sexta-feira, 18 de maio de 2012

Observações morais, satíricas ou irônicas

"O homem que se vende recebe sempre mais do que vale".

"Quem foi mordido de cobra até de minhoca tem medo".

"Sabendo levá-la, a vida é bem melhor do que a morte".

"As criança atingem aos sete anos a idade da razão. Depois disso, começam a praticar toda espécie de loucura, até o juízo final".

"É mais fácil sustentar dez filhos do que um vício".

"Diplomata é um homem inteligente que consegue convencer a senhora que, com um casaco de pele, pareceria muito mais gorda".

"A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados".

"Queres conhecer o Inácio, coloca-o num palácio".

"O mal alheio pesa como um cabelo".

"El vivo vive del sonzo y el sonzo, de su trabajo".

"Há Cadillacs de oitenta cavalos, sem contar com o proprietário".

"Aquele senhor era tão tímido que até tinha vergonha de proceder honestamente".

"Desgraça de jacaré são essas bolsas de couro".

"A primeira ação de despejo de que se tem memória foi a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, fundamentada na falta de pagamento de aluguel e comportamento irregular".

"Esporte é tudo aquilo que fazemos para deixar de fazer justamente aquilo que deveríamos fazer".

"Os homens são sempre sinceros. O que acontece, porém, é que às vezes trocam de sinceridade".

"Quem é mais porco? O porco ou o homem que come o porco?"

"O médico militar é um doutor que examina rigorosamente o soldado para ver se ele está em perfeito estado de saúde para ir morrer no front".

"Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará cacete como o pai".

(Barão de Itararé)
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Do livro "Máximas e Mínimas do Barão de Itararé", Editora Record - Rio de Janeiro, 1985, pág. 115.

Homem no mar

De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém na praia, que resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham alguns segundos e morrem, como bichos alegres e humildes; perto da terra a onda é verde.

Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas e do vento, e as pequenas espumas que nascem e somem parecem ir mais depressa do que ele.

Justo: espumas são leves, não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e o homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a transportar na água.

Ele usa os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não suspeita de que um desconhecido o vê e o admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário com ele, acompanho o seu esforço solitário como se ele estivesse cumprindo uma bela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes, não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinqüenta metros, e o perderei de vista, pois um telhado a esconderá.

Que ele nade bem esses cinqüenta ou sessenta metros; isto me parece importante; é preciso que conserve a mesma batida de sua braçada, e que eu o veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem.

É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem sua cor, nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo. Que ele atinja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da varanda tranqüilo, pensando — "vi um homem sozinho, nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção; esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e ele o atingiu".

Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém, nem construindo algo de útil; mas certamente fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo puro e viril.

Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão.

Janeiro, 1953.
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Extraído do livro "A Cidade e a Roça" - Rubem Braga - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1964, pág. 11.

É triste ser Neruda

Pablo Neruda
Sou, como Didi, um brasileiro canicular. (Falo do grande Didi, o bicampeão do mundo, o virtuose, o estilista que inventou a folha seca). Já apresentei o autor, preciso falar da obra. A chamada folha seca é uma bola que desenha uma curva encantada; e vai-se enfiar na última gaveta etc. etc. Resta dizer que última gaveta é uma imagem da gíria futebolística.

Um dia, o Real Madrid contratou Didi. Lá foi ele. No Brasil, era um craque plástico, e ástico, acrobático. Quando entrava em campo, a própria bola o reconhecia e vinha lamber-lhe as botas como uma cadelinha amestrada. E, súbito, conhece Didi a solidão do frio europeu. Deixou de ser o grande Didi. Uma aragem fina e leve já o deprimia e já o derrotava. Nos grandes jogos parecia um entrevado. E o que o liquidava era a nostalgia crudelíssima do sol brasileiro. Gostava mesmo de se incendiar na luz brutal.

Repito que sou igualmente canicular. Só entendo o verão. E, por isso, nada me espantou mais do que o nosso último inverno. Só conhecíamos o falso inverno da folhinha. Pela primeira vez fazia frio na cidade e, repito, um frio cadavérico. O próprio sol era gelado. E esse frio foi uma experiência inédita para os cariocas. Senti então uma inconsolável saudade dos bons tempos em que o sol brasileiro derretia as catedrais.

Até que, um dia, saio de casa e dou de cara com uma vizinha. É uma senhora gorda e patusca como uma viúva machadiana. Deve ter varizes. Eu não as vi, mas deve ter varizes.

Ia Passando e parou no portão do meu edifício. Conversamos uns três minutos. E eu não tirava a vista do seu pescoço. Eis o que via: — um colar de brotoejas. Manhã gelada. Mas as brotoejas eram um sinal profético de calor. Eu tinha hora marcada e já me despedia. Foi então que a vizinha suspirou e disse: — "Tudo é possível, tudo é possível". E paramos por aí.

Vejam vocês as voltas em que se perde uma crônica.

Falei da canícula carioca, de Didi, o artista plástico da folha seca; mencionei a frase da vizinha e seu colar de brotoejas. Mas não disse uma palavra sobre o personagem que inspirou a presente "confissão".

Falo de Neruda, Pablo Neruda, o homem que, segundo Sartre, está merecendo um urgente prêmio Nobel. Neruda não é um chileno como outro qualquer. Seria mais exato chamá-lo de poeta do mundo. Há muito que o nosso Pablo assumiu a dimensão da poesia social. Houve um tempo, todavia, em que ele fazia versos à maneira do nosso J. G. de Araújo Jorge. Bem me lembro de um dos seus lamentos mais dilacerados. Dizia assim: — "Tão curto o amor e tão longo o esquecimento".

Essa era a melancolia do antigo Neruda e, ouso mesmo dizê-lo, do ex-Neruda. Dizia-me meu amigo: — "Neruda é um Rubem Braga de penacho". Vou ser franco: — Prefiro o Rubem Braga.

Mas o poeta que aqui desembarcou, de sopetão, não tem nada a ver com o do "amor tão curto" e do "esquecimento tão longo". Só não mudou fisicamente. A mesma cara forte, vital e bovina. Exatamente, bovina. Sempre o achei parecido e não sabia com quem. Aquela cara enorme, o beiço largo, o perfil, o pescoço, um certo peso, o olhar — tudo me lembrava alguém. Mas quem? Até que, ontem, morreu o suspense.

Vi a sua cara na primeira página de O Globo; e percebi toda a semelhança. Lembra o boi e, repito, um boi admirável, quase divino, mas indubitavelmente um boi.

E aconteceu o que era fatal: — a entrevista coletiva.

Juntou-se na casa do Rubem Braga a rapaziada do jornal, do rádio e da televisão. Todos presentes, inclusive fotógrafos, o futuro prêmio Nobel dispôs-se a responder. A primeira pergunta - ou uma das primeiras — foi sobre a Tchecoslováquia. Justiça se lhe faça: — a princípio, Neruda não queria responder. Era apenas um poeta que vinha falar dos seus livros. Só dos livros? Só dos livros.

Era pouco para a fome da reportagem. Ante a cruel insistência dos rapazes, o poeta resolveu falar sobre tchecos e russos. Lendo sua entrevista, pensei na vizinha: — "Tudo é possível".

Antes não o fizesse. E mais uma vez percebemos que não há opinião intranscendente. O simples fato de opinar compromete ao infinito. Quando vetara o assunto, Neruda foi de uma sábia, de uma clarividente pusilanimidade. Mas se definiu. Eis o que ficou evidentíssimo: — a pusilanimidade do silêncio teria sido mais digna do que a coragem de dizer o seguinte: — "Eu estou com os dois lados. Com a Rússia e com a Tchecoslováquia".

Explicou: — "Sou amigo da Tchecoslováquia, país que me deu asilo quando dele precisei, e também sou amigo da União Soviética". Por isso, quando perguntam com quem está, ele não se aperta e responde: — com os russos e com os tchecos. Por outras palavras: — está com o crime e com a vítima, com a vítima do estupro e com o autor do estupro etc.etc.

Disse eu que, em certos casos, é melhor a covardia do silêncio do que a coragem de certas opiniões. Já retifico. Em verdade, não houve coragem nenhuma. A frase deve ser lida assim: — pior do que a pusilanimidade do silêncio foi a pusilanimidade da resposta.

Se a Rússia pode invadir a Tchecoslováquia, tudo é permitido. Trata-se de um crime que envolve o próprio destino da pessoa humana. E vem o nosso Pablo e diz que "a Tchecoslováquia deve compreender". Vejam: — ainda por cima, "deve compreender". Quem o diz é o poeta, e o poeta sabe o que diz. Cabe então a pergunta: — e o que é que os miseráveis tchecos "devem compreender"? Responde Neruda:

— que a Rússia perdeu muitos homens na guerra. Ah, perdeu? Também os Estados Unidos perderam, e a Inglaterra perdeu, e a França, e outros, e outros. Portanto, vamos nos invadir uns aos outros.

Apenas o poeta se esquece de que a Rússia fez o pacto germânico-soviético; que se tornou aliada de Hitler; que colaborou lealmente no esforço de guerra nazista. E afirma o nosso ilustre hóspede que a Rússia libertou os tchecos. Não libertou ninguém. O que a Rússia vinha fazendo era a cínica e brutal exploração da Tchecoslováquia. Esta foi uma nação escrava com os nazistas e continuou escrava com os comunistas.

Vejam vocês: — os jornais gastam tinta e papel; a televisão gasta a sua imagem; o rádio gasta os seus microfones; nós gastamos a nossa paciência. E tudo para Neruda proclamar que está com os dois lados. Só imagino a amarga perplexidade do leitor, do ouvinte, do telespectador.

Pablo Neruda é um dos maiores poetas do mundo; quase prêmio Nobel; amigo de Sartre e por Sartre amado; homem de ensibilidade, de pensamento, de imaginação. Era de se esperar que visse a invasão através de uma óptica própria e monumental.

Sim, ele saberia dizer verdades jamais suspeitadas. Muito bem: — e o poeta me sai um Luvizaro. Ou por outra: — nem o Luvizaro teria descaro tamanho. E é um intelectual.

Chamado a opinar sobre o expurgo de intelectuais, diz: — não pode condenar a Rússia, porque tem amigos lá; tampouco pode condenar a Tchecoslováquia, porque também tem amigos na Tchecoslováquia. Agora compreendo o desespero de um amigo meu. Fez dois ou três ensaios literários e desistiu da literatura. Um dia, alguém o apresentou como "intelectual". Corrigiu:

— "Não sou intelectual". O outro insiste: — "É intelectual, sim". O meu amigo apontou o dedo: — "Se me chamar de intelectual outra vez, parto-lhe a cara", É triste, é humilhante ser Neruda.

[13/9/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Sete hábitos para viver bem

Não fumar, ser fisicamente ativo, ter peso saudável, investir em dieta balanceada e manter níveis normais de pressão, glicose e colesterol são os sete hábitos de ouro para a saúde do coração.

De acordo com uma pesquisa americana nacional com dados de 44959 adultos acima de 20 anos, apostar em todos eles torna o risco de morrer de problemas cardíacos 76% menor e, de outras causas, 51%. Confira abaixo detalhes sobre os itens, listados pelo site Huffington Post:

1 - Não fumar - O consumo de cigarros prejudica a função dos vasos sanguíneos, elevando assim o risco de aterosclerose (quando as artérias endurecem).

2 - Ser fisicamente ativo - O exercício aeróbico aumenta o fluxo sanguíneo, ajuda a manter o peso saudável, diminui o acúmulo de placas nas artérias e auxilia a reduzir a pressão arterial. Os adultos devem investir em, pelo menos, 150 minutos de atividade aeróbica por semana (de nível moderado a intenso) e em fortalecimento muscular a partir de duas vezes por semana.

3 - Manter níveis de pressão normais - Uma pessoa com nível normal de pressão arterial sistólica apresenta 120 mmHg ou menos e, da diástólica, 80 mmHg ou menos. Os hipertensos, por sua vez, medem 140 a 159 mmHg (sistólica) e 90 a 99 mmHg (diastólica).

4 - Manter níveis saudáveis de glicose - Níveis cronicamente elevados de glicose no sangue pode levar a danos nos rins e nos vasos sanguíneos.

5 - Manter taxa normal de colesterol - Colesterol alto é um conhecido fator de risco para doenças do coração, porque causa endurecimento das artérias que vão para o coração. E, quando parte do coração é privada de sangue, pode ocorrer um ataque cardíaco. O nível de colesterol total é bom em qualquer quantidade abaixo de 200 mg/dL e, alto, a partir de 240 mg/dL.

6 - Ter peso saudável - Calcular o índice de massa corporal (IMC), dividindo o peso pela altura ao quadrado, é um bom ponto de partida para saber se está com peso saudável. Apresentar IMC abaixo de 18,5 indica que está abaixo do ideal; 18,5 a 24,9, normal; 25 a 29,9, sobrepeso; e acima de 30, obeso.

7 - Investir em dieta balanceada - Lance mão de proteínas com baixo teor de gordura (carnes magras, peixes e feijão), cereais integrais (com muita fibra) e pouco sódio. Elimine gorduras ruins, como as saturadas e trans.

Fonte: Ponto a Ponto Ideias/ Terra