês?

Salim responde:

— O senior, bur vavor, bode ver nois transando?

O médico olha espantado, mas concorda. Quando a transa termina, o médico diz:

— Não há nada de errado na maneira como vocês fazem sexo.

E então o médico cobra R$ 70,00 pela consulta.

Isto se repete por várias semanas! O casal marca horário, faz sexo sem nenhum problema, paga o médico e deixa o consultório. Finalmente o médico resolve perguntar:

— O que vocês estão tentando descobrir?

Daí Salim responde:

— Nada. A broblema é que Zamira é casada e Salim não bode ir no casa dela. Eu também sou casado e Zamira não bode ir na casa de Salim. Na Play Love Motel, um quarto custa R$ 140,00. Na Fujiama Motel custa R$ 120,00. Aqui nós transa por R$ 70,00, com acompanhamento médico, tem um atestado e recibo, Salim reembolsa R$ 42,00 bela UNIMED e ainda tem uma restituição da IR de R$ 19,20. Tudo calculado, Salim só gasta R$ 8,80.


Fontes: Piadas disseminadas pela Net; Copas realmente da FIFA.

Ouro maldito


“Chegara eu a Pirapora, nas margens do caudaloso São Francisco, em noite quente, mas de chuva forte, que me não permitiu sair do hotel. Após o jantar, servido o café, levantei-me da mesa juntamente com outro hóspede, que ali morava e que comigo havia palestrado durante a refeição. Parecia ele homem viajado e experimentado nas coisas do sertão mineiro.

Para mim, que ali ia pela primeira vez, a palestra era instrutiva e convinha mantê-la. Indagando o nome, disse-me ele que se chamava João José de Freitas, mas que era conhecido em todo o sertão como Januário, por ter nascido na cidade de Januária, que, rio abaixo, dista de Pirapora cerca de 40 léguas.

Dando-lhe também o meu nome, convidei-o a passarmos a uma larga varanda que dava para o lado do rio. Mas Januário preferiu uma sacada que dava para a mata, justamente em sentido oposto ao rio.

Acompanhei-o sem protestar, mas estranhando intimamente aquela preferência. O arguto olhar do sertanejo, não escapou, porém, a minha estranheza íntima.

Logo que nos sentamos em cômodas cadeiras com fundo tecido em cordas de palha de milho, ofereceu-me um cigarro da mesma palha, e, em preâmbulos, foi dizendo:

— Seu doutor está estranhando eu não querer ficar do lado do rio ... Mas é que o rio me entristece muito, principalmente à noitinha.

— Mas por que lhe acontece isto, seu Januário?! ... ao senhor, que parece homem habituado ao sertão e aos caudalosos rios deste grande vale!

— É por isto mesmo, seu doutor. Quem vê essas águas não sabe quanta coisa triste elas escondem. Vou lhe contar um fato que se passou comigo e que mostra a razão por que me entristeço quando estou à beira dum rio.

Há dez anos, éramos três amigos: eu, o Raimundo e o Celestino; todos três muito unidos pela luta constante na vida que levávamos como faiscadores e garimpeiros. A busca ao ouro e ao diamante, nas cabeceiras deste grande rio e nos seus afluentes, era nossa única ambição. Onde havia notícias dessas coisas preciosas, lá estávamos nós trabalhando, algumas vezes em vão; outras, porém, ganhando muito, mas sempre gastando muito, também. O que vem fácil, fácil vai.

Um dia soubemos que neste rio São Francisco, um pouco abaixo daqui, entre as bocas das Velhas e do Jequitahy, havia naufragado uma embarcação que vinha de longe, lá do Paraúna, e ia para Juazeiro, na Bahia, levando pesada carga de ouro e de diamantes.

Um parente do Raimundo tinha assistido ao naufrágio e marcou o lugar certo em que afundou o barco. Era junto a um grande penedo a pique, que forçava o rio a fazer uma volta ligeira e perigosa, em garganta apertada com muita correnteza.

Nós três vimos logo ocasião de fazer fortuna. E resolvemos empreitar o salvamento do tesouro, com a vantagem de metade do que pudéssemos arrancar do fundo do rio.

No momento, porém, era impossível. O rio estava de enchente e as chuvas turvavam muito as águas. Tivemos que esperar mais de mês pela vazante.

Já sabíamos, porém, que o lugar era fundo e dava muita piranha, de modo que o trabalho só podia ser feito com escafandro. Por isso, enquanto esperávamos a vazante, o Celestino foi ao Juazeiro buscar um escafandro de um amigo dele, que o havia comprado a um embarcadiço em São Salvador.

Mas o escafandro tinha os tubos de borracha vermelha, cor que atrai a piranha, porque ela pensa que tudo que é vermelho é carne. Resolvemos, entretanto, o caso, cobrindo os tubos com tiras de metim preto.

E quando as águas baixaram e clarearam, lá fomos nós rio abaixo, com o nosso barco bem equipado para trabalhar o escafandro.

A princípio, custamos a encontrar sinais do barco naufragado. Mas, descendo um pouco, a uns trezentos metros abaixo do lugar marcado pelo cunhado do Raimundo, conseguimos ver a proa de um barco atolado no fundo. Não podia ser outro.

Como prevíamos, o lugar era muito fundo. Só mesmo com escafandro se podia chegar lá.

Amarramos o barco com espias em terra, porque a poita não tinha firmeza para aquela corrente e precisávamos fixar bem o barco, porque o trabalho era demorado.

Feito isso, tiramos a sorte qual de nós três tinha que descer no escafandro. Caiu para o Raimundo, que não fez cara-feia. Era assim que nós trabalhávamos.

A princípio, tudo ia muito bem. Mas, quando o Raimundo fez o sinal de que tinha tocado o fundo, dando dois puxões no cabo, depois de o afrouxar duas vezes, o metim preto, devido ao roçar do cabo, soltou-se num pedaço, descobrindo o tubo vermelho. E logo apareceu uma piranha assanhada. Bati na água com o remo para espantar o peixe. Mas o Celestino achou melhor mergulhar na água para tornar a cobrir o tubo. Não achei bom: disse a ele que as piranhas podiam vir em maior número.

Celestino espiou bem, e, vendo que era uma só, perigosa para o tubo e não para ele, resolveu mergulhar, com o que acabei concordando.

Mas, tão logo ele caiu n’água e pegou o tubo, o rio empreteceu... Saia piranha de todo lado. . . Não se via mais nada. . . Bati com os remos n’água, sem resultado. . . Em vez de subir o Celestino só subia sangue.

Experimentei o tubo: já estava cortado. . . Puxei o cabo: estava partido.

Larguei a bomba de ar ... larguei tudo, para pegar nos dois remos, ... e entrei bater na água como um possesso.

Bati muito, bati até não poder mais, não sei por quanto tempo. . . Em um ponto que a luz era mais forte, vi, no meio do bando de piranhas esfaimadas, os ossos do Celestino, já quase esqueleto só! ... os pelos me arrepiaram em todo o corpo e eu não vi mais nada!

Quando voltei a mim, estava deitado no fundo do barco, que, tendo quebrado as amarras, vogava rio abaixo, volteando em um remanso.

Tinha perdido um remo ... estava escurecendo ... fiquei apavorado!

Com o remo que ficou, remei febrilmente para terra, e conseguindo encostar o barco na praia do remanso, saltei horrorizado, fugindo a todo fôlego daquelas águas tenebrosas.

Andei algumas léguas, sem rumo, até que, perdendo as forças cai sem sentidos. Só acordei ao amanhecer, como quem acorda de terrível pesadelo. Não queria acreditar no que tinha acontecido.

Procurei, mais calmo um pouco, tomar alturas, para saber onde estava. Fiquei satisfeito quando vi que estava na estrada que vai da Barra do Jequitahy a Guaicuhy, cidade em que morava um amigo nosso, o Zé Vicente. Para lá fui, mais morto do que vivo.

Em duas palavras, contei o caso ao Zé, bebi um trago, comi um pouco, sem saber o que ... e só fui descansar no barco do Zé, com quem desci o rio novamente, até o lugar sinistro.

Mas não podíamos ver mais nada. Por ter chovido nas cabeceiras dos rios, a água, que na véspera era clara, estava agora barrenta. Deitamos garateias a tarrafa, para ver se agarrávamos qualquer coisa: o Raimundo no escafandro ou os ossos do Celestino. Nada conseguimos.

Todos os dois ficaram lá, e o tesouro também. Ninguém tentou tirar do fundo aquele ouro maldito!

Depois dessa luta em vão, seu doutor, me veio um febrão, que durou mais de 15 dias. E a toda hora eu via o Celestino e o Raimundo lutando com as piranhas, ao mesmo tempo que uma voz me dizia que aquilo era o prêmio da ambição.

Que horror! seu doutor! Nunca mais peguei na bateia, nunca mais entrei num vau ...

— Mudou de vida, então, seu Januário? — perguntei eu para mudar a conversa.

— Mudei, sim, senhor. Agora só compro e vendo ouro e pedras, com pequeno lucro ... E vou bem, graças a Deus. Só quando me lembro dessas coisas é que ainda me arrepio todo, como o senhor está vendo.

— Mas, seu Januário, para que recorda essas coisas tristes?

— É a sina, seu doutor! ...

— Mas vamos esquecer ‘— concluí eu. — Vamos tomar um trago e jogar um pouco ...

— Ah! o senhor gosta do trago ?!. Então vai beber produto da minha terra.,. Oh! Quincas! (Grita o Januário para o copeiro). Traz aí uma “Januária” ... daquela que a tia Zeferina mandou no Natal! ...

Servida a bebida, pura de cana, fomos jogar, tendo eu desviado a conversa do caso macabro.  Mas, quando acabamos e nos demos o “boa-noite”, o Januário falou:

— Seu doutor, quero um favorzinho seu.

— !?! ...

— Reze um Pai-nosso pro Raimundo mais o Celestino ... Eles merecem.”

(Original de Felix Sampaio)


Fonte: revista semanal "Carioca", de 12/09/1936.

sábado, 12 de julho de 2014

A metamorfose

Ao despertar Gregório Santos uma manhã, após um sono intranquilo, encontrou-se em sua cama convertido em um Boeing 707. Achava-se meio bambo sobre o trem de aterragem e ao tentar alçar a cabeça notou que ela estava perfeitamente fixa como todas as aeronaves, mormente as de procedência estrangeira. Ao seu redor, reminiscências das casas de seus vizinhos, sombreadas por suas possantes asas bimotor jatadas. De seu polpudo leito, somente a recordação envolta nos escombros de sua vasta mansão, onde, na certa, seus velhos haviam se oporiferizado sonhando com leões.

— Que me aconteceu, senhor dos desgraçados?

Apesar de Castro Alves “approach” nada ouviu senão um tonitruar de turbinas à jato e uma vozinha dentro de si:

— Senhores passageiros, favor apertar os cintos de segurança e não fumar durante a decolagem.

Não era sonho. Havia se convertido realmente em colosso aéreo e muito provavelmente da TAP. Não muito satisfeito em sua condição luso-aeroplana, Gregório refletiu:

— “E se eu dormisse um pouco? E’ bem possível que, ao acordar, tudo volte ao normal”.

Mas, Gregório havia se acostumado a dormir do lado direito, e à primeira tentativa de inclinar suas reluzentes asas, ocasionou o que se chama de uma celeuma. Gritos irromperam de seu ventre, gente correu à volta, e um carrinho vermelho fez evoluções e se aproximou langorando um sirenear. Gregório percebeu angustiado que iam decolar.

No ar sentiu-se melhor e roncou satisfeito. No céu estava mais perto de sua santa família. Fitou os urubus com desprezo e pensou, já cônscio de suas novas responsabilidades:

— “Muito pior seria se eu fosse um helicóptero”, e recitou o soneto “Círculo vicioso” tão machadianamente, que foi sua também a surpresa que fez a aeromoça mandar os passageiros apertar o cintos ante tamanho rugido.

— Este avião está louco! — bradou o comandante.

Pelo que pouco tempo depois foi vendido às “Aerolineas Argentinas” sendo, hoje em dia, mundialmente conhecido, como “El Niño Roncador”.
(Por Ildázio Tavares)



Fonte: "O Capitão" - Ano I - Nº 18 - Editorial e desenhos de Jaguar e Max - Jornal "Última Hora", de 26/10/1963.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Os sintomas

Há dias que vinha sentindo uma dorzinha fina na virilha. Rosamundo, com aquela distração que é a sua bandeira de comando, só começou a senti-la provavelmente depois de muito tempo, pois até parador o Rosa é distraído. Na tarde em que percebeu a dorzinha, pensou: "Devo ter me contundido durante o futebol", sem se lembrar de um detalhe importante, ou seja, nunca jogou futebol.

À noitinha a dor diminuíra. Devia ser íngua. Mas Rosamundo é um sujeito muito impressionável. Para se sugestionar é quase um botafoguense, embora torça pelo Andaraí, time que já saiu da liga, mas ele ainda não percebeu.

Dias depois, visitando um amigo, com o qual estava brigado mas não se lembrava, encontrou-o acamado, sob a ameaça de seguir a qualquer momento para uma casa de saúde, onde seria operado, em regime de urgência, de uma hérnia.

Entre gemidos o amigo explicava como aquilo começara. Sentira uma dorzinha na virilha. Logo que começou pensou que era uma íngua e nem deu importância. Já nem se lembrava mais da dorzinha quando ela voltou com uma violência quase insuportável. Sentiu primeiro a impressão de que as calças estavam lhe apertando, mas as calças que vestia eram até folgadinhas. A impressão, no entanto, ficara, até dar naquilo: ali deitado, à espera do médico para entrar na faca.

E o amigo gemia. Foi quando chegou o médico, examinou assim por alto e sentenciou: "Temos de operar imediatamente. É uma hérnia estrangulada". E lá fora o amigo de Rosamundo a caminho do hospital. O Rosa, por sua vez, foi para casa, mas não tirava da cabeça a lembrança da dorzinha que sentira, parecidíssima com a do doente.

Sua suspeita transformou-se em pânico na manhã seguinte. Acordara tarde e atrasado para um encontro. Vestira-se no quarto escuro, para não acordar a mulher, e se mandara. Ainda não chegara ao encontro e todos os sintomas que levaram o outro para a operação de emergência começaram ase manifestar nele. Até aquele detalhe da calça que parecia apertar, mas estava folgada a olhos vistos, ele sentia.

Disparou para casa e foi logo pedindo o médico. Estava com hérnia. Deitou-se vestido mesmo, com medo de piorar, e a mulher apavorada começou a telefonar para o médico. Chamado assim às pressas, veio imediatamente. Entrou no quarto, olhou para a cara impressionantemente pálida de Rosamundo e mandou que ele se despisse para o exame.

E foi aí que o Rosa percebeu que, em vez de cueca, vestira de manhã a calcinha da mulher.


Fonte: "Gol de Padre e Outras Crônicas" — Stanislaw Ponte Preta — Editora Ática.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Zezinho e o coronel

O coronel Iolando sempre foi a fera do bairro. Quando a patota do Zezinho era tudo criança, jogar futebol na rua era uma temeridade, porque o Coronel, mal começava a bola a rolar no asfalto, saía lá de dentro de sabre na mão e furava a coitadinha.

Teve um dia que Zezinho vinha atacando pela esquerda e ia fazer o gol, quando o Coronel da Polícia Militar, naquele tempo ainda capitão, saiu e cercou o atacante, de braços abertos. Parecia um beque lateral direito, tentando impedir o avanço adversário. Por amor ao futebol, Zezinho não resistiu, driblou o garboso militar e entrou no gol com bola e tudo. Ah! rapaziada ... foi fogo.

O então Capitão Iolando ficou que parecia uma onça com sinusite. Ali mesmo, jurou que nunca mais vagabundo nenhum jogaria bola outra vez em frente de sua casa. E, com a sua autoridade ferida pelo drible moleque do Zezinho, botou um policial de plantão em cada esquina, durante meses e meses. No bairro havia assalto toda noite, mas o Coronel preferia botar dois guardas chateando os garotos a deslocá-los da esquina para perseguir ladrão. Isto eu só estou contando para que vocês sintam o drama e morem na ferocidade do Coronel Iolando.

Prosseguindo: ninguém na redondeza conseguia entender como é que aquele Frankenstein de farda podia ter uma filha como a Irene, tão lindinha, tão meiga, tão redondinha. E entre os que não entendiam estava o mesmo Zezinho, cuja patota, noutros tempos, batia bola na rua.

Muito amante da pesquisa, Zezinho foi devagarinho pro lado da Irene. Primeiro um cumprimento, na porta do cinema, depois um papinho rápido ao cruzar com ela na porta da sorveteria e foi-se chegando, se chegando epimba... desembarcou os comandos. Quando a Irene percebeu, estava babada por Zezinho. Se ele quisesse ela seria até o chiclete dele. Claro, o namoro foi sempre à revelia do Coronel Iolando, que não admitia nem a possibilidade de a filha olhar pro lado, quanto mais para o Zezinho, aquele vagabundo, cachorro, comunista. Sem paqueração não há repressão.

O pai não sabia de nada e a filha foi folgando, até que chegou um dia, ou melhor, chegou uma noite a Irene tinha saído para ir à casa da Margaridinha, de araque, naturalmente, e na volta, depois de ficar quase duas horas agarrada com Zezinho debaixo de uma jaqueira, na segunda transversal à direita, permitiu que o rapaz a acompanhasse até o portão. Coincidência desgraçada: o Coronel Iolando estava se preparando para sair e ir comandar um batalhão no combate à passeata de estudantes. Chegou à janela justamente na hora em que Irene e aquele safado chegavam ao portão. Tirou o trabuco do coldre e desceu a escada de quatro em quatro degraus, botando fumacinha pelas ventas arreganhadas. Parecia um búfalo no inverno. Não deixou que o inimigo abrisse a boca. Berrou para Irene:

— Entre, sua sem-vergonha — e a mocinha escafedeu-se. Virou-separa o pobre do Zezinho, mais murcho que boca de velha, ali encolhidinho, e agarrou-o pelo cangote, suspendendo-o quase a um palmo do chão, e o rapaz ia até dizer "Coronel, o senhor tirou o chão de baixo de mim", pra ver se com a piadinha melhorava o ambiente, mas não teve tempo:

— Seu cretino — berrou Iolando — está vendo este revólver?(Zezinho estava). Pois eu lhe enfio o cano no olho e descarrego a arma dentro da sua cabeça, seu cafajeste. Está entendendo?(Zezinho estava). E vou lhe dizer uma coisa: está proibido de continuar morando neste bairro. Amanhã eu irei pessoalmente à sua casa para verificar se o senhor se mudou, está ouvindo?(Zezinho estava). Se o senhor não tiver, pelo menos, a cinquenta quilômetros longe desta área, eu passarei a enviar uma escolta diariamente à sua casa, para lhe dar uma surra. Agora suma-se, seu inseto.

O Coronel soltou Zezinho, que, sentindo-se em terra firme, tratou de se mandar o mais depressa possível. O Coronel, por sua vez, deu meia-volta, entrou em casa, vestiu o dólmã e avisou à filha que quando voltasse ia ter. O Coronel Iolando foi cercar os estudantes na passeata, houve aquela coisa toda que os senhores leram nos jornais e, quando retornou ao lar, encontrou a esposa muito apreensiva:

— Não precisa ficar com esse olhar de coelho acuado, sua molenga — avisou Iolando — Eu só vou dar uns tapas na sem-vergonha da nossa filha.

— Eu não estou apreensiva por isso não, Ioiô (ela chamava o Coronel de Ioiô), Eu estou com pena é de você.

— De mim??? — o Coronel estranhou.

— É que a Irene e o Zezinho saíram agora mesmo para casar na igreja do Bispo de Maura. Deixaram um abraço pra você.


Fonte: "Gol de Padre e Outras Crônicas" — Stanislaw Ponte Preta — Editora Ática.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A pneumonia e a velhice atual

"A pneumonia ainda não ganhou o respeito que merece”. Essa é a frase que Orin Levine, pesquisador da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, tem na ponta da língua quando começa a falar da doença. Líder do esforço mundial por fundos para a pesquisa de vacinas, Levine lamenta que ainda persista a idéia de que se trata “apenas” de uma ameaça aos idosos. Segundo ele, isso ajudou a jogar a pneumonia para segundo plano. “A verdade é que muita gente não se dá conta de que esse é um problema de saúde global”, lamenta.

Em todo o planeta, a inflamação pulmonar é uma das principais causas de morte de milhões de idosos e crianças. “A população mundial está envelhecendo, o que certamente levará ao aumento explosivo de casos. Além disso, os agentes do mal estão ficando muito resistentes e isso torna o tratamento cada vez mais difícil”, explica Keith Klugman, professor de Saúde Global da Universidade Emory, também nos Estados Unidos.

Há quem diga que a pneumonia não é uma única doença, e sim várias. Os inúmeros agentes que ocasionam a inflamação dos pulmões, a dificuldade de descobrir qual deles levou ao mal e a crescente resistência aos antibióticos são hoje os grandes desafios da Medicina frente à encrenca. “Diagnosticar os sintomas é fácil. O difícil é saber qual microorganismo é o culpado”, justifica Levine. “Não há como coletar espécimes dos pulmões. Além disso, os testes feitos nas vias aéreas superiores e no sangue falham em quase metade dos episódios.”

Para Peter Appelbaum, especialista americano em resistência a antibióticos da Pennsylvania State University, a grande dificuldade é tratar a pneumonia bacteriana. “Além do pneumococo, uma série de outras bactérias pode causar a doença. Por isso, a terapia com antibióticos muitas vezes é empírica para ser capaz de cobrir uma grande variedade de organismos”, explica.

Veja como a pneumonia se desenvolve

Ataque impiedoso

A infecção ataca um ou ambos os pulmões, sobretudo quando o sistema de defesa foi debilitado por outra doença, como gripe, tuberculose, alcoolismo, fumo, diabete e males do coração

Abrigo nos alvéolos

Basta um espirro de alguém infectado para que o agente da doença — vírus, bactéria ou fungo solto no ar — chegue aos pulmões. Mas esses microorganismos também podem se alojar ali depois de pegar carona na corrente sangüínea. Uma vez nos pulmões, encontram abrigo nos alvéolos, pequenas estruturas em forma de saco onde acontecem as trocas gasosas.

Muco barra o ar

Eles se reproduzem rapidamente, causando uma infecção. Em resposta, o corpo produz pus e plasma, que se acumulam dentro dos alvéolos, prejudicando a troca de gases. Daí a dificuldade para respirar, que, nos casos graves, pode levar à internação.

As bactérias se espalham

As complicações mais comuns são o derrame pleural, que é o acúmulo de líquido entre as camadas da membrana que reveste os pulmões e a cavidade torácica. Outra encrenca é a bacteremia, quando as bactérias infestam a corrente sangüínea. Aí, podem provocar a morte.

E fique de olho nos sintomas:

- Calafrios
- Febre alta
- Suor intenso
- Dor no peito e dificuldade para respirar
- Falta de ar
- Tosse com ou sem catarro
- Fadiga, moleza, prostração


Fonte: Saúde / M de Mulher / Texto: Vanessa de Sá

Pintas: nem todas são perigosas

Nem todas as pintas são perigosas, nem é necessário extraí-las, mas é preciso avaliá-las constantemente. Elas preocupam, mas não deixam de ser charmosas, dependendo do lugar em que apareçam. Mas, devido à relação com o câncer de pele, vale a pena conservar as pintas? Se ocorrer uma análise regular dos sinais, realizados pelo médico dermatologista, não existe problema em mantê-las.

Nem todas as pintas oferecem perigos. Pessoas que têm muitos sinais sofrem mais riscos de contrair tumores na pele, inclusive o melanona, que pode sofrer metástese. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, o câncer de pele corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados no país, porém o melanoma representa apenas 4% desses tumores. O melanoma pode se desenvolver a partir de uma pinta perigosa, ou exposição exagerada ao sol. Já os tipos mais brandos de câncer de pele, como o carcinoma basocelular e espinocelular, não têm relação com pintas.

As associações médicas desenvolveram o padrão ABCDE para análise. A de assimetria, quando um lado difere muito do outro; B de bordas, em que os contornos são irregulares, há reentrâncias para dentro e para fora; C de cor, quando a coloração é irregular; D de diâmetro, em que acima de 6 milímetros o risco de melanoma aumenta; e E de evolução, as que possuem crescimento acelerado.

O exame é realizado em consultório, através do dermatoscópio, aparelho portátil com lentes que aumentam de 10 a 70 vezes o tamanho da pinta e que identifica sinais precoces de câncer de pele.

Mas o diagnóstico final só é dado após o exame no laboratório das células removidas da lesão. Se o câncer for detectado, o médico irá extrair a pinta e o tecido ao redor. A aplicação de quimioterapia e imunoterapia dependerá do estágio do tumor.


Fonte: Bem Star

sábado, 5 de julho de 2014

Doenças em salões de beleza

Muitas pessoas não se dão conta das doenças que podem ser transmitidas em salões de beleza. Caso não sejam observados cuidados relacionados à higiene, o risco de contrair doenças é grande.

Segundo a terapeuta capilar Sandra de Assis Maia, da clínica Alto Stima, o número de doenças causadas pelo uso compartilhado de objetos vêm crescendo a cada dia: "As pessoas estão sempre com horários corridos, e isso impede que elas percebam que ao usar objetos compartilhados nos salões de beleza podem estar adquirindo algumas doenças, principalmente quando falamos em objetos cortantes. A pessoa pode ser infectada por fungos, bactérias e até mesmo vírus ao cuidar dos cabelos no salão", afirma a terapeuta.

Mas calma, não se desespere. Também existem muitos mitos quando se fala sobre o uso de objetos compartilhados nos salões. Não é preciso deixar de frequentar o salão, mas é hora de ficar mais atenta. Veja o que é mito e o que é verdade:

Escova de cabelo pode transmitir doenças - Verdade. O compartilhamento desse objeto contaminado pode levar a uma infecção fúngica (micose) conhecida como pitiríase versicolor.

Retirar os fios de cabelos da escova é o bastante para que ela fique limpa - Mito. É recomendado que a limpeza seja feita por meio da lavagem com água e detergente, tanto nas escovas quanto nos pentes.

Água sanitária também pode ser usada na hora de higienizar escovas e pentes - Verdade. O uso de água sanitária também é indicado para retirar todas as impurezas dos objetos.

Escovas de metais não precisam ser higienizadas - Mito. Qualquer tipo de escova seja ela metálica, porcelana, plástica e almofadada deve ser higienizada corretamente, principalmente quando se fala em uso compartilhado.

Tesouras e lâminas de barbear podem transmitir hepatite - Verdade. O risco de transmissão da hepatite através de instrumentos compartilhados tais como lâminas de barbear e tesouras podem transmitir a doença. Principalmente homens que fazem a barba, esses devem checar atentamente sobre a higienização do material que será utilizado.

Pode se pegar piolhos somente se pentear os cabelos com pentes e escovas que não foram esterilizados - Mito. Este parasita são dificilmente visíveis e são transmitidos facilmente de pessoa para pessoa através do contato corpóreo e do compartilhamento de vestimentas (capas utilizadas na hora de cortar o cabelo) e objetos como: pentes, escovas e toucas. A infestação por piolhos causa coceira intensa e pode afetar qualquer área da pele, em especial o couro cabeludo.

Usar o mesmo lavabo sem higienizar pode transmitir alguma doença capilar - Mito. Doenças capilares só se pegam quando há contato direto com o couro cabeludo, no caso do lavabo a pessoa está mais propícia a ter uma doença de pele. Algumas pessoas vão de bermudas para o salão, com isso o contato da pele com cadeiras e lavabos pode ocasionar doenças de pele e não capilares. O correto é passar um pano com álcool para limpar toda a área.

Dermatite Seborreica pode ser contraída por meio de escovas de cabelos - Verdade. A dermatite seborreica pode ser contraída por meio de pentes e escovas. A doença é uma inflamação crônica da pele. Ela ataca o couro cabeludo sob a forma de lesões avermelhadas que descamam e coçam. Para tratar a doença existem medicamentos específicos para a pele e o couro cabeludo capazes de controlar os sintomas.

A Anvisa liberou o uso do formol somente nas escovas progressivas feitas pelos salões de beleza - Mito. A quantidade permitida pela Anvisa é de 0,2%, com a função de conservante. Todo cliente deve checar com o cabeleireiro qual a quantidade que será utilizada na hora do procedimento.

Escova progressiva pode causar câncer - Verdade. A inalação pode causar câncer no aparelho respiratório, dor de garganta, irritação do nariz, tosse, diminuição da frequência respiratória, irritação e sensibilização do trato respiratório. Pode ainda causar graves ferimentos nas vias respiratórias, levando ao edema pulmonar e pneumonia. O contato com a pele (couro cabeludo) causa irritação, dor e queimaduras.

As máquinas de cortar cabelo tem algum risco de se contrair o vírus do HIV - Verdade. Os objetos cortantes ou perfurantes contaminados com sangue fresco visível podem ser um risco se cortarem ou perfurarem a pele - ou seja se a máquina foi utilizada num soropositivo e fez um corte ficando contaminada com sangue e logo a seguir for utilizada noutra pessoa e também fizer um corte acidental, existe um risco de exposição ao HIV nesta pessoa. Segundo Sandra, uma máquina de barbear ou cortar cabelo faz apenas uma ferida superficial na pele, o risco é menor, mas existe.


Fonte: Vila Mulher / Texto: Jessica Moraes

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Perito vendedor de vaga em liquidação

De repente ficou sem emprego. Tinha nove anos de casa. O patrão era desses muito bonzinhos, que preferem indenizar e botar no olho da rua, baseado na Lei, enfim... essas bossas. O que eu sei é que ficou desempregado e me conta as virações em que tem se metido para arrumar, enquanto a situação estiver assim, mais pra urubu do que pra colibri.

— Com o dinheirinho da indenização, meu caro Stan... já quebrei galho às pampas. Ninguém tem erva viva, meu querido. Tá tudo with the face and the rage.

Ele fala muito bem inglês e, por isso, returning to the cold cow, gosta de traduzir para a língua de Robert Field as expressões do nosso idioma. Mas deixa isso pra lá e prossigamos com o raciocínio lá dele.

— Tá tudo duro, Stan... com o dinheirinho da indenização, vendi meu carro, por cinco milhões a prazo e, no dia seguinte, fui lá na agência onde vendera e comprei por três milhões à vista. Eles aceitaram logo.

— Mas como é possível! Em menos de 24h ficaram devendo a você dois milhões de cruzeiros, à-toa?

— Claro... É aí que the pork twist the tall. A bagunça é tão grande que ninguém se importa de dever. Todo mundo quer é segurar no dinheiro vivo para sentir no tato que ele ainda existe.

— Sim... mas vem cá...  Não há de ser só com isso que você consegue se sustentar.

— Ora, claro que não. Stan, por favor, put the horse out of the rain... Há outras maneiras da gente ir se aguentando. Eu acabo de descobrir uma excelente colocação para mim.

— Emprego público?

— De certa forma sim, já que a colocação é na via pública. Eu sou “Perito Vendedor de Vaga”.

— ???

— Pois é. Chego à porta de uma loja, de madrugada, e fico parado em frente. Vai logo formando uma fila atrás de mim, pensando que no dia seguinte haverá “queima geral”, "grande liquidação”, essas besteiras que eles inventam para enganar a plebe ignara. Ai, quando chega de manhã e a loja vai abrir, eu grito: “Quem quer comprar a minha vaga?”. Aparece logo uma porção de gente querendo comprar. Outro dia, à porta do tal de “Ponto Frio” vendi a vaga por cem contos.


Fonte: Jornal "Última Hora", de 01/04/1965 — Coluna de Stanislaw Ponte Preta.

Paracetamol e seus riscos

Os medicamentos à base de paracetamol estão entre os mais vendidos no Brasil e no mundo e são indicados para o tratamento de febre e dores leves ou moderadas, especialmente com fraca ação anti-inflamatória. Apesar disso, alguns estudos têm colocado em cheque a segurança desse tipo de medicação.

Um recente levantamento feito pela organização ProPublica, dos Estados Unidos, mostrou que, entre os anos de 2001 e 2010, cerca de 150 americanos morreram por ano devido a intoxicações após o consumo de paracetamol. De acordo com o farmacêutico e professor da Universidade Federal do Piauí, Dr. Lívio César C. Nunes, tal relação pode realmente existir, mas algumas ressalvas devem ser feitas.

"O acetaminophen, como é conhecido o paracetamol nos EUA, é um dos fármacos mais utilizados no país, segundo o órgão regulador local. O uso indiscriminado de medicamentos oferece perigos à saúde do homem, mesmo com um medicamento como o paracetamol, que não é potencialmente tóxico, desde que seja usado sob as dosagens terapêuticas indicadas e tendo-se todo o cuidado com as interações medicamentosas", afirma Dr. Lívio Nunes.

Atualmente, várias são as indicações do paracetamol para adultos, entre elas dores associadas a gripes e resfriados comuns, dor de cabeça, dor de dente, dor nas costas e dores associadas a artrites e cólicas menstruais. Para o professor, uma associação entre baixo custo e eficácia é o principal fator que aumenta a procura pelo remédio.

"O medicamento tem início de efeito cerca de 15 a 30 minutos mais rápido do que o seu principal concorrente no Brasil, além de ser seguro em doses terapêuticas, possuir baixo custo e ser de venda livre, o que facilita o acesso. Nos EUA, até pouco tempo atrás, ele era o único antipirético e analgésico indicado, o que provocou falsa sensação de segurança", completa Dr. Lívio Nunes.

Riscos do paracetamol

A hepatotoxicidade é o principal risco do uso do paracetamol, especialmente em situações de maior suscetibilidade, como o consumo de álcool, idade, etnia e interações medicamentosas com outros fármacos nocivos ao fígado. No entanto, mesmo na presença desses fatores, o perigo é raro, desde que a administração medicamentosa seja feita em doses terapêuticas.

"A toxicidade pode resultar da ingestão de uma única dose tóxica, de ingestão repetida de grandes doses e de ingestão crônica da droga. A necrose do fígado é o efeito tóxico agudo mais grave associado à superdosagem e é potencialmente fatal. Ela se manifesta por náuseas, vômitos e dor abdominal, geralmente ocorrendo 2 a 3 horas após a ingestão de doses tóxicas. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. O diabético também deve estar atento, pois algumas apresentações comerciais contêm sacarose", alerta o professor.

O paracetamol também deve ser evitado em outras condições, como hipersensibilidade ao medicamento ou aos outros componentes da fórmula. Além disso, a administração repetida é contraindicada em pacientes com anemia, doença cardíaca, pulmonar, renal ou hepática.

"A possibilidade de ocorrência de toxicidade hepática é um dado importante em pacientes pediátricos que recebem doses múltiplas e excessivas de paracetamol. A dose pediátrica deve sempre ser calculada segundo o peso corporal, não se excedendo a dose máxima permitida. Os idosos são mais susceptíveis aos efeitos tóxicos no fígado. Atenção também às apresentações, pois os comprimidos revestidos (500 e 750mg) são contraindicados para menores de 12 anos", destaca Dr. Lívio Nunes.

Regulamentação

O Conselho Federal de Farmácia, por meio da resolução nº 586, de 29 de agosto de 2013, regulamentou a prescrição farmacêutica de medicamentos, pois não só o paracetamol, mas inúmeras outras drogas isentas de prescrição necessitam ser bem orientadas quanto ao seu uso. Por isso, é importante lembrar que existem medicamentos isentos de prescrição, mas que estes não estão isentos de diagnóstico preciso da enfermidade para a qual eles serão usados.

"Um medicamento, mesmo isento de prescrição, pode levar a problemas, como a intoxicação medicamentosa, podendo assim representar graves perigos à saúde se usado incorretamente. Uma solução a longo prazo seria a implantação de uma política de educação voltada para a população na atenção básica, através da inserção do profissional farmacêutico junto ao programa da estratégia da família, no qual ele poderia levar a informação diretamente a toda a população, promovendo o uso racional de medicamentos", finaliza o especialista.


Fonte: Idmed / Texto: Dr. Lívio César Cunha Nunes