sábado, 27 de dezembro de 2008

Camboriú nesta tarde

BC 27 Dezembro 2008
Balneário às 2 e 30 da tarde... muito sol... sóis por toda a parte... a areia queimando os pés. Mas a praia está lotada!

BC 270014

Dialeto do malandro antigo

O dialeto da "Boca": Ali, gansos, loques e laranjas eram engomados. Adoniran e Isaura Garcia: "O que foi que nóis fez?"

"Durante a ditadura estado-novista (Getúlio Vargas), particularmente de 1940 em diante, piscaram os sinais de alerta para os malandros e os que cultuavam a malandragem.

Desencadeou-se uma cruzada contra a "malandragem" carioca que tinha entre seus objetivos interromper a íntima relação que, na história da música popular brasileira, unira o samba à malandragem.

Mesmo assim, em pleno império do DIP, de modo enviesado que fosse, tipos que viviam à margem do trabalho regular continuavam a freqüentar muitas composições, como que a fornecer um atestado de sua sobrevivência.

É impressionante a quantidade de canções que se converteram em muros de lamentação de mulheres insatisfeitas com seus parceiros sanguessugas e com a sua condição de muro de arrimo da família. Normalmente compostas por homens e cantadas por mulheres, tais músicas, apesar de comportarem alguma dubiedade, se ocuparam de figuras que voltavam as costas ao trabalho."

Embora esse tema seja antigo (anos 30, 40 e 50), ele continua ainda atual, com certas modificações, porque as mulheres lutaram por seus direitos. Mas existiam as "malandras" também e sempre existirão.

Mas o Chico Buarque diz que a coisa realmente mudou: "...Que aquela tal malandragem não existe mais / Agora já não é normal / O que dá de malandro regular profissional / Malandro com aparato de malandro oficial / Malandro candidato à malandro federal / Malandro com retrato na coluna social / Malandro com contrato, com gravata e capital..."

DIALETO DO MALANDRO (HOJE EM DIA É MUITO MAIS EXTENSO...)

Aceso – Excitado com estupefacientes; eufórico; sob efeito de bebida; erótico; irrequieto.

Aliviar – Amenizar a cumplicidade de alguém, libertar o detido, facilitar a soltura do indiciado.

Banhar – Deixar o outro sem a sua parte; ladrão que foge com a parte do comparsa. Limpar: na gíria jornalística é apresentar completa cobertura de um acontecimento em primeira mão.

Barca – Viatura policial.

Batata tá assando – Preso marcado para morrer.

Bater prato – Manter relação homossexual.

Cafiolo – Rufião, cáften ou cafetão.

Capivara – Ficha criminal.

Chafra – Soldado da Força Pública. "Chafra depenado": miliciano desarmado.

Da casa – Membro da polícia.

Empurradinha – Empurrar vítima para o parceiro fazer o roubo.

Engomar – Abotoar, espremer a vítima para o lanceiro furtar-lhe a carteira.

Escamoso – Venenoso, criador de caso.

Esquisito – Encontro amoroso. "Partir para o esquisito": ir ao encontro da mulher para manter relações.

Ganso – Informante policial.

Grupo – Mentira, golpe, logro, grupir ou engrupir, conto-do-vigário, um-sete-um ou cento e setenta e um.

Inferninho – Bar com música de vitrola. Geralmente é ponto de mulheres que arrebanham homens para rendez-vous. Imita a boate, mas não tem show.

Justa – Carro de polícia. O mesmo que "justinha".

Laranja – Novato, inocente, otário.

Loque – Ingênuo, caipira, otário.

Maçaneta – Puxa-saco; só abre e fecha a porta para o chefe.

Olho de vidro - policial que não conhece os ladrões.

Peitosa – Camisa.

Penosa – Galinha ou frango.

Pirandelo – Fugir da polícia ou da prisão.

Plantar o aço – Assassinar colega com arma branca.

Roçadeira – Libidinagem de lésbica, "roçadinho".

Um-sete-um – Estelionatário, malandro, golpista, vigarista, "conto do vigário".

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Transformação social para a promoção da saúde

Taekwondo no Social

O que está em pauta neste artigo é a saúde pública, aliás a “promoção da saúde”. Mas o que vem a ser isso? Pense: prevenir ou promover? Prevenir a doença ou a saúde?

Promover a saúde! Isso é interessante quando se pensa que na maioria das vezes em que a saúde é significada através da medicação, exames laboratoriais e etc.

Será que um bom emprego, salário digno, transporte adequado, habitação própria e saneamento básico não fazem parte da saúde?

Em tempos de enxurradas, deslizamentos, pessoas perdendo seus bens, pertences e em alguns casos perdendo até seus entes queridos, como promover saúde e conscientização?

Nas classes menos favorecidas as mudanças na realidade de vida têm que ser promovidas de forma a estimular o conhecimento e a formar indivíduos críticos/reflexivos e conscientes de seus deveres e direitos e que sejam integrantes ativos de sua comunidade ajudando-a a melhorar sua qualidade de vida. Que lugar mais apropriado a desenvolver esta consciência do que a escola?

Os projetos são muitos importantes para estreitar o laço do aluno e escola, porém o profissional deve conhecer a comunidade que se trabalha, pois deve respeitar a diversidade socioeconômica e cultural.

Há projetos no município de Itajaí como o “escola aberta” que acontece nos sábados e “Emancipar” no contraturno das escolas, estes que favorecem atividades sadias como oficinas de artes, jogos, esportes,cursos profissionalizantes e etc.

Realizei um trabalho em 2007 e 2008 na escola básica Profa Maria Dutra Gomes, Melvin Jones e Universidade do vale do Itajaí, o nome do projeto era “Pés para ultrapassar Obstáculos, mãos para recusar as drogas e caminho para educação e cidadania”.

O objetivo do projeto era proporcionar às crianças carentes da comunidade a possibilidade de aprender a arte do taekwondo.Taekwondo se trata de uma arte marcial coreana que tem por objetivo “formar seres humanos respeitáveis em todos os sentidos”.

Outros objetivos foram:

• Desenvolver funções psicomotoras, aprimoramento de qualidades físicas dos alunos e especificamente na arte marcial Taekwondo.
• Conscientiza-los do valor do domínio sobre os desejos do corpo ensinando-os a entender o que é certo e errado em nossa sociedade.
• Agregar valores como respeito ao próximo, disciplina e da importância da educação como fator de transformação individual e social.

No desenrolar dos trabalhos os alunos foram desenvolvendo aspectos motores e físicos, compareciam as aulas com bastante regularidade e com o passar do tempo foram se capacitando a participar de eventos como exames de graduação, apresentações, treinamentos coletivos, campeonatos e muito mais.

Para facilitar o ensino e aprendizagem empreguei didaticamente muitos recursos materiais e desenvolvi muitas atividades lúdicas para obter melhores resultados. Objetivou-se ensinar de maneira muito mais prazerosa, o “ensinar brincando”. A aprendizagem foi muito mais rica devida também a interação, a afetividade e a troca de experiências na grande diversidade cultural das comunidades que atendi nas escolas e universidade.

Os pais vinham discutir comigo sobre comportamento, como seu filho tinha mudado ao estar participando das aulas, alguns me pediam se de alguma forma poderia conversar com seu filho a fim de fazê-lo repensar suas atitudes. O gosto por praticar essa modalidade foi crescendo e as atitudes foram tomando um curso mais equilibrado e positivo.Outra bandeira que levantei foi a permanência de alunos em minhas aulas que tivessem bom ou regular rendimento escolar, ficou bem famoso o termo “gancho”entre eles.

Trata-se de alunos reincidentes de um bimestre para outro com nota abaixo da media em alguma matéria do currículo.Professores vinham discutir comigo sobre as avaliações e notas de alguns alunos, o que através de conversa posterior com os mesmos obtive melhoras relevantes nos bimestres seguintes.

No projeto foram promovidas muitas reflexões sobre como deveria ser o comportamento de um cidadão, o seu comprometimento com a família, escola e comunidade e alertas sobre as atividades ilegais que eles deveriam evitar a todo custo como o uso de drogas e envolvimento com violência e criminalidade.

Enfim foi gratificante todo esse trabalho árduo que fez o possível e impossível para promover saúde e educação em todos os aspectos citados acima nessa modalidade olímpica e tão recentemente participante do JASC chamada de TAEKWONDO. Fica aqui meu pedido de continuidade do trabalho nessas escolas e implementação de repente em mais uma unidade municipal.

Por: André Ricardo dos Santos

Telefone de contato: (47)32461574/ 84515947

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

As flores desta tarde

As flores presentes hoje num jardim de Itajaí. Aproveitando o dia ensolarado, fotografei algumas. Mas agora o tempo fechou, parece que vem mais chuva. Que Deus nos ajude....

Rosa Branca
“Tão pura e modesta, / Tão perto do chão, / Tão longe na glória, / Da mística altura, / Dir-se-ia que ouvisse / Do arcanjo invisível / As palavras santas / De outra Anunciação” (Manuel Bandeira).

Azaléia
“Como o beija-flor e a azaléia hão de se comportar / Um fornece o néctar para o outro alimentar / Em troca, suas sementes este há de espalhar / Pois na próxima primavera novas azaléias irão aflorar”.

domingo, 9 de novembro de 2008

Princesa do Século XXI

Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.

Então, a rã pulou para o seu colo e disse:

- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas, uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre…

E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:

'Nem fo…den…do!'.

por Luís Fernando Veríssimo

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ei, meu garoto

Praias adjacentes
Aqui caminhamos demais. Estamos quase na Praia Brava. Meu caçula sempre faz isso. Uma vontade tremenda de andar pela praia, subindo pelos morros, enfrentando a escassa e ainda sobrevivente Mata Atlântica.

Sempre um bom livro

Sempre um bom livro

Cidade antes tão agitada somente no verão, tem hoje, ainda, seu "glamour". Princesa, mantém sua característica de maior polo turístico do Sul do país. Em Balneário Camboriú, debaixo das copas das árvores, podemos ler algum bom livro, leitura temperada pelo sal e iodo que o vento nos traz.

domingo, 2 de novembro de 2008

Casa da Cultura Dide Brandão

O antigo Grupo Escolar Victor Meirelles, situado à Rua Hercílio Luz, centro
da cidade, hoje abriga a Casa da Cultura Dide Brandão inaugurada em 1982.

sábado, 1 de novembro de 2008

Bloco dos XX

"Itajaí em 1929 - registram os historiadores - era uma cidadezinha de aspecto provinciano onde os jovens iam namorar à sombra protetora dos esguios eucaliptos e das frondosas figueiras de sua "praça da Matriz" (hoje Praça Vidal Ramos). A cidadezinha quase nada oferecia para a juventude. Havia necessidade de se criar algo que reunisse a moçada, dinamizando-a socialmente.

E assim pensando, vinte rapazes (todos solteiros) reuniram-se nas dependências da Sociedade Guarani, na noite chuvosa de 20 de agosto de 1929, e fundaram o Bloco dos XX, cuja primeira diretoria foi a seguinte: presidente de honra: Agenor Lopes de Oliveira; presidente: Sadi Magalhães; vice-presidente: Ary Mascarenhas Passos; tesoureiro: Nestor Schiefler; secretário: Paulo Malburg; orador: Abdon Fóes.

O ponto alto das festividades do ano era o tradícional Baile de Gala quando entre os "finos ornamentos da elite local", era escolhida a Miss Bloco dos XX. E, na "galeria de honra" do clube em toda a sua existência figuraram em poses especiais, ostentando orgulhosamente a faixa de Miss Bloco dos XX, as seguinte beldades: Léa Schmitt, Zulma Muller Pereira, Afonsina Liberato, Celeste Pereira, Zélia Bernardes, Yeda Santos, Leda Mery Heusi, Gilda Amaral Pereira, Maria Letícia Heusi, Maria Mione Nunes, Zenita Werner, Maria Julia Miranda, Zari Macedo, Selma Kunifas, Risolete Cesário Pereira, Maria Juraci Fóes, Magali Reiser, Nida Mussi, Cecília Reinert, Maria Luiza Pimenta, Edla Luz, Lia Leal, Vera Schnaider, Eliana Campos.

Também era obrigatório figurar na "galeria de honra" a foto de Ex-presidentes. Foram eles: Sady Magalhães, Abdon Fóes, Arnaldo Heusi, Cesar Pereira, Gil Teodoro de Miranda, Osvaldo Heusi, José Luiz Pereira, José Bonifaício Malburg, José Alves Pereira Júnior, Altair Pacheco, Arno Mário Heusi, Ari Garcia, Lucindo Pereira, Remaclo Fischer, Eduardo Canziani, Alberto Bernardes, Gilson Amaral, Marcos Francisco Heusi, Osni Cesário Peceira, Waldir Benvenutti, Waldezir Batista da Silva, Sebastião Reis, Félix Fóes, Francisco Silva, Moacir Oliveira, Júlio Tolentino.

Por não possuir sede própria, a diretoria do Bloco dos XX arrendou o prédio de propriedade do Clube Náutico Almirante Barroso à Rua Pedro Ferreira, esquina com a Rua Samuel Heusi, onde funcionava o seu departamento náutico. Devido a precariedade das instalações muitas vezes reformado, o prédio se tornou inviável para sediar ali o Clube da mocidade itajaiense.

Em 1961, apesar dos esforços dos diretores da época, o Bloco dos XX, sem condições para construir sua sede própria sucumbiu diante das dificuldades enfrentadas, encerrando suas atividades e frustrando o grande sonho da juventude de então.

Enquanto existiu, o Bloco dos XX propiciou período de ouro na vida social de Itajaí com belas e concorridas reuniões sociais, sempre pautadas por brilhantismo incomum, deixando com o encerramento de suas atividades, excelentes recordações, muitas saudades e um grande vazio na sociedade local."

Texto: Sebastião Armando dos Reis (Nasceu em Itajaí, em 03-09-1930. Bancário foi sua primeira profissão, iniciada no Banco Inco. Paralelamente iniciou atividades jornalísticas. Foi proprietário de dois estabelecimentos comerciais "Caiçaras Clube" e "Seares Bar". Posteriormente ocupou funções de Relações Públicas e Diretor de Turismo na Prefeitura local); Ilustração: Lindinalva Deóla da Silva

Algumas páginas sobre edíficios históricos de Itajaí:

Asilo Dom Bosco, Banco Inco, Bangalô, Bar Dinamarca, Bauer e Cia, Bloco dos XX, Café Democrático, Caixa da Sociedade Beneficente dos Estivadores, Capelinha de Cabeçudas, Casa Agostinho Alves Ramos, Casa Alberto Werner, Casa Almeida e Voigt, Casa Amaral, Casa Asseburg, Casa Bonifácio Schmitt, Casa Bruno Malburg, Casa Cesário, Casa da Família João Bauer, Casa das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, Casa Gall, Casa Jacob Bauer, Casa Konder, Casa Lauro Müller, Casa Popular da Vila Operária, Casa Primo Uller, Casa Rauert, Casarão Burghardt, Casarão da Família Fontes, Casarão Malburg, Casarão Olímpio Miranda, Casarão Peiter, Cia. Fábrica de Papel Itajaí, Colégio São José, Edifício da Fiscalização dos Portos, Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, Farmácia Brasil, Ginásio Itajaí, Grupo Escolar Floriano Peixoto, Grupo Escolar Lauro Müller, Grupo Escolar Victor Meirelles, Herbário Barbosa Rodrigues, Hospital Santa Beatriz, Hotel Brazil, Hotel Cabeçudas, Igreja da Imaculada Conceição, Igreja da Vila Operária, Igreja do Santíssimo Sacramento, Igreja Luterana, Mercado Público, Palácio Marcos Konder, Primeira Sede da Municipalidade, Primeira Sede dos Correios, Sociedade dos Atiradores, Sociedade Guarani.

Leia também sobre Itajaí-SC:

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Chico Xavier, detetive do Além

Era uma vez um moço ingênuo e feliz, vivendo numa cidadezinha ingênua e feliz, perto de Belo Horizonte. O moço se chamava Francisco Cândido Xavier e não desmentia o nome. A cidadezinha, Pedro Leopoldo, arrastava suas horas de doce paz, entre as missas de domingo e a chegada do trem da capital. Não se sabe como, numa noite ou num dia, Chico se mostrou inquieto e desandou a escrever. Terminando, disse, apenas, à família assustada:

- "Não fui eu. Alguém me empurrava a mão".

Desde esse dia ou essa noite, Chico Xavier perdeu o sossego e também o de sua cidade. Turistas chegavam, atraídos pela fama do moço-profeta. Pedro Leopoldo ia crescendo e Chico Xavier ia ficando importante. Nunca mais teve paz. Nunca mais pode sair pela rua, sem ouvir um pedido de saúde ou uma prece de gratidão. Se ao menos fôsse só isto. Era mais, muito mais. Eram os curiosos do Rio, de São Paulo e de Belo Horizonte, pedindo consultas ou detalhes pelo telefone interurbano. Era a legião de repórteres em busca de novas mensagens. O representante da editôra insistindo por outros livros. Os centros espíritas de todo o país solicitando pormenores. Uma vida infernal, agitada, barulhenta sacudia o pobre rapaz.

As luzes dos lampiões da cidadezinha nunca mais dormiram sem a presença de um estrangeiro, rondando pelas ruas dantes tão sossegadas.

Fixaremos, precisamente, a violenta mudança de vida de Chico Xavier e da cidade de Pedro Leopoldo. Não nos interessa, embora pareça estranho, o medium Chico Xavier, mas a sua vida. Os seus trabalhos psicografados - ou não psicografados - já foram assunto de milhares de histórias, divulgadas desde 1935. Se são reais ou forjadas, decidam os cientistas. Se ele é inocente ou culpado dirão os juízes. Se êle é casto, instruído, bondoso, calmo, diremos nós. Porque não somos detetives do além.

Se os espíritos nos ouvem, eles sabem que não acreditamos em suas mensagens, nem desacreditamos de suas virtudes literárias. A verdade é que não temos a bravura indispensável para avançar sobre o terreno pantanoso do outro mundo e analisar suas reais ou irreais comunicações utilizando aparelhos de escuta com êste pálido e sensitivo Chico Cândido Xavier.

Desde que saímos daqui, levávamos a inabalável determinação de fazer uma reportagem sem complicações, apesar do assunto em sua natureza extra-terrena mostrar-se absolutamente complicado. Assim é que o senhor, amigo, chegará ao fim destas linhas sem obter a certeza que há tanto tempo procura:

"É Chico Xavier um impostor ou não é?" E dirá: - "Não conseguiram desvendar o mistério!" Sim, o mistério continuará por muito tempo. Eternamente. E Chico Xavier morrerá, sem revelar o segredo de sua extraordinária habilidade ao escrever de olhos fechados, se é mágico, ou de seu fantástico virtuosismo, ao chamar, além das fronteiras da vida, as almas dos imortais, fazendo-os recordar os velhos tempos da Academia. Nossa intenção é mostrar o homem. Sem o espírito dentro de si, nos momentos vulgares, Chico Xavier é adorável, cândido, maneiroso, humilde, um anjo de criatura.

A frase de uma vizinha define melhor: - "Sabe, moço? O Chico é um amor". Justamente dêsse tipo desconhecido, da parte anônima de sua devassada vida, é que tratamos, na hora e meia que permanecemos em Pedro Leopoldo. Para começar, diremos que Chico nunca teve uma namorada.

O tempo de viagem de Belo Horizonte a Pedro Leopoldo não vai além de hora e meia. A meio caminho, encontramos a fazenda federal onde Chico Xavier é dactilógrafo. O motorista não quer entrar. - "Aí, não. Até os zebus são atuados". O diretor, Rômulo, está na horta, sòzinho. Ele nos dará, talvez, esclarecimentos sôbre a vida de Chico e, quem sabe, facilitará o encontro com o sensitivo. Ouve o pedido. Depois, lentamente, abana a cabeça e o seu "não" é inflexível, desde o primeiro minuto. Alega um milhão de coisas. Que Chico anda cansado e precisa repousar. Um de nós lembra a possibilidade dele, diretor, dar umas férias a Chico. - "O Chico funcionário nada tem a ver com o outro Chico". Apresentadas as despedidas, êle adverte: - "Não creio que será possível aos senhores um encontro com êle. Creio que vão esperar até sexta-feira".

Voltamos a deslizar pela estrada, neste sábado negro. A cidade aparece depois de uma curva. - "Onde fica a casa do Chico Xavier?" O menino aponta a igreja. - "Ali, na rua da matriz. Ele mora com a família". Encontraríamos, em várias oportunidades, a mesma designação do pessoal do município: êle. Todos apontavam Chico, sem recorrer ao nome. Êle só podia ser êle. - "Minha irmã foi curada por êle".

Ei-lo aqui, diante de nós. Veio a pé da fazenda e em sua companhia um senhor do Rio, que algumas vêzes vem passar semanas com o medium. - "Gosto de falar com êle. É um rapaz de cultura. Discute vários assuntos, lê um pouco de inglês e de francês. Devora os livros com fúria. Trouxe-lhe, há dias, "O homem, êsse desconhecido" e êle não gastou mais de quatro horas e meia para ler o volume gordo. É um prazer para êle. Seu único amor é o espiritismo".

Chico, perto de nós, não está ouvindo a palestra. Conversa com Jean Manzon. Devemos esclarecer que não dissemos qual a organização jornalística em que trabalhávamos. Queríamos ver se o espírito adivinhava. Não houve oportunidade.

Chico parecer ser um bom sujeito. Suas ações, mesmo fora do terreno religioso pròpriamente dito, são ações que o recomendam como alma pura e de nobres sentimentos. Vão dizer, os espíritas, que é natural: todo o espírita dever ser assim. Sei de um que não teve dúvida em abandonar a espôsa, o lar, sete filhos, um dos quais doente do pulmão.

- "Na rua, entre seus irmãos de seita, - disse-me um dos filhos - êle se mostrava esplêndido, generoso, cordial. Em casa, por pouco não botava fogo nas camas, à noite. Parecia um verdadeiro demônio. Guardava até alface no cofre-forte”.

Já o Chico não é assim. Sua nobreza de caráter principia em casa. Todos os seus irmãos e irmãs louvam a sua generosa e invariável linha de conduta, protegendo-os, hora a hora, dia a dia, através dos anos, trabalhando como um mouro. Um de seus sobrinhos sofre de paralisia infantil. Atirado a um berço, chora eternamente. Sòmente o Chico vai lá, fazer companhia ao garôto, às vêzes uma noite inteira.

- Chico!
- Que é, meu senhor?
- Você lê muito?
- Não. Só revistas e jornais.
- O outro disse...
-Disse o quê.
- Nada.

Ele nos olha, surpreso, quando a pergunta, como um busca-pé, sai correndo pela sala:

- Você, não pensa em se casar, Chico?
- Eu, casar? (Dá uma gargalhada) - Claro que não.
- Não namora?
- Nunca.
- Por que?
- Não há razões. Não gosto. Tenho outras preocupações. Ora, eu namorando... Tinha graça...
- Chico...
- Que é?
- É verdade que o padre desafiou você para um duelo verbal?
- Ele disse pra eu ir à igreja discutir. Não é lugar próprio.
- Você gosta do padre, Chico?

E ele, o ingênuo e feliz Chico, respondeu:

- Ué, eu gosto do padre, mas ele não gosta de mim.
- Chico...
- Que é?
- Onde estão suas mensagens?
- Um irmão levou tudo, em vista de tantas complicações.
- Você vai ao Rio?
- Até agora, nada resolvemos. Possìvelmente, mandarei uma procuração.

Numa estante, os livros de Chico. Versos de Guerra Junqueiro, Tolstoi e uma porção de autores mortos. Na sala do lado está a mesa onde êle recebe as mensagens. Uma papelada branca, pronta para ser coberta pelas mensagens do outro mundo. Sexta-feira houve mais uma sessão, desta vez presidida pelo chefe do executivo municipal. Humberto de Campos não compareceu mas o Emanuel, guia de Chico, lá estava. Quem é Emanuel? Um romano que existiu na mesma época de Jesus e conta um mundo de coisas interessantes sôbre a terra, naqueles tampos de há dois mil anos.

- Ele dita?
- Vou psicografando as mensagens. Há outros mediuns, como um norte-americano, que ouve as vozes dos espíritos tão alto que os presentes também escutam. Eu ouço. Os outros, que estão perto, não.
- Chico...
- Que é?
- Já teve oportunidade de falar com espírito de homens célebres?
- Homens célebres?
- Napoleão, para um exemplo, já falou consigo?
- Que eu saiba, não. Os assuntos bélicos não são freqüentes, nas mensagens que recebo do além. Há seis anos, entretanto, meu guia Emanuel previu os principais acontecimentos que hoje revolucionam a terra. Ele disse: - "A vitória da fôrça é fictícia".

O cavalheiro do Rio acode:

- E o próprio Chico, meses antes, previu a queda da Itália. Ele disse, categòricamente, que a Itália seria a primeira a cair. E a Itália foi a primeira a cair.

Pedro Leopoldo é a cidadezinha de uma rua grande e uma porção de ruas pequenas, convergindo para ela como servos humildes do rio principal. A casa de Chico é uma das melhores do lugar. Três quartos, sala e cozinha. O banheiro é lá fora, no fundo do quintal, ao lado do galinheiro.

Chico se levanta de madrugada e vai dar milho às galinhas. Depois, sua irmã solteira faz o café, que êle toma com pão dormido, porque o padeiro ainda não chegou. Apanha a pasta de documentos da fazenda federal, e vai andando pela estrada, ainda coberta pela neblina. Volta para almoçar às onze horas. O expediente se encerra às dezoito horas, mas Chico, nestes dias de maior trabalho, faz serão.

Sua vida é frugal. - "Quero que compreendam o seguinte: não vivo das mensagens de além-túmulo. Tenho necessidade de trabalhar para sustentar minha família. Se quase me dedico inteiramente a receber as comunicações, ainda se entende. O pior, entretanto, é a onda de gente que vem do Rio, de São Paulo e de todos os Estados".

- Peregrinos?
- Mais ou menos. Não posso deixar de recebê-los, pois fico pensando que vieram de longe e necessitam de consôlo. Isto leva tempo, toma tempo. Como se não bastassem essas preocupações, o telefone interurbano não pára dia e noite. - "Chico, Rio está chamando... Chico, Belo Horizonte está chamando... Chico, São Paulo está chamando... Chico, Cachoeira está chamando..." Evito atender, mesmo constrangido. Meu Deus! Eu não quero nada, senão a paz dos tempos antigos, o silêncio de outrora. Quero ser de novo aquêle Chico sossegado e tranqüilo que apenas se preocupava com as coisas simples...
- Impossível a viagem de volta...
- Impossível? Não, não é impossível. Eu voltarei a ser aquêle sossegado Chico. Não tenha dúvida.
O repórter imagina, a essa altura, que ele acredita na possibilidade de suas comunicações, com o além serem repentinamente suspensas. Vai perguntar ao Chico, mas uma senhora de cor negra entra na sala, carregando um benjamim de olhos assustados.

- "Trago para o senhor, Seu Chico..."

Ele segura com trinta mãos, cheio de cuidados, o bebê e o bebê faz um berreiro dos diabos, agita as pernas, sacode as pernas dentro da prisão dos braços de Chico. Ele sorri e devolve o menino à mãe.

- Meu sobrinho - explica o profeta Chico - é nervoso e fica dêste jeito. Sabe por que? Ele sofre de paralisia infantil.
- Não tratam dele?
- Não temos recursos. Já deixei claro que não recebo um centavo pelas edições dos livros que me chegam do além. Assino um documento autorizando a livraria da Federação Espírita Brasileira a editá-los e, sòmente após ficarem impressos, recebo uns cinco ou dez exemplares, para dar aos amigos.

Vamos atravessando a sala e entramos num dos quartos. Na parede, prateleiras repletas de livros. Remédios à base de homeopatia, que Chico recomenda. Não sei porque os espíritos manifestam estranha aversão pela alopatia e suas drogas, receitando sempre combinações homeopáticas. Perto dos vidros, um armário cheio de livros. As obras de guerra conta a Santa Sé, assinadas por Guerra Junqueiro, ainda em vida. Os livros de Flammarion e de Alan Kardec, mas não os psicografados, misturados com volumes de propaganda anticlerical. Na parede, dependurado, um velho pandeiro.

- Quem toca pandeiro nesta casa?

Chico sorri o sorriso beatífico e diz que não é ele.

- Alguns espíritos?

O sorriso beatífico desaparece.

- Os espíritos não tocam pandeiro.

Saímos para a rua, hoje, sábado movimentado. O povo de Pedro Leopoldo passeia diante da Igreja que domina de forma esquisita a casa do humilde psicógrafo que Clementino de Alencar, certo dia, foi roubar de sua vida serena há dez anos. Hoje, Pedro Leopoldo é a Jerusalém do credo de Kardec. Já tem hotel e telefone. O povo de lá, por estranho que possa parecer a quem não conhece pessoalmente o nosso amigo Chico, revela invariável amizade. Será orgulho pela celebridade que ele deu ao município? Sim, porque antes de Chico, Pedro Leopoldo nem existia nos mapas de Minas Gerais. Gostam dele, de seus modos, de sua cara asiática, onde um dos olhos empalideceu sùbitamente, como um farol apagado em pleno caminho da luz.

A cidade tem uns treze mil habitantes, contadas as aldeias próximas, mas, espíritas, uns quatro ou cinco. Todos apreciam Chico, gregos e troianos. Gostam, mas preferem não rezar o seu catecismo. Ele não se importa. Não procura convencer ninguém à força de seu estranho e discutido poder. Quando a carta precatória, intimando-o a depor, chegou a Pedro Leopoldo, Chico leu devagarinho e abanou a cabeça. - "Eu não posso mandar uma intimação judicial às almas!" E não deu mais importância ao caso.

Até à volta, sereno Chico. De todas as pavorosas complicações, você é o menos culpado. Parece uma caixa de fósforo num mar bravio. Uma velha beata de Pedro Leopoldo me disse que isto é castigo: - "Castigo, sim, nhô moço... Antão, êle telefona pro inferno e manda chamar os espíritos e depois num quer se aborrecer?"

Já o trombonista de Pedro Leopoldo deve pensar diferente: - "Por que será que o Chico só sabe receber mensagens escritas? Por que não recebe músicas de Beethoven, de Chopin, de Carlos Gomes?"

Ele, o moço amável de Pedro Leopoldo, não dá maior atenção aos comentários e vai levando como pode a sua vida. É pena, entretanto, que êle não tenha as qualidades artísticas que vão além do terreno literário. Se fôsse assim, Pedro Leopoldo teria, senhores, não apenas o psicógrafo Chico, mas também o músico Chico, o pintor Chico, o profeta Chico. Isto mesmo: o profeta Chico.

O Cruzeiro - 12 de agosto de 1975 - Texto de David Nasser e fotos de Jean Manzon.

Fonte: Memória Viva apresenta: O Cruzeiro.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Uma poeta itajaiense

Falar de Itajaí, Santa Catarina, é muito fácil. É a terra das dezenas de praias, é o porto exportador, das famílias tradicionais e grandes vultos históricos. Agora tento descrever uma colega minha do curso de Letras da UNIVALI em 2005. Mas essa menina mandou-me a biografia. Poetisa (ela, não gosta. Ela diz que o termo "poetisa" é inerente, é feio) é poeta dos pés à cabeça.

Começou, com suas pequenas economias, fazendo edições limitadas para expor suas poesias. O talento também ajudou e aí, tudo deu certo.

"Fernanda Mazzetto Moroso, nascida a 18 de maio de 1983, sob o signo de touros, na cidade de Ponte Serrada (SC), fixou suas raízes em Itajaí (SC) em 1997. Desde criança, mostrava agrado às letras. No ano de 1994, com 11 anos, escreveu seu primeiro livro, como uma espécie de passatempo: A vida dos brasileiros no ano de 1994. Mas foi aos 16 anos que teve sua primeira publicação. Participando do primeiro concurso realizado pela Associação dos Magistrados Catarinenses, em outubro de 2000, obteve a colocação do 11°lugar com o conto “Fio Gasto”, concorrendo com juízes e desembargadores.

Em 2001, participou novamente do mesmo concurso com a crônica “Um feito de sentidos” e obteve a colocação do 5°lugar. Em fins de 2001, Fernanda publicou o seu primeiro livro intitulado Um feito de sentidos (poesia). Durante todo o ano de 2002, publicou mais duas obras: Eu e você: um grande amor (poesia), Pensamentos (livro de bolso).

A jovem escritora sempre publicou suas obras de forma independente, através de patrocínio. Ainda em 2002, Fernanda lançou a série Um pouco de tudo – Para todos lerem, que formava um livro por mês, de 40 páginas aproximadamente. Um pouco de tudo por serem textos diversos, poesia, crônica, conto, mensagem e pensamentos, Para todos lerem, pois, eram livros sem idade, dizia ela. A série permaneceu atuante por dois anos e quatro meses, rendendo-lhe mais de trinta títulos.

Em julho de 2003, Fernanda ingressou na Academia Itajaiense de Letras, ocupando a cadeira de número 34, cujo patrono é o poeta Hermes Guedes da Fonseca. Atualmente, Fernanda é a Vice-Presidente da AIL, gestão 2007 a 2009.

Em fins de 2004, lançou Os Sentimentos de Todos os Dias (poesia). E em 2006, lançou seu primeiro livro em prosa: Diário de Crônicas e Outras Histórias.

Formou-se em Letras pela Universidade do Vale do Itajaí em dezembro de 2007. Foi colunista do jornal Diário da Cidade (de Itajaí), de dezembro/06 a dezembro/07; atividade que abnegou por conta de seus novos estudos no Rio de Janeiro, cidade onde mora atualmente."

A escritora Fernanda M. Moroso lança neste sábado (04/11), o livro "Diário de Crônicas e Outras Histórias", às 19 horas, no Espaço Cultural Angeloni, que fica na Rua Brusque, 358, em Itajaí. O livro é patrocinado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. O livro, contém histórias criadas pela autora baseadas no cotidiano, contendo mensagens do dia a dia.

É um livro para quem deseja uma descontraída leitura e também fornece histórias vividas pela própria escritora, que busca sempre expandir sua cultura literária.Divide-se entre crônicas e histórias, e tem como finalidade mostrar que, mesmo na correria da vida dos homens é possível encontrar a arte mais bela de todas: a de viver. A de saber viver com as lágrimas que se afundam dentro da alma, como também com as lágrimas que se extravasam numa boa gargalhada.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O catarinense Nuno Roland

Reinold Correia de Oliveira, o Nuno Roland (1/03/1913 – 20/12/1975) foi um dos grandes cantores da época de ouro do rádio brasileiro. Natural de Joinville, SC, começou a cantar profissionalmente em 1931 num cassino de Passo Fundo, RS e depois em Porto Alegre. Durante sua passagem pelo Rio Grande do Sul conheceu Lupicínio Rodrigues, de quem se tornou amigo.
Em 1934, seguiu para São Paulo onde fez grande sucesso se apresentado inicialmente na Rádio Record e depois na Rádio Educadora Paulista. Foi em São Paulo que adotou o nome artístico de Nuno Roland.

Em 24 de agosto de 1934, gravou na Odeon seu primeiro disco com as canções Pensemos num lindo futuro e Cantigas de quem te vê, de Ulisses Lelot Filho. Atuando principalmente como crooner de orquestras, passou a cantar vários gêneros musicais, inclusive estrangeiros.

Em 1936 mudou-se para o Rio de Janeiro onde assinou contrato com a Rádio Nacional, estreando na inauguração dessa emissora em 12 de setembro daquele ano.

Apesar de sua presença constante no rádio e no disco, só alcançou o sucesso em 1947, com a marcha carnavalesca Pirata da perna de pau, de João de Barro, gravada na Continental. Nessa gravadora, viveu a melhor fase de sua carreira, em que lançou os sucessos Fim de semana em Paquetá, Tem gato na tuba (ambas de João de Barro e Alberto Ribeiro), Tem marujo no samba (João de Barro), em dueto com Emilinha Borba, Lancha nova (João de Barro e Antônio Almeida) e os hinos dos clubes cariocas Botafogo e Olaria, da série composta por Lamartine Babo.

A partir dos anos de 1960, declinou sua atividade profissional, gravando esporadicamente.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Quiosque 15

Há um quiosque aqui em Balneário Camboriú, mais exatamente de número 15 (são barzinhos no calçadão da Avenida Atlântica, onde a gente escuta o mar e musiquinha tipo bate-estaca) onde a paixão de alguma coisa bate de frente com uma outra paixão, que não deixa de ser parecida... Não leitores, não é algo parecido com romance ou coisa parecida. É realmente, desculpem-me, a paixão pelo futebol! Então este quiosque chama-se Brasil! Porque é assim o brasileiro, defendendo o seu time, enquanto toma sua cervejinha, rindo e tirando sarro do seu amigo, torcedor de um outro time. Isso não existe no voley, no tênis, no golfe (golfe?) ou no basquete.... tem que ser futebol, tem que ser Vasco, Flamengo, Inter, Fluminense, São Paulo, Santos, Sport Recife e mais uma centena de times, mas times de futebol! Abaixo algumas fotos do "quiosque encantado"... rs ...rs...rs:

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Aqui exceção na paixão futebolística. Na foto o seu Túlio apaixonado por "long plays" (tem a maior coleção desses discos antigos aqui em BC). Mas também acompanhando o futebol...

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Nesta foto o gerente do quiosque futebolístico: o Lincon... botafoguense roxo!

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Finalmente, o Nicholas (tricolor paulista), Túlio Wolwerine (flamenguista) e eu, Ever, humilde torcedor do Peixe. E querem saber: o resto das fotos (as melhores) ficaram uma droga! Tenho que comprar uma câmera decente. Para provar o amor do brasileiro ao futebol (isso é desnecessário, tudo mundo sabe disso, mas achei uma jóia da MPB e tenho que compartilhar isso) apresento abaixo um documento histórico que morri de tanto rir, quando escutei (apertem ali embaixo do passarinho do lado direito):

No boteco do José (marcha/carnaval, 1946) - Wilson Batista e Augusto Garcez

Linda Batista

Vamos lá
Que hoje é de graça
No boteco do José
Entra homem, entra menino
Entra velho, entra mulher
É só dizer que é vascaíno
Que ali tudo lelé

Solta foguete até de madrugada
Canta-se o fado bebendo a champanhada
Segunda-feira só abre por insistência
Quando o Vasco é campeão
Seu José vai à falência!

Vamos lá
Que hoje é de graça
No boteco do José
Entra homem, entra menino
Entra velho, entra mulher
É só dizer que é vascaíno
Que ali tudo lelé

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A história de Auta

Nasci na cidade de Balneário da Barra do Sul, Estado de Santa Catarina, no dia 31 de Janeiro de 1937, tenho hoje 71 anos. Sou de uma família de oito irmãos, sendo cinco mulheres e três homens.

Aos quatro anos perdi minha mãe, que faleceu com trinta e seis anos. Meu pai após nove meses de viúvo, casou-se com a cunhada que também era viúva e tinha três filhos menores.

Após o casamento do meu pai viemos morar em Guaramirim-SC, onde ingressei na escola e fiz o primário com uma ótima professora que até hoje tenho na memória. Mudamos para Joinville-SC, morei apenas um ano, pois meu pai contraiu um câncer no esôfago e veio a falecer com quarenta e nove anos, no dia 07 de Julho de 1952. Tendo eu apenas quinze anos.

Amava muito meu pai, por não ter mãe meu apego por ele era maior, uma vez que ele me protegia demais, devido ao fato de eu ter bronquite.

Conhecia uma irmã Franciscana, minha professora de catecismo em Guaramirim, que hoje chamamos de catequese. No mesmo mês do falecimento do meu pai esta irmã me convidou para vir morar com ela, pois a mesma havia aberto uma casa de meninas em Itajaí. Foi naquele momento o maior presente que recebi, eu não queria ficar com a madrasta, como eu chorava muito pela morte do meu pai, a madrasta disse: “Vou te levar para casa das irmãs franciscanas, não posso ficar contigo dessa maneira sempre chorando”.

No dia 24 do mesmo mês, chegamos na frente da dita casa. Quando minha madrasta leu: “Asilo Dom Bosco”, espantou-se com o nome e disse: “Vamos de volta para casa, aqui não ficas, os teus irmãos vão falar que teu pai faleceu e eu te coloquei num asilo. Moço toca esse trole, que vamos para a agência comprar passagem.” Eu gritei fortemente: “Eu quero ficar aqui”.

Diante da minha insistência ela falou: “Então vamos ver como é isso aí”. Batemos na portaria, veio a Irmã nos atender. Fiquei encantada com seu atendimento. “Você vai ser uma menina feliz aqui na nossa casa”. Disse a irmã.

Durante três anos trabalhei na limpeza, cozinha e as irmãs gostavam do meu trabalho. Procurava fazer tudo bem feito.

Após esse período chegou um senhor que todas nós gostávamos muito. Seu Silveira Junior e disse: “Irmã vou arrumar um trabalho para essa moça, o jeito dela me agrada”. Eu já tinha dezoito anos, ele falou comigo, eu expliquei que eu era simples e humilde, então ele disse que haveriam pessoas para me ajudar.

Concordei e comecei a trabalhar dia 01 de Julho de 1955. Melhorou bastante, já tinha meu dinheirinho, isso era importante. Fui trabalhar na Pátria Cia de seguros.

Nesta época eu morava no asilo, trabalhava fora e minhas amizades eram as pessoas da própria igreja. Foi então que conheci um jovem começamos a namorar e noivamos. Padre Bertolino Schilikimann, como coordenador do asilo, ao saber que eu estava noiva disse: “Você tem que deixar esta casa”. Onde eu prontamente respondi: “Isso só a irmã decide, aqui é minha casa”.

Ao chamar a irmã, conversamos sobre minha permanência na casa. A mesma respondeu ao Padre Bertolino: “De jeito algum, vou fazer a festa de casamento dela aqui no asilo”.

Assim aconteceu, dia 30 de setembro de 1961, casamos. Fui viver uma vida a dois que foi muito e continua sendo maravilhosa. Temos 3 filhos, 2 homens e uma mulher. Que são maravilhos . Temos 4 netos lindos demais!

Esta é um resumo da minha história. Mesmo com as dificuldades, agradeço os momentos felizes e me considero uma pessoa FELIZ!

Obrigada a todos!

Auta Coelho

domingo, 23 de março de 2008

Meu nome é Brasil

Meu caboclo (canção, 1942) - Laurindo de Almeida e Junquilho Lourival
Interpretação de Orlando Silva--clique para ouvir amostra da música

Caboclo ligeiro, valente, cismado
Tostado do sol
Que és destro na flecha
No tiro, no laço, na rede, no anzol
Caboclo que avanças nas curvas enganosas
Dos igarapés
Que as onças ferozes
Brincando intimidas
Caboclo, quem és?

Caboclo que em cima de frágil jangada
Por mares além, navegas cantando
Saudades profundas dos olhos de alguém
Caboclo que afrontas os mares bravios
O duro revés, caboclo responde
Teu nome ligeiro, caboclo, quem és?

Caboclo que em plena cochilha distante
Nos pagos ao luar, que saltas no lombo
De um potro rebelde, risonho a cantar
E danças o samba batido ao compasso
Dos teus próprios pés, caboclo responde
Teu nome ligeiro, caboclo, quem és?

E o forte caboclo, fitando o horizonte
Responde viril :
Meu nome é o mais lindo dos nomes do mundo
Meu nome é Brasil!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tutu Marambá

Em 1929 Joubert de Carvalho mostrou para Olegário Mariano as melodias para dois poemas seus, o Cai, cai, balão e Tutu Marambá, gravadas por Gastão Formenti, dando início a uma parceria de 24 composições.

Tutu Marambá (canção, 1929), Joubert de Carvalho e Olegário Mariano

Tutu Marambá não venhas mais cá
Que o pai do menino te manda matar...

No seu berço de renda
Com brocardo de oiro
Os olhinhos redondos
De tanta alegria!
Ele olha a vida
Como quem olha um tesoiro
Meu filho
É o mais lindo dessa freguesia!


Gastão Formenti

O filho da coruja
A boquinha em rosa
A mãozinha suja
Com os dedinhos gordos
Já dá adeus!

Fala uma língua que ninguém compreende
Toda a gente que o vê se surpreende
Tão bonitinho
Benza Deus!

É redondo
Como uma bola
O seu polichinelo
Como um grande riso
A única cousa que o consola:
Meu filho é o meu melhor sorriso...

De noite clara
Anda lá fora
O luar entra no quarto mais lindo
Com a expressão angélica de beijar
Ronda o berço
O menino está dormindo
Então a vó de maldizente
Vai cantando no finalmente:

Tutu Marambá não venhas mais cá
Que o pai do menino te manda matar...

BC em término de temporada


BC em término de temporada, upload feito originalmente por Blog do Papa-Siri.

Mais uma fotinha aqui da "terra da muvuca". Balneário em término de temporada. Aliás, o termo "temporada" aqui é relativo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Zé Carioca, o Papagaio

Moreira da Silva

Zé Carioca (samba, 1959) - Zé da Zilda (José Gonçalves)
e Zilda do Zé (Zilda Gonçalves)

História de papagaio
Eu conheco bastante
Vou contar nesse instante uma bem interessante
Quando eu cheguei aqui
Fui tomar um café
Na Praça Tiradentes
No botequim do seu Vicente
Vi um pássaro verde
Em cima de um palanque
Que eu não conhecia
Eu perguntei a freguesia
Me disseram que era
O papagaio Zé Carioca

Professor de português
(Fala francês, italiano e até inglês, um bom freguês)
Ele ficou meu amigo,
E me levou consigo a uma gafieira
(Onde eu sambei a noite inteira)
De madrugada uma dama fuleira fez um tempo quente
E o papagaio pulou na frente
Deixa comigo que eu sou carne de pescoço
Quem mexer com meu amigo tem que mastigar um osso
Nao tenha medo isso é café pequeno eu resolvo so
(Pulou pra trás e arrancou o paletó, meu Deus que nó
eu vou fugir, pra Maceió, com minha vó)
E, mas de repente a polícia chegou e o baile acabou
E todo mundo se pirou
E o papagaio saiu debaixo da mesa todo rasgado
Completamente depenado
Os dançarinos ficaram com pena de ver seu estado
(Disseram: coitado)
Ele saiu gingando se rebolando todo cheio de visagem
É dos pelados que elas gostam mais
É dos depenados que elas gostam mais.


sábado, 19 de janeiro de 2008

BC na parte norte


Balneário Camboriú - Parte norte, upload feito originalmente por Blog do Papa-Siri.

Edu da Gaita

Edu da Gaita (Eduardo Nadruz), de ascendência síria, nasceu em Jaguarão, RS, na fronteira com o Uruguai, em 13.10.1916, e faleceu em 23.08.1982, na cidade do Rio de Janeiro. Era o primogênito de 3 filhos. Seu pai desfrutava de boa posição na cidade como arrendatário de um cinema.

Em 1925, foi estudar em colégio interno de padres, na cidade de Pelotas, o São Luiz Gonzaga. Nesse ano , o representante local das famosas gaitas Hohner, da Alemanha, promoveu entre a criançada um concurso e o menino Eduardo, dentre os mais de 300 concorrentes, ganhou o primeiro prêmio, sem que a vitória significasse para ele algum interesse particular pelo instrumento ou pela música.

Continuou seus estudos ginasianos em Porto Alegre e, como tantos brasileiros, seu pai não conseguiu escapar da crise mundial. Eduardo pouco colaborava, a ponto de abandonar os estudos e levar uma vida sem definição. Seu pai entendeu que era chegada a hora dele trilhar um rumo mais responsável e esse rumo apontava para São Paulo: "São Paulo é uma grande cidade. Lá ele vai aprender a ser gente!"

Deu 300 mil-réis ao filho, que embarcou para Santos num Ita, o Itassucê. Como tocasse razoavelmente plano de ouvido, ganhou do comandante as passagens com a condição de tocar durante a viagem. Em Santos permaneceria poucos dias sem conseguir emprego. Em São Paulo, para onde foi em seguida, pretendia trabalhar na rua Vinte e Cinco de Março em alguma loja de comerciante árabe, mas também nada arranjou.

O ano era de 1933, logo depois da Revolução Constitucionalista, e o fato de ser gaúcho precisava ser escondido para não prejudicá-lo, pois os paulistas ainda estavam muito ressentidos com a derrota.

Na pensão, por falta de pagamento, foi avisado de que, se não acertasse as contas, seria despejado em 15 dias. Andando pelas ruas em busca de uma saída, na ladeira da avenida São João, viu alguém tocar gaita e passar o pires. Lembrou-se então dos seus tempos de pelotas e do concurso de gaitas. Sentiu que esse podia ser um meio para minorar sua situação. Não tinha porém o instrumento, ou melhor não tinha a gaita e nem a "gaita" para comprá-la.

Perto ficava a Casa Manon, loja de músicas e instrumentos. O gerente queixou-se a ele de que as gaitas não atraíam compradores e o estoque estava encalhado. Eduardo teve a idéia de propor-lhe um trato: ganharia uma porcentagem por gaita que conseguisse vender. Foi então para a porta da loja e começou a tocar. Resultado: não demorou a vender aos passantes 24 gaitas, com direito à porcentagem e uma gaita para si.

E assim Eduardo foi levando a vida na capital paulista, a tocar gaita e a fazer o que aparecesse, inclusive sendo camelô. Chegou a tocar na Rádio Cruzeiro do Sul. Aí resolveu partir para o Rio de Janeiro, onde chegou no Sábado do carnaval de 1934. Sem revelar que era gaúcho, foi à Rádio Mayrink Veiga em busca de uma oportunidade junto a César Ladeira, diretor-artístico da mesma, que se notabilizara em São Paulo como o "speaker" da Revolução Paulista ao microfone da Rádio Record.

César o aceitou e o escalou para tocar no programa Desenhos Animados. Só que não gostou do seu nome Eduardo Nadruz, nada artístico, e o apresentou como Edu e Sua Gaita. O "da Gaita" viria bem depois. Pouco duraria esse seu início radiofônico, porquanto seu repertório não passava de 2 tangos e 1 rancheira.

Eis Eduardo der volta às mesmas dificuldades, com a diferença de que passou a levar a gaita a sério, estudando sem parar, embora sem nunca ter aprendido a ler música, que compensava com o ouvido absoluto de que era possuidor. O grande empecilho é que as gaitas encontradas no Brasil não dispunham de recursos e ele pressentia que, em algum lugar, devia haver modelos mais avançados.

Então, em 1939, dar-se-ia o verdadeiro início de sua carreira. Conversava com o pianista Nonô, no Café Nice, quando chega o cantor e violonista Fernando (de Albuquerque), que havia chegado há pouco de Nova Iorque, onde estivera com a Orquestra de Romeu Silva na feira Mundial.

Fernando tinha começado na casa Edison (Odeon) nos anos 20. Pois fernando contou aos presentes que havia trazido de Nova iorque uma gaita diferente, com uma "chave". Edu, vivamente interessado, não sossegou enquanto Fernando não foi buscar a tal gaita. A "chave cromática" era tudo o que ele vinha imaginando e correspondia às teclas pretas do piano. Emocionadíssimo, levou-a aos lábios e tocou como se a conhecesse há anos. Era a solução definitiva.

Ainda como músico de rua e bares, foi ouvido por Sílvio Caldas e por ele levado à Rádio Mayrink Veiga, onde permaneceria sob contrato por 10 anos, transferindo-se a seguir para a Rádio Nacional. Nesse mesmo ano de 1939, faz seu primeiro disco, na Colúmbia, neste CD., com Canção da Índia e Violino Cigano. Em Canção da Índia teve o acompanhamento dos Swing-Maníacos, ou seja, os irmãos Dick e Cyll Farney e Hélio Beltrão, futuro ministro no governo Figueiredo.

Sua carreira, a partir daí, foi se solidificando cada vez mais no rádio, cassinos e através de excursões. No seu instrumento, era o maior do Brasil, O Mago da Gaita. Por ser muito magro não escapava dos brincalhões: O Magro da Gaita.

O fim do jogo, em 1946, e fechamento dos cassinos, também não o pouparia. Uma excursão à Argentina, que deveria durar o tempo normal de 4 semanas, estender-se-ia por quase dois anos. Já estava casado com Hercília, com a qual teve um único filho, Eduardo como ele, médico.

Nessa ocasião, começou a cultivar o sonho de gravar o Moto Perpétuo, do célebre violinista e compositor italiano Niccolo Paganini (1782-1840), obra tida como impossível de ser executada em instrumento de sopro. Seu interesse em ser o primeiro no mundo a realizar a proeza foi despertado quando ouviu, na Mayrink veiga, o violinista João Correia de Mesquita fazer uns exercícios com a música durante um ensaio.

Não foi difícil para Edu aprender os 150 compassos sem pausa do Moto Perpétuo, mesmo não lendo música, mas se passariam 11 longos anos de obsessivos estudos até que se sentisse pronto para gravá-lo. O público sempre teve, desde o início, conhecimento desse seu objetivo. Assim, em 1956, quando chegou ao estúdio da Continental, havia jornalistas para acompanhar o grande acontecimento e observar se não haveria alguma montagem indevida.

O primeiro registro, com Leo Peracchi ao piano, saía sem qualquer falha até que alguém deixou cair ao chão uma máquina de escrever. Só na 39ª tentativa, já à noite, foi que o Moto Perpétuo resultou perfeito.

Sua façanha de tocar pela primeira vez, em todo o mundo, o Moto Perpétuo em instrumento de sopro seria mais tarde repetida, entre outros, por Paulo Moura ao saxofone e pelo trumpetista mexicano Rafael Mendez.

O perfeccionismo era o traço predominante do artista Edu, que se autodefinia como uma "pilha de nervos". Mas sempre foi bem e cordial amigo, capaz de frases como "Edu e sua gaita e o Láfer (ministro da Fazenda de Getúlio) com a "nossa".

Em 1960, participou da 3ª Caravana Oficial da Música Popular Brasileira, organizada por Humberto Teixeira e capitaneada por Joraci Camargo, da qual; fazia parte o Sexteto de Radamés Gnattali com Chiquinho do Acordeom. Apresentaram-se em Portugal, França, Itália, Inglaterra e Alemanha. Na Alemanha, aproveitou para conhecer a fábrica da Hohner em Trossingen. Ao examinar os modelos, tocou uma parte do Moto Perpétuo. Foi o bastante para a direção presenteá-lo com uma coleção de gaitas.

Nunca quis se radicar e fazer carreira no exterior. Nacionalista, entendia que no Brasil podia fazer mais por sua cultura. A própria gravação do Moto Perpétuo continha o desejo de mostrar ao mundo que os brasileiros eram gente de talento. Seu sonho era também provar que a gaita merecia uma cátedra nas escolas de música por ser um instrumento completo, definido.

Não há dúvida de que, mais do que qualquer outro, conseguiu demonstrá-lo, tanto que a história da gaita, no Brasil, pode ser dividida em antes e depois dele (Texto de Abel Cardoso Júnior).

Fonte: Revivendo Músicas.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Zé Carioca

Zé Carioca (José do Patrocínio Oliveira), instrumentista, nasceu em Jundiaí SP em 11/02/1904 e faleceu em Los Angeles, Estados Unidos, em 22/12/1987. Já tocava cavaquinho, como amador, na época em que trabalhava como classificador de cobras no Instituto Butantã, de São Paulo SP.

Em 1929 foi convidado para tocar num programa regional, na estréia da Rádio Educadora Paulista (depois Gazeta), uma das primeiras emissoras brasileiras. Com o surgimento da Rádio Cruzeiro do Sul, em 1931, passou a atuar na Orquestra Columbia, dirigida por Gaó, trocando o cavaquinho pelo banjo, o que lhe valeu o apelido de Zezinho do Banjo.

No ano seguinte, César Ladeira levou-o para o Rio de Janeiro, para trabalhar na Rádio Mayrjnk Veiga, onde tocou ao lado de Nelson Souto, Pixinguinha, Garoto, Nelson Boi, Gastão Bueno Lobo e Britinho. Logo depois, acompanhou César Ladeira, quando este se tornou diretor artístico do Cassino da Urca.

Ali conheceu Carmen Miranda e, em 1939, foi para os EUA com a orquestra de Romeu Silva, na qual tocava violão, para cumprir temporada de seis meses no pavilhão brasileiro da Feira Mundial, em New York, participando do filme Serenata tropical, de Irving Cummings. No ano seguinte, apresentou-se. no pavilhão brasileiro da Feira de San Francisco.

Em 1941 assinou contrato com a Twentieth Century Fox e participou, ao lado do Bando da Lua e Carmen Miranda dos filmes Uma noite no Rio, de Irving Cummings, e Aconteceu em Havana, de Walter Lang, entre outros. Na Fox também dublou desenhos animados e conheceu Walt Disney, que, inspirado em sua figura, criou o Zé Carioca, personagem-símbolo do malandro brasileiro no desenho animado de longa metragem Você já foi a Bahia?.

Nos últimos anos, tocou no restaurante Marquis Martoni, em Hollywood. vivendo seis meses nos EUA e seis no Brasil, em São Paulo.

Centenário de nascimento

"No dia onze de fevereiro de 2004 será comemorado o centenário de nascimento de José Patrocínio de Oliveira, natural de Jundiaí, SP. Trabalhava no Instituto Butantã como classificador de cobras (mais tarde ele seria classificado como um dos “cobras” da nossa música) ao mesmo tempo que consolidava seu prestígio como instrumentista.

Freqüentador de rodas onde figuravam os nomes de Américo Jacomino (Canhoto), João Sampaio e Armando Neves, passa a ser conhecido por Zezinho, que era do banjo, cavaquinho, bandolim, violão e dos outros instrumentos que viria a dominar, como o violão tenor e a guitarra havaiana.

No período de 17/02 a 04/03/1928 foi confiado ao prestigiado violonista Canhoto a tarefa de organizar uma Orquestra Típica de instrumentos de cordas, constituída pelos melhores músicos de São Paulo, para se apresentar no suntuoso Salão de Automóveis da General Motors, evento este realizado no Cine Odeon que ficava a Rua da Consolação No 42.

Além de Canhoto, Os nomes de Zezinho, Mota, Carlinhos, Armandinho Neves e João Sampaio eram os de maior destaque. Participava também desta Orquestra um menino franzino de apenas doze anos, empunhando orgulhoso o seu banjo. Este menino era Aníbal Augusto Sardinha( Garoto), que tinha agora em Zezinho seu novo ídolo e mestre. Este foi, ainda que involuntariamente, o grande propulsor da vitoriosa carreira de Garoto que, numa entrevista, confessou: “Devo meu progresso ao Zezinho, pois queria tocar sempre melhor do que ele...”.

Entre 1929 e 1931, pela gravadora Columbia, Zezinho participa em cerca de cento e vinte gravações (Infelizmente não é possível obter o número exato em função da inexistência das fichas técnicas) tocando seus instrumentos ao lado de nomes como João Pernambuco (10), Paraguassú (10), Jaime Redondo (8), Januário de Oliveira (19), Batista Jr (9) e sua filha Dircinha Batista (2), Eurístenes Pires (4), Stefana de Macedo (12), Jararaca (19), Lila Dias (4) e Elsie Houston (13) dentre outros.

Acompanhou ao violão (como segundo violão) a João Pernambuco em boa parte dos registros de sua obra como em “Interrogando”, “Reboliço” e “Sonhos de magia”. Com Stefana de Macedo participou como acompanhante do lançamento de diversas composições de Amélia Brandão Nery que seria conhecida mais tarde por Tia Amélia.

Quase ao mesmo tempo entra em cena uma orquestra com uma sonoridade diferente: “A presença do violino de Ernesto Trepiccioni e do acordeon de José Rieli dava um som romântico a esta orquestra, a rigor menos uma orquestra do que um conjunto instrumental...”, diria Ary Vasconcelos em seu História e inventário do choro.

Esta orquestra, complementada por Gaó (Odmar Amaral Gurgel) ao piano; Atílio Grany na flauta; Petit (Hudson Gaia) ao violão; Jonas Aragão no sax alto e Zezinho no bandolim é a Orquestra Colbaz que gravou na Columbia entre 1930 e 1932 cerca de vinte e seis músicas entre choros e valsas. A ampliação desta orquestra dá origem a famosa Orquestra Columbia, ainda sob a direção de Gaó.

1931 é o ano do grande concurso de música promovido pelo jornal “A Gazeta”, concurso este que motivou uma intensa participação da população de São Paulo (capital) que escolhia seus músicos favoritos, divididos por categorias, através de voto direto. Na categoria banjo, Zezinho obteve expressiva votação (117 323 votos), obtendo o primeiro lugar (nesta categoria Garoto ficou em sexto, com 9 746 votos).

Outros vencedores foram Gaó (piano), Alberto Marino na categoria violino (Trepiccione ficou em segundo e Nestor Amaral em quinto), Larosa Sobrinho (violão), Nabor Pires Camargo (clarinete) e Cárdia (bandolim).

César Ladeira, já no Rio de Janeiro e atuando na rádio Mayrink Veiga, atuava como um embaixador da musica paulistana, trazendo para a então capital da república os novos valores lá revelados. Desta forma aqui chegou Zezinho em 1933, passando logo a integrar o famoso regional da Mayrink.

Em 1936 é a vez de César Ladeira buscar uma turma da pesada; Aimoré, Garoto, Nestor Amaral e Laurindo Almeida. Estes três últimos participaram junto a Zezinho de uma grande aventura: Uma viagem a Europa a bordo no navio Cuiabá. Fizeram escala nos estados mais importantes do nordeste brasileiro antes de partir rumo a Lisboa, Porto, Amsterdam, Berlim e Paris onde por três meses divulgaram a nossa música. Em Paris não puderam desembarcar com os instrumentos musicais devido a alguma lei protecionista.

Assistiram então extasiados a uma apresentação do diabólico duo Stephan Grapelli (violino) e Django Reinhart (violão). Algo novo estava acontecendo ali em termos musicais e eles jamais seriam os mesmos após esta experiência, especialmente Garoto, que acabou por incorporar o fraseado de Django!

Voltam a Mayrink e depois de um breve retorno a São Paulo onde atua junto a Armandinho Neves e Antonio Rago no Regional da Record, Zezinho passa a integrar a Orquestra de Romeu Silva (muito bem reportado por Daniella Thompson) partindo então para os Estados Unidos em 1939 onde iriam se apresentar por seis meses na Feira Internacional de Nova Iorque. Zezinho reencontra seu amigo Garoto quando este, já famoso com seu violão tenor ( foi inclusive chamado de “homem dos dedos de ouro”), lá esteve com Carmen Miranda e o Bando da Lua.

A partir de 1940, Zezinho fixa residência em Los Angeles, já contratado pela Fox. Em 1941, Walt Disney com o papel de “embaixador da boa vizinhança” viaja pela América latina a pretexto de buscar inspiração para a criação de novos personagens. No Brasil, os cartunistas Luis Sá e J. Carlos ajudaram Disney a desenvolver a figura e a personalidade do papagaio “Zé Carioca”, “ personagem concebido para ser a síntese dos laços de amizade entre os estados Unidos e o Brasil”, em acordo com Sidney Ferreira Leite em seu excelente artigo publicado no Estadão em 01/12/2001.

Um problema persistiu por muito tempo: quem iria falar pelo papagaio? Por obra do acaso, Disney estava no mesmo estúdio que Zezinho pelos idos de 1943 e ao ouvi-lo falar percebeu na maneira gingada, malemolente, a voz ideal para o seu papagaio! Nasceu assim o Zé Carioca e o Zezinho, que passaria a usar o mesmo nome do papagaio, era o responsável por sua voz em inúmeros filmes como “Alô amigos” e “Você já foi a Bahia?”.

Este fato rendeu uma fortuna considerável ao Zezinho, que sempre se manteve ligado a musica, como integrante do Bando da Lua e com seu próprio grupo. Infelizmente acabou estigmatizado por conta de sua ligação com Disney (política da boa vizinhança) e com Carmen Miranda.

A casa de Zezinho, de acordo com seu amigo João Cancio de Povoa Filho, era um verdadeiro consulado brasileiro, não faltando ajuda a qualquer músico brasileiro que por lá se aventurasse. Que o diga o nosso violinista Fafá Lemos!

Com a morte de Carmen Miranda terminou o Bando da Lua, nesta altura completamente modificado em relação a sua formação original. Aloísio de Oliveira voltou ao Brasil onde desempenharia importante papel no marketing da Bossa nova e Zezinho lá ficou, com o fardo de seu apelido(Zé Carioca).

Nos seus últimos anos de vida passava seis meses em LA e os outros seis em São Paulo.Faleceu em22/12/1987 em Los Angeles."

(por Jorge Carvalho de Mello)


Aurora Miranda e Zé Carioca no longa-metragem Você já foi à Bahia?.

Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira; Zé Carioca (samba & choro).