sábado, 24 de setembro de 2011

Aracy Balabanian

Aracy Balabanian, atriz, nasceu em Campo Grande, MS, em 22/02/1940 e seus pais vieram para o Brasil da Armênia, fugindo do genocídio promovido naquele país pelos turcos otomanos. Eles fixaram residência na capital do atual estado de Mato Grosso do Sul onde Aracy e os irmãos nasceram. Seu pai se chamava Rafael Balabanian e era comerciante e sua mãe era chamada Estér Balabanian, uma dona-de-casa.

Foi registrada como se tivesse nascido em 25 de abril de 1940, pois na época era comum, por ter nascido em casa, as pessoas serem registradas errado, devido a distância de cartórios e hospitais, pois Campo Grande na época era interior e não capital. Seu nome era para se escrito Araccy, que é o verdadeiro nome armênio, mas o cartório pediu ao pai dela para que se graface um nome a estilo brasileiro e assim ficou Aracy.

Aos quinze anos mudou-se para São Paulo com os sete irmãos e ajudava os pais na criação dos irmãos menores. Fez e passou no vestibular para Ciências Sociais e para a Escola de Arte Dramática, vindo a abandonar os estudos de Sociologia, de outro vestibular que ela fez e tinha passado, para se dedicar ao teatro, sua verdadeira paixão. Diz que viveu numa época que era considerado feio uma mulher fazer teatro, já que antigamente a mulher era educada para ser dona-de-casa e obedecer ao marido.

A sua estréia em televisão foi na peça Antígona, de Sófocles, montada pela TV Tupi. Contrário à carreira da atriz, o pai de Aracy só aceitou a opção profissional da filha em 1968, quando ela contracenou com Sérgio Cardoso na novela Antônio Maria.

Tornou-se uma das maiores intérpretes do meio e criou personagens inesquecíveis como a idealista Violeta de O Casarão (1976), de Lauro César Muniz, a sofrida Maria Faz-Favor de Coração Alado (1980/81), de Janete Clair, a ardilosa Marta de Ti Ti Ti (1985/86) e a misteriosa Maria Fromet de Que Rei Sou Eu? (1989), ambas de Cassiano Gabus Mendes, a excêntrica Dona Armênia das novelas Rainha da Sucata (1990) e Deus nos Acuda (1992/93), ambas de Sílvio de Abreu e aquela que talvez seja a sua mais marcante, a fria e autoritária matriarca Filomena Ferreto de A Próxima Vítima (1995), também de Sílvio de Abreu.

Outro papel marcante é a Gemma Matoli, na novela Passione, exibida recentemente pela Rede Globo e escrita por Silvio de Abreu. Gemma é a grande protetora da família dos Matoli, principalmente de seu irmão de criação Totó (Tony Ramos). Gemma luta com unhas e dentes por sua família, por isso é um dos personagens centrais da trama.

Curiosamente atuou pouquíssimo no cinema nacional.

No teatro, pode-se ressaltar seus desempenhos em peças dirigidas por Ademar Guerra, como Hair, de 1968 e interpretando Clarice Lispector em Clarice Coração Selvagem, encenada em 1998. Sua personagem mais conhecida pelo grande público no teatro foi a socialite decadente Cassandra, no humorístico Sai de Baixo, gravado ao vivo do Teatro Procópio Ferreira de 1996 a 2002 para a Rede Globo de Televisão.

Por sempre ter se dedicado a carreira artística, Aracy nunca se casou e também não teve filhos. Também nunca apareceu com nenhum namorado na mídia.

Carreira

Televisão

1964 Marcados pelo Amor
1966 O Amor Tem Cara de Mulher
1966 Um Rosto Perdido
1967 Angústia de Amar
1967 Meu Filho, Minha Vida
1967 Sublime Amor
1968 Antônio Maria
1968 O Coração Não Envelhece
1969 Nino, o Italianinho
1971 A Fábrica
1972 O Primeiro Amor
1972 Vila Sésamo
1974 Corrida do Ouro
1975 Bravo!
1976 O Casarão
1977 Locomotivas
1978 Pecado Rasgado
1980 Coração Alado
1981 Brilhante
1982 Elas por Elas
1983 Guerra dos Sexos
1984 Transas e Caretas
1985 Ti Ti Ti
1986 Mania de Querer
1987 Helena
1989 Que Rei Sou Eu?
1990 Rainha da Sucata
1991 Felicidade
1992 Deus Nos Acuda
1994 Pátria Minha
1994 A Desinibida do Grajaú
1995 A Próxima Vítima
1995 Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados
1996-2002 Sai de Baixo
2001 Brava Gente
2002 Sabor da Paixão
2003 Linha Direta
2004 Da Cor do Pecado
2005 A Lua Me Disse
2007 Eterna Magia
2008 Casos e Acasos
2008 Queridos Amigos
2008 Toma Lá, Dá Cá
2008 O Natal do Menino Imperador
2010 Passione

Cinema

1998 - Policarpo Quaresma, Herói do Brasil
1998 - Caramujo-flor
1975 - A Primeira Viagem

Teatro

1963 - Os Ossos do Barão
1966 - Oh, que delícia de guerra
1969 - Hair
1977 - Brechet, segundo Brechet
1980 - A Direita do Presidente
1985 - Boa noite Mãe
1985 - O Tempo e os Conways
1988 - Folias no Box
1991 - Fulaninha e Dona Coisa
1995 - Dias Felizes
1998 - Clarice Coração Selvagem
2006 - Comendo entre as refeições

Prêmios

1996 -  APCA - Melhor Atriz de Televisão -  A Próxima Vítima
1995  - Melhores do Ano (Domingão do Faustão) -  Melhor Atriz -  A Próxima Vítima
1996  - Troféu Imprensa - Melhor atriz -  A Próxima Vítima
2002 - Prêmio Contigo -  Melhor Atriz Cômica - Sabor da Paixão

Fonte: Wikipédia.

Nathaniel Hawthorne


A ficção de Nathaniel Hawthorne, cuja sólida construção estilística fez dele o primeiro grande romancista dos Estados Unidos, apresenta os dilemas morais de personagens que, cerceados por uma sociedade puritana, buscam afirmar o direito à liberdade afetiva.

Nathaniel Hawthorne nasceu em 4 de julho de 1804 em Salem, Massachusetts, numa tradicional família puritana. Órfão de pai aos quatro anos, foi criado pela mãe em ambiente soturno, propício à angústia e à imaginação. Enclausurou-se na casa materna por cerca de 12 anos, dedicado a ler e a escrever.

Em 1836, deixou a reclusão em Salem e transferiu-se para Boston, como funcionário da alfândega. Nessa época lançou Twice-Told Tales (1837; Histórias contadas duas vezes). Em 1853, foi nomeado cônsul em Liverpool, na Inglaterra. Viveu na Europa até 1860.

Hawthorne voltou-se sobre si mesmo, sobre seus semelhantes e o passado com tão agudo interesse psicológico que realizou uma obra realista com a própria matéria-prima irracional dos labirintos teológicos e oníricos.

Introspectivo, torturado pelos resíduos de uma ética protestante sombria e provinciana, conseguiu revivê-la na paisagem da Nova Inglaterra do período colonial, no cenário exterior austero e triste e no fundo nebuloso e recalcado do psiquismo de seus personagens.

Hawthorne desce aos segredos do subconsciente reprimido, à tensão dos impulsos contraditórios, à angústia que transita da inocência à perversidade. É um moralista da ambigüidade, estilista que se expõe em recortes autobiográficos profundos.

Sua obra-prima, The Scarlet Letter (1850; A letra escarlate), é um romance histórico, ambientado nos Estados Unidos do século XVII. Em The House of the Seven Gables (1851; A casa das sete torres), aborda problemas de consciência, na história da maldição que persegue uma família. São ainda conflitos morais que desencadeiam a tragédia de The Marble Faun (1860; O fauno de mármore), romance repleto de intenções simbólicas.

Hawthorne morreu em 10 de maio de 1864, em Plymouth, New Hampshire.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Feitiço cigano

Ao lado do velho carroção, Berta remota um cachimbo tão velho quanto ela, que no dizer dos ciganos de sua tribo era tão velha quanto o tempo. No acampamento, ao lado leste das torres do Castelo de Epsnein, a planície desdobrava-se num lençol verde, batido àquela hora pela luz do luar.

Berta apertou mais os olhos miudinhos e fitou um ponto negro que avançava como uma flecha em sua direção. Era Jaino, o coxo, que vinha a toda brida, trazendo-lhe notícias de Zínara.

A velha cigana esperou que o acólito apeasse e então indagou com a voz roufenha, mais se assemelhando a um lamento fúnebre:

- Então, capeta... onde se mete aquela vagabunda?

Jaino abaixou a cabeça, riscou o chão três vezes em sinal de respeito, com a ponta do polegar, e falou excitado:

- Vi-a entrando no castelo pela porta que dá para o lado do rio. Berta retorceu o rosto numa expressão indefinida e os cabelos pardos eriçaram-se. Jaino afastou se temeroso. Sabia que quando aquilo ocorria, Berta entrava em comunicação direta com os seres das trevas!

Depois, olhando a lua boiando num firmamento muito azul, a velha praguejou alto e repetiu as palavras misteriosas da cabala. E num assomo de raiva, berrou para Jaino:

- Vai, desgraçado. Volte para lá e fique vigiando até a hora em que ela sair. Não a deixe vê-lo... e faça como mandei.

Claudicando da perna esquerda, um defeito que trazia de berço, Jaino azulou imediatamente, curtindo no fundo um sentimento de ódio e despeito. Também como os demais de sua tribo, era apaixonado por Zínara e não conseguia resistir aos encantos que sua beleza selvagem expandia.

Aceitara trabalhar de comum acordo com Berta a fim de poder obter a sua cota de vingança... pois desde há seis meses, quando o grupo se instalara próximo ao castelo, Zínara dera sinais de fraqueza evidente... enamorando-se de Robert Wall, filho de Lord de Epsnein. Aquilo motivara revolta geral no selo da tribo, mas ninguém tinha coragem de censurá-la... temendo perder suas atenções. Agora, era chegada a hora da vingança!

Às cinco horas da manhã, Jaino viu o portão abrir-se e por ele deslizar furtivamente a figura esbelta da bela cigana. E seus olhos arderam de ódio e o coração ameaçou sufocá-lo enquanto a mão apertava ardorosamente o cabo de prata do punhal húngaro.

Zínara atravessava agora a metade do campo. Seus cabelos vinham soltos, soprados pela brisa suave da manhã e os raios da aurora tornavam mais excitantes sua pele morena, refrescada pela noite que passara nos braços de Robert Wall.

Jaino lutou consigo mesmo. Sabia o que era preciso fazer... mas faltava-lhe a força necessária. Bateu duas ou três vezes contra o solo e invocou a figura de Berta. Quase subitamente, do canto de uma pequena sebe, viu subir uma labareda arroxeada e sentiu um forte cheiro de alho... Sabia que Berta estava ali em corpo mental. Em pequenas convulsões, viu-se repentinamente envolvido pela chama fria e temeu que fosse perder a consciência.

Zínara estava bem próxima agora. Um instinto secreto advertia-o de que era preciso agir com rapidez e segurança para evitar qualquer reação da parte da moça. Uma palavra de perdão que fosse proferida por ela, quebraria nele as forças do mal que o encantavam. Mas, tal coisa não aconteceu. O que viu depois de um salto felino e de haver sua mão mergulhado de duas a três vezes no peito da cigana foram os olhos vidrarem-se e uma golfada de sangue inundar-lhe o rosto.

Morta, a cigana caiu sem um grito de dor. Seu corpo ficou no chão estendido, enquanto Jaino fugia a toda velocidade em direção ao acampamento.

Iniciavam-se os primeiros movimentos da manhã, agitando a vida da comunidade, quando o rapaz chegou espavorido, banhado em sangue. O primeiro a vê-lo assim foi Dormik, o tocador de flauta e, reconhecidamente, o maior enamorado de Zínara.

- Louvado, Jaino! Que houve? Está ferido?

Tomando de súbito pânico, o rapaz negaceou com a cabeça e, sem prestar atenção ao que dizia, afirmou:

- Oh não! Matei Zínara. Está lá no bosque com o peito aberto!

Nada poderia ter maior força do que aquelas palavras que funcionaram como um impulsionador mágico. Imediatamente toda a tribo foi to-mada de incontido alvoroço. E ali mesmo, iniciaram o julgamento cigano: os mais velhos sentaram no interior de um círculo feito a giz, tendo os jovens à sua volta. A sentença partia do meio do círculo e era atirada contra os mais jovens em torno.

Movendo os lábios em sussurros, os anciãos discutiam. Depois, de acordo com o decidido, era atirado para cima um búzio preto ou branco: o primeiro condenava o acusado à morte; o segundo, bania-o para sempre. Os dois juntos, ao mesmo tempo, significavam absolvição.

A mente de Jaino estava por demais perturbada para prestar atenção a esses detalhes e somente quando o búzio preto foi lançado ao ar, pôde compreender que iria morrer.

Tomado de pânico, gritou por Berta, pedindo-lhe socorro, mas nem uma palha moveu-se. A velha cigana continuava imóvel, sentada no seu canto sem mostrar a menor preocupação pela sorte de Jaino.

Ouvindo a risada da turba, Jaino foi levado a uma árvore próxima, no tombo de um cavalo e tendo a corda passada no pescoço. Num movimento rápido, o carrasco alçou um galho forte e depois de proferidas as palavras do Wandor preparou-se para espalmar o animal, deixando o condenado balançando-se pelo pescoço na ponta da corda. Súbito, alguém lembrou-se:

- Vamos buscar o corpo de Zínara para que esteja presente à execução!

- Não - gritou Berta - saindo do seu horrível mutismo. - Eu mesma irei.

- Como tu, velha bruxa? Não tens forças nem para...

Berta lançou um olhar gelado sobre o audacioso e ele se catou enco-lhendo-se acovardado a um canto do grupo. Em seguida, a velha sumiu na planície. Mas, a impaciência, o ódio e a revolta gerados no coração da turba não podiam esperar mais. A figura de Jaino era um desafio brutal às lembranças amorosas destruídas com a morte de Zínara. E por que mantê-lo vivo por mais tempo? Sim, por quê?

Um par de mãos vigorosas assustou o animal, fazendo-o sair a galope. Um tranco forte deteve a vítima na ponta do baraço... E momentos antes de expirar para sempre, ainda viu, surpreso, como os demais, a figura esbelta da bonita cigana surgindo da planície como se nada lhe tivesse acontecido... trazendo sobre os ombros o corpo inerte da velha Berta.

Depois, atirando um largo sorriso à todos, a cigana aproximou-se de Jaino, que já exalava o último suspiro e disse baixinho para que ninguém a ouvisse:

- Obrigada, Jaino. Agora poderei viver mais cem anos!...

Só então, Jaino reconheceu em Zínara a voz roufenha e cavernosa de Berta. Mas aí... já era tarde. Tarde demais para arrepender-se!

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por Normam B. Peace